Hoje sou padre


Falo e digo muito sobre muitas coisas, por vezes falo demais, falo disto e muito mais, nem sou padre poeta, nem faço do celibato a minha meta, mas sou padre eclesiástico.

E em tempos com um amigo, o Zé Marçal, o Zé Carlos, o Rui Rodrigues e o Bernardo, enquanto caminhávamos pelo sul de Espanha, deparei-me com um facto deveras interessante da língua Castelhana; o termo “padre” serve para definir pai! Assim como o termo “embaraçada” define grávida! Quão interessante é observar tais jogos linguísticos da língua de “nuestros hermanos”. Serão então os padres dessas vilas e cidadelas espanholas os pais biológicos dessas embaraçadas que caminham graves e pesadas com o rebento no ventre, dos quais apenas as mesmas conhecem o verdadeiro progenitor. Daí o grande embaraço! A língua é estranha, e na fecundidade, na virilidade, encontram-se em todas os idiomas termos estranhos com semelhanças ainda mais peculiares.

Pois hoje sou padre eclesiástico, e abomino todas as ordens contrárias às de Roma. Hoje, apenas hoje, sou padre que renego todos os preceitos semíticos, hoje e apenas hoje, venero os preceitos de São Pedro, das suas basílicas, dos seus altares, das suas estruturas fálicas adoradoras do divino. Hoje, venero o espírito indo-europeu de Roma, dos povos do Leste, dos ritos e mágicos significados do Império. Hoje, e apenas hoje, sou César, mas sou César senil, sem reinado, nem reino. Hoje sou padre eclesiástico, mas também sou homem humano de paz, que a muito custo venero esses preceitos do sul, a que denominam católicos, e que os crentes veneram em lágrimas de sangue: A adorada Fátima.

Hoje sou padre, rejeito esses pedreiros-livres e todas as suas doutrinas de liberdade, hoje confronto as ordens vigentes, esses que sempre conspiraram contra a supra autoridade do santo ofício, esses que diplomaticamente cumprimentam e toleram o santo catolicismo, mas que conspiram para a sua extinção, essas ordens que o grande Poeta Pessoa venerava e defendia, hoje sou eclesiástico, sou homem religioso, hoje sou padre, visto a batina, e entrego-me aos rituais da homilia, passo a palavra aos crentes.

Mas sou padre com mente aberta à sociedade, porque é que sendo padre tenho obrigatoriamente de votar nesses partidos de direita, autoritários e faccionários, cheios de aristocratas da sociedade regente e decadente. Hoje sou padre, visto a batina, prego o sermão, e professo a palavra do salvador. Hoje a apenas hoje, renego a mais elevada das heresias daqueles que sempre conspiraram contra o império cristão. O império que abraça o Cáucaso nos seus ritos, e nas suas crenças. Hoje sou padre douto, talvez senil, talvez incompreendido pelas sociedades vigentes que reinam e instalaram o poder e as posses como doutrina máxima da condição humana. Esse semita que criou a moeda, não é ele o maior dos pecadores? Não é ele o pecador primogénito. Meus caros fieis, ouvi a palavra do Senhor, pois o Senhor está convosco. Meus caros fiéis, renegai a doutrina que vigora por esse mundo ocidental, onde a moeda e o poder se alicerçam em valores nada condicentes à razão humana. Vede Eva, a primogénita, a mais bela das mulheres, vede a sua mágica fecundidade, vede a sua feminilidade, e vede que fruto trincou, vede como pecou, vede como uma tão bela e delicada mulher, se desvirtua de forma tão pérfida.

Vede, meus adorados e seguidores fiéis, como hoje sou padre, hoje venero Roma, hoje renego os preceitos do Ocidente e do Sul. Hoje adoro nosso Senhor, nosso Deus triangular, a nossa santíssima trindade, hoje leio o livro, leio a bíblia e dedico-vos todos estes preceitos. Hoje sou padre, sou padre espanhol, sou padre casto, celibatário, eclesiástico e professo através desta humilde homilia, a palavra da salvação.

Hoje rejeito os conspiradores, hoje rejeito a doutrina falsa do poder através da moeda, hoje rejeito os poetas falsos, que evocam duos de rimas, hoje abomino comunistas, abomino os laicos e descrentes, hoje para mim cubanos, revolucionários vermelhos são como farpas na garganta que tolero à força. Para mim, nossa senhora de Fátima, mesmo apesar do nome me parecer inconveniente, apenas a ela devo louvar, apenas a ela ofereço os meus préstimos, mas primeiro ao Senhor das altura, depois à nossa Senhora, e em terceiro lugar a sua Santidade, o papa. Quão querida é a língua em que redijo estes textos, ao associar o termo terno da paternidade da criança, ao sumo pontífice da mais alta instituição ecuménica, a Santa Igreja.

Meus caros fiéis, hoje sou padre senil, hoje sou casto, hoje sou celibatário, faço parte das ordens, mas apenas das religiosas, faço parte das ordens que professam a palavra da salvação.

Segui comigo o caminho da salvação do divino, pois hoje, e apenas hoje, sou padre.

Graças a Deus

Amén

Frade Filipe Pimentel

2 comentários:

  1. Um momento de delírio..., quem sou eu...
    Posso concluir que Deus te dotou com o dom da escrita, nela há fluir.
    Com respeito ao conteudo da pregação..., discordo! A Palavra de Deus revela-nos, que só através de Jesus Cristo, se alcansará a salvação!A Palavra também nos revela, um Deus trino, que asssenta na Pessoa de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Com respeito à pessoa da Sra. de Fátima e a Santidade o Papa, ainda não encontrei qualquer tipo de referência.
    Que a Sua força, graça e sabedoria se manifeste na tua vida, para que possas ser um instrumento da Sua vontade e, asssim se cumpra o propósito de Deus na tua vida! Um beijinho ana mi

    ResponderEliminar
  2. Obrigado pelo comentário cara Ana, é certo que não existem referências no livro Sagrado ao Papa e a Fátima, enquanto o primeiro é um regente de cariz religioso ancestral e que remonta à fundação da Cristandade, aquando da conversão do império Romano, já Fátima é um ícone do Catolicismo Português que surgiu, coincidência ou não, pouco tempo depois da instalação da República em Portugal, conhecida como anti-clerical. Devo concordar consigo, nem o Para nem Fátima são referências que estejam grafadas no livro Sagrado.
    Que Deus seja connosco.
    Saudações Cristãs

    ResponderEliminar