A metafísica da oração


Nada é tão belo como a verdade, só a verdade nos serve
          Boileau

É o Poeta um animal ou um ser divino?

Questionar-se-ão os caros leitores sobre a epígrafe do texto que apresento. Cada vez que escrevo mais, à medida que a idade avança e ainda sou trintenário, a escrita é mais prosaica e menos poética. A idade concede-nos a razão, a maturidade e a sensatez. As hormonas já não fulguram como nos tempos joviais da adolescência e o amor, funestamente inspirado pelos filósofos germanos, reduziu-se a uma abrangência tão redutora que funciona sempre em prol desse ente maior denominado espécie.

O poeta, como referi em tempos, é uma besta, um poeta é um animal, um poeta é uma POeTA quando a letra ‘o’ se pronuncia como a letra ‘u’ como no caso da palavra poeta. Um poeta é um animal sexual, sexista, sensual e que engrandece e torna magnânimo fenómenos meramente físico-químicos e biológicos tão redutores como o amor. O amor é na realidade aquela energia primária que faz com a espécie humana tenha continuidade. O amor é tão-somente aquele instinto primordial degenerado das hormonas e da nossa vontade de procriação. A espécie incute-nos a continuidade, somos apenas indivíduos unitários escravos da espécie. Tudo o que fazemos, fazemo-lo conscientemente crendo que estamos a elevar o amor, quando na realidade limitamo-nos a cumprir o que a espécie nos preconizou. Amamos não porque estamos puerilmente apaixonados, mas só porque a espécie considera que daremos à luz vigorosos e saudáveis novos seres. Quanto mais fecunda é a nossa união, mais intenso é o nosso amor. É por isso que nos atrai a juventude, a jovialidade, as mamas grandes nas mulheres, a coragem nos homens, as ancas delineadas nas mulheres, a musculatura nos homens, a sensatez nas mulheres, a ousadia nos homens, porque são tudo sinais indeléveis de proficuidade germinal humana que o nosso subconsciente reconhece. Inspiro-me em Schopenhauer que ando a ler. É realmente um filósofo grandioso e magno, mas bem sei que o Demo me fez ler este livro com o intuito de tornar redutor os meus magnos sentimentos poéticos. O livro não me surgiu do nada, o Demo presenteou-me com o livro e a minha curiosidade nata absorveu-o pois adoro absorver a cultura filosófica germânica.

Já sabemos que o poeta não é mais que um animal, não é mais que uma besta primária que age racionalmente para atingir os seus objectivos animalescos. É por isso que o homem executivo se exibe com um fato e gravata, é para demonstrar aos demais que é superior e que com esta superioridade social pode copular com o maior número de mulheres possível, tal como faz um pavão ao abrir as penas, ou como faz o bode da montanha quando exibe os seus austeros e viris chifres. O poeta apenas grafa de forma elaborada os sentimentos mais primários. O poeta apenas grafa para a posterioridade os sentimentos que a espécie lhe incutiu em tempos com um legado de sete milhões de anos. Mas quando é que houve o divino sinal?

Meu caro Schopenhauer, um poeta é mais que uma besta, pois nunca uma mosca escreveu um soneto.

Um poeta é a mais elevada consagração do divino pois concilia o lado bestial e animalesco do homem plasmado na natureza, com a mais pura, complexa, elaborada, labiríntica e poderosa mente humana. Por muito primário que eu seja quando redijo um soneto a uma mulher eslava, não me cinjo a colocar o falo erecto de fora da indumentária bem visível e a tentar estuprá-la em troca de um pedaço de carne quase putrefacta que havia caçado. Por muito primário que eu seja quando redijo uma sextilha em homenagem uma bela húngara, não me limito a sufocá-la e a insistentemente provocá-la com o intuito da cópula forçada em praça pública. Meu prezado Schopenhauer, eu sou muito mais que um animal que trilho os desígnios da espécie, eu enquanto ser humano sou o pilar maior do divino, pois sou um humano que concebe raciocínios abstractos, filosóficos e matemáticos, algo intangível para uma mosca ou para um bicho da seda, por muitos genes que tenhamos todos em comum. Sou um ser dotado de razão. E é tão interessante asseverar que aqueles que mais incutem e mais filosoficamente especulam sobre a espécie e sobre os instintos, como os alemães, são aqueles que mais tratados e postulados filosóficos estabelecem; e quão contraditório e perplexo é asseverar tal facto.

Os desígnios da mente

Mas cinjamo-nos ao cerne da questão: A Metafísica da oração. Schopenhauer redigiu a Metafísica do Amor, eu agora faço um nano tratado sobre a Metafísica da Oração para que todos fiquem cientes dos desígnios e dos poderes que tem a oração no ser humano.

O ser humano rege-se por vezes por desígnios latentes, por símbolos que têm o seu poder, pois o nosso subconsciente é enorme, poderoso e misterioso. O nosso subconsciente é uma ferramenta poderosa que pode ser usada para benefício próprio mas também pode ser usado funestamente e malevolamente por terceiros. A publicidade é paradigmática deste último caso que referi. Somos bombardeados com anúncios que nos incutem a adquirir um certo produto, com preços carregados de 9s que têm a sua próprio simbologia numerológica, e depois ficamos com aqueles intuitos no nosso subconsciente. Quando posteriormente vamos ao supermercado somos inconscientemente impelidos a adquirir esse produto pois associamos na nossa mente esse produto à segurança, à proficuidade, à alegria e a tantos outros ímpetos primários. A publicidade é uma forma de nos controlar o subconsciente. Vimos a imagem, achamos inofensiva ou inócua, mas na realidade tem um poder brutal pois inconscientemente incute-nos a comprar algo em particular.

Outra forma bem conhecida de terceiros usarem o nosso subconsciente é o caso da hipnose para fins lúdicos, maliciosos ou terapêuticos. Agimos sem nos apercebermos, vamos de encontro aos intuitos de quem nos controla, sendo que este usa métodos e sinais que só ele e os da sua seita conhecem, para poder controlar o subconsciente dos outros. Então, existem sinais, e isto é ciência não é bruxaria, que controlam o ser humano e o impelem a agir de acordo com certos intuitos. Esses sinais normalmente são conhecidos por sociedades secretas como a maçonaria, pois segundo estes, terceiros poderiam usá-los para fins pouco honestos e ilícitos. Mas o que é certo é que esses sinais já são bastante usados nas sociedades ocidentais no caso dos meios de comunicação social que concorrem entre si para atrair o mais possível o espectador, pela indústria publicitária que é paga para fazer o cartaz e o anúncio mais apelativo e pelo orador público que conhece bem todos este sinais de veemência e virilidade. Um caso exemplificativo é o hastear erguido e erecto da mão e do braço direito na simbologia nazi alemã. E tal como referia Schopenhauer quando diz que agimos sem nos apercebermos sempre em prol da espécie, há quem conheças as técnicas para controlar a mente humana sem que este se aperceba, pois quem o faz, conhece as técnicas e os sinais associados à fertilidade, à proficuidade e a todos os desígnios primários e naturais. Os falos e as vulvas são os ícones mais usados.

Outro caso exemplificativo, que por sinal é proibido em vários países, é as mensagens subliminares. Havia um anúncio televisivo da Coca-Cola em que era passada uma imagem duma fracção de segundos de um deserto. O observador não se consciencializava desta imagem mas o seu córtex visual absorvia-a e enviava-a directamente para o seu subconsciente. E a nossa evolução enquanto ser humano associa inevitavelmente um deserto a falta de água, ou seja à sensação de sede. A Coca-Cola ficara assim associada no nosso inconsciente a um líquido precioso e escasso e quando o víssemos no supermercado seriamos impelidos a adquiri-lo. O facto de ser vermelha também não é por acaso, sendo que o vermelho é a cor do sangue e dos sentimentos carnais e primários.

Um hipnotizador por exemplo, aplicando-nos visualmente um pêndulo com uma certa frequência, incute-nos num estado muitas vezes de sonambulismo. O pêndulo com uma certa frequência oscilatória não surge por acaso, tal deve-se à oscilação natural que sentíamos quando caminhávamos no ventre das nossa progenitoras. A oscilação do pêndulo do hipnotizador tem a mesma frequência do andar natural da mulher grávida. E adormecemos pois enquanto éramos bebés no ventre materno passávamos grande parte do dia a dormir. O pêndulo pode ser um relógio que associamos a tempo, mas para o nosso inconsciente vai apenas o padrão oscilatório de repetição que não barramos na consciência.

A nossa mente é complexa, mas pode até certo ponto ser modulada e num caso mais malévolo ser controlada. Pois o que se pode modular, pode noutro estágio ser controlado. Quando alguém nos diz directamente “Compra isto porque é bom!” o nosso consciente racional barra essa energia e vontade transmitida pelo outro pois consideramos que o outro quer apenas lucrar com os nossos rendimentos. Mas mesmo se alguém não nos apresentar argumentos racionais para adquirir tal produto, e nos mostrar um anúncio com um homem engravatado feliz e aprumado ao lado da sua bela mulher loira e grávida e com um filho pequeno a comprarem o produto, nós se não formos precavidos podemos ser impelidos inconscientemente a ter uma predilecção pelo produto pois associámo-lo a vários sentimentos primários como fecundidade, sucesso e geração de novos seres.

O factor temporal dos sinais que nos são incutidos é normalmente grande e quando dormimos processamos toda esta informação. Os sonhos são apenas uma manifestação distorcida de todas as nossas vontades e frustrações latentes, sempre de cariz primário. Quando alguém nos faz um sinal nós podemos interpretá-lo conscientemente e dar-lhe um significado, mas há sinais que passam completamente despercebidos ao nosso consciente, que nunca nos lembraremos, mas que foram assimilados pela nossa mente. E são estes sinais latentes, subliminares, que controlam mais fortemente as nossas acções, pois dirigimo-nos a certos objectivos sem nos apercebermos. É por isso que nunca nos lembraremos do deserto da publicidade que passou numa fracção de segundos, no entanto essa imagem latente teve um poder enorme nas nossas acções, e fez-nos comprar a Coca-Cola quando a observámos na prateleira do supermercado. São os sinais latentes que as sociedades secretas conhecem e que utilizam para controlar os demais profanos, sendo que não transmitem a mais ninguém tais conhecimentos.

Um sinal latente é então um sinal do qual não nos apercebemos, mas que é assimilado pela nossa mente. Não nos apercebemos pois a nossa consciência não processa e assim não podemos ponderar racionalmente sobre o mesmo. No entanto tem um poder enorme sobre as nossas acções, pois vai directamente para o subconsciente e faz-nos tomar acções num certo sentido, sem que nós nos apercebamos que estamos a ir no sentido do que nos foi latentemente incutido. E tudo o que refiro está subliminarmente plasmado nos nomes dos partidos, nas marcas, na música, na publicidade, nos pseudónimos e em tantos outros sinais do comércio.

O filme Laranja Mecânica é paradigmático de alguns fenómenos que aqui descrevo, onde no filme a consciência de um indivíduo é severamente moldada pelos padrões que lhe são incutidos com o intuito de o tornar um homem são. Mas no filme a consciência é moldada de forma severa e de uma forma patente, no entanto os sinais que descrevo moldam a consciência de uma forma subliminar e latente.

Por exemplo quando observamos um certo ponto no centro do nosso campo visual, ficamos concentrados nesse ponto. Se algum objecto aparecer ou se movimentar na orla do nosso campo visual não nos aperceberemos. Esse movimento pode ser um sinal que nos impele a tomar certas acções, pois esse sinal foi absorvido pela nossa mente mas não foi processado pelo nosso consciente. São esses sinais que as sociedades exotéricas denominam como tendo energia, pois a energia é algo que cria dinâmicas e faz os entes do cosmos tomarem certas acções. Assim certos sinais e certos objectos têm energia, pois impelem o indivíduo a tomar certas acções. Uma fotografia é somente um objecto, um pedaço de papel impresso, no entanto se for um nosso ente querido faz-nos chorar no caso de já ter falecido e faz-nos feliz se for um ente pelo qual estamos apaixonados. Se for um ente que amamos e que se encontra noutro local, pode fazer-nos ao observar a sua foto, movimentarmo-nos na sua direcção, e é isso que é energia pois é um objecto que criou uma dinâmica. Um anel de noivado tem uma certa energia pois tem uma dinâmica que impele os nubentes a ficarem unidos.

A nossa mente é então um dispositivo divino extremamente complexo e para alguns desconhecido. Aqueles que a conhecem bem e que conhecem os sinais que a controlam não transmitem esses conhecimentos aos demais, pois esse saber é demasiado poderoso e pode eventualmente ser usado para fins ilícitos. O que sucede é que esse conhecimento e essa sabedoria já foi há muito profanado e usado para fins comerciais, propagandistas, para levar ao poder déspotas e criminosos e para tantos outros fins ilícitos. Chegou o momento de todos o conhecerem. E reafirmo, isto é ciência, não é bruxaria.

Mas cinjamo-nos agora à epígrafe do texto, à questão da oração. A oração é então a única ferramenta que o profano possui para controlar os desígnios da sua própria vida e ser verdadeiramente independente e livre. Isto nada tem de religioso e vai muito para lá das questões de fé. A Igreja Católica incutiu nos crentes a prática da oração, com textos padronizados e definidos para que estes agissem inconscientemente em prol dos desígnios cristãos. Foi uma forma que as sociedades ancestrais regentes cristãs orquestraram para colocar todos os crentes fortemente sob os desígnios da Santa Sé. Porque quem ora, e principalmente se o faz repetidas vezes com sinais repetidos e veementes, envia para o seu subconsciente sinais que moldarão as suas acções. Dou-vos um exemplo, se queremos por exemplo deixar de fumar, devemos todos os dias de manhã e à noite repetir para nós próprios em oração 99 vezes “Não fumo mais!”. Esse padrão de repetição, esse sinal repetido por diversas vezes a partir de certo ponto porque nós já o repetimos mecanicamente, vai directamente para o nosso subconsciente, e far-nos-á no futuro tomar acções que nos farão evitar o tabaco. Por exemplo dentro de um mês, quando alguém, que nós sabemos que fuma e que poderá ser uma má influência para nós, nos convidar para um café numa esplanada, nós declinaremos o pedido por não nos apetece, porque já é tarde e porque o dia seguinte será cansativo. Noutras circunstâncias teríamos respondido afirmativamente. Na realidade é apenas o efeito da nossa prática de oração. É o nosso subconsciente a moldar o nosso consciente através de acções das quais nós não percebemos as causas mas que na realidade têm um cunho energético dinâmico bastante forte nos actos que tomamos.

As igrejas Cristãs e o Islão incutiram nos seus crentes as práticas da oração porque são doutrinas muito ancestrais. Há mais de mil anos quando surgiram, não haviam as panóplias tecnológicas e de multimédia que existem hoje para nos incutirem os valores e as doutrinas da ordem. Dou-vos um exemplo: quando as novelas brasileiras que são amplamente difundidas e vistas no Brasil mostram casos de descriminação racial e dos sofrimentos que tais actos discriminatórios acarretam para os indivíduos, estão a moldar a consciência do povo em prol da ordem civil e do estado. Quando a Cristandade e o Islão impuseram a oração foi no mesmo sentido, ou seja, quem ora, repete frases que o ligam fortemente à instituição religiosa central mas também repete expressões que o fazem tomar atitudes em prol da ordem civil e religiosa. Por exemplo quando o crente ora no “Pai Nosso” “perdoai as nossa ofensas assim como perdoo a quem me tem ofendido” está na realidade a doutrinar a sua inconsciência por uma prática salubre que preconiza a ordem civil. Já quando ora a “Ave Maria”, pelo conteúdo dos textos, está o crente na realidade tão-somente a inconscientemente fortalecer os laços que o ligam à instituição cristã. O mesmo se passa também no Islão. O que sucede nas sociedades modernas, é que com o advento dos meios de comunicação social, das televisões que quase todos temos em casa, da rádio, dos jornais, do espaço cibernético, a oração foi preterida em prol de todas estas panóplias tecnológicas para o controlo do indivíduo no contexto da ordem civil e no contexto de uma ordem supra nacional.

O Poder da oração

Assim presenteio-vos com o Santo Graal de que há muito o profano ansiava: a oração é a única forma verdadeiramente livre e soberana de o indivíduo controlar as suas acções. Com a oração o indivíduo controla conscientemente os seus actos através do seu subconsciente, e assim vai agir inconscientemente e de forma veemente e vigorosa no sentido dos preceitos repetitivos que orou.

A oração é assim extremamente poderosa, e pode ajudar-nos a resolver maleitas sociais, pessoais ou emocionais que nos afligem. Agora não o façam para ganhar dinheiro, serem ricos, poderosos, para saciar os ímpetos da luxúria ou para praticar o mal.

Se por exemplo anda constrangido e frustrado com alguém que o magoou ore todas as noites e manhãs 99 vezes para si mesmo em pensamento “perdoem as minhas ofensas como eu perdoo quem me tem ofendido”. Verá que ao fim de dois meses essa angústia desaparecerá. Se ama muito uma mulher que se chama Natércia e percebe que ela será mesmo a mulher que o fará feliz ore 99 vezes em pensamento de manhã e ao deitar “A Natércia será minha namorada!”. Digo-o veementemente, não o use com propósitos luxuriantes. Se quer deixar de fumar ore “Não fumo mais!”, se quer perder peso e está muito obeso ore 99 vezes ao deitar e de manhã “Tenho um corpo de atleta!”

Verá que tomará acções futuras sem se aperceber que vão ao encontro dos desígnios que orou. Tudo de forma natural, sem químicos ou produtos invasivos. A malévola indústria farmacêutica no ramo da psiquiatria conhece todos estes meandros mas ocultam-nos das populações para poderem lucrar milhões com medicamentos que muitas vezes não passam de placebos.

A nossa mente é labiríntica mas você pode controlá-la para que ela faça com que você tome as acções que deseja, lembre-se, ore sempre no sentido da ordem pública, da bondade, da caridade, da solidariedade, do altruísmo e da filantropia. Não deixe que os outros o façam escolher aquilo que conscientemente não deseja nem precisa, como é o caso da publicidade.

Seja soberano, seja livre e ore para ser feliz e para praticar o bem.

De Aveiro até à Guarda – É este o país que temos


Viagem entre Aveiro e Guarda por automóvel. Tempo:1h38m
Alguma comparação entre Portugal e a Arábia Saudita poderá parecer despropositada, mas demonstro-vos matematicamente que tal paralelismo não é assim tão descabido, pelo menos se nos referirmos do ponto de vista das infra-estruturas viárias. A Arábia Saudita, e esqueçamo-nos por agora das questões meramente religiosas e cinjamo-nos às questões de macroeconomia e de infra-estruturas nacionais, é um país com uma elevada produção petrolífera e de refinação dos derivados do petróleo, tendo este país historicamente relações diplomáticas e comerciais muito salutares com os súbditos dos generais do tio Samuel. Tendo uma indústria petrolífera tão forte, naturalmente a Arábia Saudita apostou fortemente em redes rodoviárias de transportes. A razão é simples, produzem petróleo, fazem estradas onde andam carros, camiões e autocarros, que consomem derivados do petróleo, e assim a economia saudita regenera-se através da indústria do petróleo, com os milhões de dólares de lucros gastos em palácios e mordomias para todos os cidadãos, mesmo que tal traga graves maleitas para a saúde pública ou para o ambiente a nível mundial. Assim se explica porque é que uma vasta rede ferroviária pelo deserto saudita é uma expressão de fantasia, sendo que no entanto as auto-estradas megalómanas rasgam os áridos desertos da península arábica em território saudita, tendo este pais uma rede de infra-estruturas rodoviárias inigualável.

Mas e Portugal, onde se encontra neste equilíbrio de forças económicas o nosso país? Portugal não tem recursos petrolíferos, todos os derivados do petróleo são importados e tem algumas refinarias, por exemplo em Sines. Portugal não tem indústria automóvel própria, e a única que tem e que balanceia positivamente em parte a nossa balança comercial com as exportações, leva a grande tranche dos louros para a Alemanha. Mas o que é que Portugal tem em abundância? Estradas! Muitas estradas e muito alcatrão! Os governos do pós-25-de-Abril foram os governos, no que concerne à obra pública, os governos do alcatrão. Mas estes senhores não entendem que foi uma aposta estratégica completamente errónea. Não temos petróleo, não temos carros, importamos os veículos que se movem nessas estradas e ainda para mais importamos o único combustível que permite que esses veículos se locomovam. Ao construirmos largas e vastas estradas tornámo-nos cada vez mais dependentes do exterior e assim definhámos a nossa economia. Os espanhóis podiam agora inundar o nosso mercado interno com produtos agrícolas e piscícolas.

E onde se enquadra esta minha humilde missiva pública no que concerne á sua epígrafe? Por onde começou este meu pseudo-artístico ofício bloguista, senão pelas duas capitais de distrito! Naturalmente pela viagem entre Aveiro e a Guarda que terei de realizar por motivos profissionais. Duas cidades capitais de distrito em Portugal, praticamente na mesma latitude, que distam cerca de 150 quilómetros. Pois meus caros leitores cibernautas, por automóvel na A25 a uma velocidade média de 100km/h as duas capitais de distrito fazem-se em cerca de uma hora e meia. Pois agora ouçam bem, pois estamos em Portugal, esta quase Arábia Saudita do sul da Europa sem recursos petrolíferos nem indústria automóvel própria, para fazer por comboio o percurso entre Aveiro e a Guarda o passageiro demora nada mais nada menos, do que cerca de três horas, ou seja o dobro do tempo.

Viagem entre Aveiro e Guarda pela CP. Tempo médio: 3 horas
Pergunto eu agora: Será que vale a pena investir tantos milhares de milhões na rede de alta velocidade quando a nossa rede ferroviária convencional, à excepção dos eixos principais, está putrefacta? Porque é que entre Aveiro e Guarda, de comboio se demora precisamente o dobro do tempo que se faz de automóvel, quando sabemos que a nossa dependência energética é muito mais patológica no caso do automóvel que no caso do comboio, sendo que a rede ferroviária consome essencialmente energia eléctrica que felizmente nós produzimos, onde agora até as bem-vindas, ecológicas e produtivas fontes de energia renovável dão um largo contributo?

Pois meus caros concidadãos que me auscultam; por uma questão de soberania e independência energética, este é o momento para os nossos governantes fazerem uma aposta séria e comprometedora na ferrovia nacional!

Nota: Ver a história da linha da Beira Alta