Carta de um crente a um Cristão


Prezado João Carlos Azevedo

Antes de mais queria agradecer-lhe bastante pelo seu contacto que se enquadrou na mensagem-e que me endereçou. Fez-me reflectir bastante sobre os princípios religiosos, transcendentais e metafísicos pelos quais me rejo e condiciono a minha vida.

Não se constranja em tratar-me por tu, pois não vejo qualquer impedimento retórico ou social em tais informalismos verbais.

Agradeço-lhe bastante também por ter dedicado algum tempo na leitura das minhas obras na língua portuguesa, pois encontrar alguém que o faça nos dias de hoje é, diria, quase raro, pois como presume, os jovens contemporâneos perdem-se muitas vezes nas frivolidades líricas da cultura e música de cariz anglo-saxónico.

Tento eu assim, prezar a língua camoniana, grafando nos papiros cibernéticos e convencionais alguma obra que creio, ter alguma qualidade literária.

Li na referência que me enviou o seu percurso individual a nível académico e pessoal e pareceu-me deveras um percurso interessante. Começou por ter uma educação católica romana, estudou Teologia, frequentou um seminário e posteriormente, questionou-se sobre todos os alicerces e edifícios teoricamente sagrados da Igreja católica romana, tendo aderido ao centro cristão vida abundante.

Se me permite, gostaria de tecer uma pequena missiva sobre a minha entidade enquanto ser humano racional e apaixonado pelas vicissitudes transcendentais e prosaicas.

Considero-me uma pessoa devota aos princípios em que acredito. Sou crente em Deus, e na Sua trilogia metafísica, omnipresença, omnisciência, e omnipotência, e acredito piamente nestes princípios. Acredito que o ser humano é uma mescla de sensações primárias que nos definem como animal e pensamentos puros abstractos que nos concedem a razão. É neste equilíbrio que encontramos a verdadeira alma humana, é esta ambivalência que nos define enquanto humanos.

A religiosidade sempre fez parte das histórias dos homens, desde tempos primordiais. A sensação faz-nos procurar Deus e um Messias, mas cabe à razão tecer tais argumentos filosóficos para os alcançar.

Procuro eu então encontrar-me neste equilíbrio de forças, os sentidos e os pensamentos. Acredito que um Deus todo o poderoso e bondoso na sua sacra e misteriosa doutrina reitera constantemente o equilíbrio universal, relegando para patamares desprezíveis os praticantes do mal, os déspotas e os maquiavélicos.

Apesar de não pertencer a nenhuma religião, sou baptizado, no entanto raramente vou às missas. No entanto confesso-lhe que em todos os templos, cristãos, muçulmanos, ou quem sabe judaicos, encontro um silêncio reconfortante, pois abstraio-me das vicissitudes impeditivas a uma vida casta e sagrada.

E apesar de ser um laico, não sou ateu. Procuro sempre reger-me por princípios de bondade, altruísmo e filantropia, procuro ser caridoso com o próximo, renegar os malefícios do capital e da moeda, tento não ser rancoroso com o outro, tento não procurar ser vingativo, procuro ser um bom companheiro para a minha namorada, ser um bom filho para os meus pais, cumprir com os meus deveres sociais e fiscais, enquanto cidadão, tento sempre reger-me por princípios de dignidade humana. No entanto confesso que, por ter sofrido diversas influências maléficas que muitas vezes fortemente me rodeiam, já me deixei envolver mesmo que efemeramente, pelos tentáculos do Satã. No entanto mesmo nessas situações, procurei sempre a redenção, praticando sobrepostamente a caridade e a solidariedade com o próximo, como acto sincero de redenção pelo arrependimento.

No entanto tenho um móbil, confesso-o caro João Azevedo. Todo o individuo para se sentir útil na sua vida pragmática e espiritual, necessita de ter objectivos na vida, seja seguir o caminho de Jesus e de Deus, seja amealhar fortunas, seja ter filhos e família, seja construir um império, seja ser feliz com as suas posses. Eu encontrei o meu, devo-o dizer.

E como poderá ler atentamente no meu blogue introspectivo, encontrei no império americano a grande maldade, o grande mal, que se rege apenas por princípios maquiavélicos despóticos, atrozes, primários, brutais, ateus, onde as mulheres abortam sem quaisquer constrangimentos, onde por mera folia tecnológica se lançam bombas atómicas sobre os oponentes, onde se orquestram secretamente doenças virais altamente contagiosas que ceifam milhares de vidas em todo o mundo essencialmente crianças e indigentes, onde se desenvolveu e proliferou o tabaco que mata metade da população portuguesa a nível mundial por ano, onde os homossexuais se exibem alegremente e se envolvem em actos perversos de sodomia, e são somente o maior império a nível mundial porque têm a maior e mais poderosa máquina bélica de todos os tempos. Proliferaram o motor de combustão interna, poluem o mundo a nível mundial e não ratificam os tratados mundiais e ambientais. Propagam o terror e as atrocidades.

No entanto, não se assuste, não sou nem nunca fui radical islâmico. Rejeito fortemente todos esses princípios bárbaros de propagar os ideários através do sangue do inimigo.

Identifico-me com Jesus de Nazaré. Se te baterem numa face, oferece a outra. No entanto, não deixarei de procurar sustentar os princípios do bem e da bondade contra as atrocidades maquiavélicas proveniente do novo mundo.

Baseio-me na pessoa da Gandi, que proliferou e transmitiu a palavra através da bondade, da paz, da humildade, da pobreza no que concerne à indumentária e ao modo de vida, não obviamente à espiritual, pois essa é creio eu, riquíssima. Gandi é uma referência para mim, um homem que manteve os seus objectivos e nunca fez uso da força nem da brutalidade para os alcançar.

E baseio-me também muito na vida de Jesus da Nazaré, que purificou a alma aos descrentes e converteu os gentios, convencendo-os através dos seus actos a receberem na paz os desígnios do Senhor. Concordo em grande parte convosco quando criticam os edifícios teoricamente sagrados da Igreja Romana, sabendo eu que a igreja de Roma sempre procurou também através dos séculos a hegemonia através do sangue dos infiéis, através das cruzadas, das chacinas dos outros povos não cristãos e das inquisições persecutórias àqueles que não professavam a sua doutrina.

No entanto relembro-lhe caro João Azevedo, que uma das correntes do protestantismo, o anglicanismo, ganhou soberania apenas porque um rei Inglês, depois de ter mandado assassinar algumas das suas mulheres, quis casar pela enésima vez; o Papa recusou-se, tendo os assessores eclesiásticos ingleses, sequiosos de soberania religiosa, incentivado o rei a formar a sua própria Igreja.

Procuro eu assim através da palavra, através da escrita no papiro divino cibernético, através da grafia no manuscrito convencional, através da paz, da salubridade espiritual, cultivar-me e difundir a minha mensagem de paz e caridade, no entanto procuro combater o império maléfico, sempre através da Palavra, escrita e oral.

Sou um homem dotado de sensações e abstracções racionais, é este equilíbrio que me define enquanto ser humano. Tento, como já ouvi ou li algures, cumprir criteriosamente as leis de Deus e dos Homens. O império maléfico tenta apenas cumprir os seus preceitos baseando-se na brutalidade e genocídio atrozes dos outros seres humanos, criaturas divinas, apenas procurando com isso saciar a sua sede de poder absoluto.

No entanto cabe-me reafirmar que procurarei sempre atingir os meus objectivos através da palavra Escrita e da Oração. Deus ajudar-me-á.

Nunca fui um leitor assíduo da Bíblia, embora já o tivesse feito, e creio que existe uma passagem que me marcou, que referia que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um homem rico entrar no paraíso. Como tal procuro renegar os malefícios semíticos do capital e todas as suas representações como as indumentárias de cariz executivo em que os indivíduos se aprumam numa arrogância atroz sobre os demais. Como tal tento levar uma vida humilde, mas rica a nível espiritual, e tal tento transmiti-lo na escrita.

Não me alongo mais caro João Azevedo. Agradeço-lhe bastante pela sua mensagem-e, que foi reconfortante para o meu ego literário, pediria-lhe apenas que me autorizasse a colocar esta mensagem que lhe envio, aquilo que refiro, no meu blogue introspectivo.

Muito obrigado caro João Azevedo

Com os melhores cumprimentos

João Pimentel Ferreira

Missiva de um plebeu literato, ao Nobel da Literatura


Prezado Saramago

Não sei se lerá o repto que lhe envio através desta humilde mensagem-e, mas se o fizer, e assim estou esperançado, devo-o dizer que me aprazerá bastante sabê-lo.

Temos algumas vicissitudes mundanas nas nossas rotas pessoais que têm pequenos denominadores comuns, no entanto no que concerne às datas de nascimento, existe uma diferença, considerada por alguns, abismal.

Nasci em 1980 e estudei na Escola Industrial Afonso Domingues, tendo sido discente também de um curso tecnológico. Também me tornei escritor, mas quem sabe devido à minha tenra idade, e não, modéstia à parte, carência de ímpeto literário apaixonante, ainda não consegui que as minhas grafias poéticas fossem assimiladas pelo domínio público.

Tenho uma obra poética profícua, mas as publicações são parcas. Não sei se assim seria no seu tempo, mas é-me bastante difícil financeiramente sustentar as publicações que efectuo. Por vezes sou burlado por editores que não cumprem os requisitos contratuais, e as que consigo publicar são extremamente onerosas.

Digo-o quase enraivecido pois pelo que li da sua biografia, o seu percurso pessoal também quase tangeu a indigência, passando por dificuldades enquanto novo. Pois eu não tenho possibilidades financeiras para publicar os meus livros, pois as editoras existentes cobram numerários sustentáveis apenas às mais altas aristocracias e aos estratos sociais que se situam no topo da pirâmide hierárquica da sociedade.

Enraiveço-me pois apercebo-me que a língua Portuguesa é dissolvida em todas estas frivolidades musicais e líricas de proveniência anglo-saxónica. São difundidas obras musicais e literárias de fraca qualidade, mas como têm proveniência estrangeira, são idolatradas pelo público jovem e pelas novas gerações.

Escrevo-lhe pois apesar de tentar sempre preservar a língua que herdei culturalmente pelas ínclitas e nobres gerações que me antecederam, não consigo publicar no meu país; o país cujo topónimo gerou o nome de uma das línguas mais faladas no mundo; as obras que vou tecendo interiormente e que grafo ocasionalmente no papiro pessoal e cibernético.

Em Portugal a publicação de uma obra é indecentemente onerosa. E eu teço as minhas obras na língua Portuguesa, como tal não quero recorrer a outros meios que não a minha pátria mãe.

Escrevo-lhe, pois encontrei algumas vicissitudes na rota pessoal do caro Saramago pelas quais já passei. Também provenho de um bairro humilde, no meu caso na cidade de Lisboa, também estudei na Afonso Domingues pois o meu percurso profissional seria supostamente meramente técnico, também já tive diversos trabalhos ditos menores, como electricista na construção do Atrium Saldanha, como apontador de obra, como mero e quase rude insersor de dados nos sistemas informáticos de uma empresa de telefones móveis, e também passei por um hiato quase desgastante de ausência de proficuidade literária.

Perdoe-me antes de tudo a iliteracia no que concerne ao acervo do prezado escritor a quem dirijo esta missiva, devo-lhe confessar que li apenas o Evangelho segundo Jesus Cristo, e tal leitura marcou-me. Não me chocou pois não sou um católico fervoroso, mas também, devo-o dizer prezado Saramago, que apesar da riquíssima literacia que a obra evidenciou, presumo que os devidos e enormes louros que a obra gerou, foi simplesmente por ser uma afronta directa ao catolicismo ortodoxo e conservador. No entanto denoto na obra uma elevada e inquietante riqueza de espírito por parte do seu autor, pois este, escreveu uma obra em que o Messias se substitui aos próprios autores clássicos e bíblicos dos evangelhos, escrevendo este último a sua própria versão dos factos.

Escrevo-lhe prezado Saramago, pois também eu queria publicar a minha obra, não quero fama nem notoriedade, quero apenas obter algum retorno literário, e não financeiro dos parcos ou profícuos escritos que vou tecendo. Quero apenas poder emancipar a minha obra sem quaisquer proveitos firmes no campo da notoriedade ou da moeda.

Quero continuar a ser um plebeu literato, tal como sou.

Mas publicar em Portugal, volto a dizê-lo é indecentemente oneroso. No entanto a língua em que escrevo, tem a raiz mais profunda no país em que vivo. E tal apraz-me.

Não sei se algum dia lerá este meu repto, estou esperançado que o faça, desejando-lhe as maiores felicidades por terras de Castela, e os meus mais sinceros parabéns pela sua obra de qualidade superior no domínio da língua camoniana.

Os meus mais sinceros cumprimentos

João Pimentel

Ignea Aqua


O primeiro gole arranha
O segundo gole assanha

O terceiro aquece
O quarto endoidece
O quinto entristece
Já o sexto enobrece

O sétimo é proibido
Ao oitavo é o alarido
O nono é divino
Ao décimo canta-se o hino

O hino da ebriedade
O hino da loucura
Arrebata-se a formosura
Evocamos a saudade

Questionamos os princípios
Evocamos a paixão
Damos os abraços ímpios
Nutrimo-nos de tesão

É assim o suco, da loucura
A água, que é ardente
Torna o clérigo, um descrente
Torna a casta, uma impura


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Escrito à mão numa noite ébria pelo bairro enquanto passeava com a minha musa e adorada Nádia