O que tem a ver a bicicleta em Lisboa com o estreito de Ormuz?


Foto de Lisbon Cycle Chic
Evocarei aqui as questões que levam muito lisboetas a prescindir da bicicleta e a deixá-la na garagem. Muitos lisboetas nem sequer têm a ousadia de deixar por um dia o automóvel particular em casa, e trazer nem que seja por um único dia no ano que seja, a bicicleta que em tempos compraram no Continente ou no Feira Nova, para a rua e passear um pouco.

Este é outro problema com o ciclismo em Portugal. A bicicleta não é encarada como um modus mobili, é encarada como um desporto para uma certa elite que se dedica ao mesmo. É ver a RTP deliciar os telespectadores com a volta a Portugal, mas depois todos aqueles jornalistas, toda aquela gentalha da RTP paga pelo erário público, que segue fanaticamente o desfecho final em que o ciclista corta a fita com os braços no ar; regressa à sua confortável e acolhedora mansão, nos seus bons BMW, Mercedes, VW, nunca sem antes consumirem pelos menos uns consideráveis litros de gasolina e abaterem umas quantas árvores.

Falo também daqueles hipócritas do BTT, que todos os domingos nunca fazem menos de setenta quilómetros de bicicleta, pelo mato, pelos bosques e pelos trilhos desconhecidos do grande público, e depois no seu modus vivendi, o seu bem amado carro está sempre na primeira fila no patamar das prioridades, nunca o prescindindo nas suas deslocações diárias durante a semana.

A bicicleta deve ser encarada, como apregoa a douta língua maçónica inglesa, como um must, Lisbon must cycle, a bicicleta é a verdadeira solução para os graves problemas de mobilidade de que padece Lisboa, é a solução para os graves problemas de poluição atmosférica nas grandes urbes, que tantas patologias cancerígenas do foro respiratório causam. A bicicleta é a solução para todos esses graves problemas. Poupamos em gasolina, poupamos no passe, poupamos em todas as taxas associadas ao veículo de motor de combustão, poupamos no parquímetro, poupamos o planeta, pois é menos CO2 e CO que emitimos para a atmosfera, poupamos no ginásio, pois fazemos exercício físico gratuitamente e com um propósito (chegar ao destino), evitamos trânsito, perdemos aquela barriguinha que nos assola e baixamos a tensão arterial, sendo que as doenças cardiovasculares são a primeira causa de morte em Portugal e ainda poupamos o país, pois é menos petróleo que importamos e ajudamos a equilibrar a nossa balança comercial que sabemos que é deficitária.

E porque não o fazemos? Porque se o fizermos lixamos os americanos e a sua doutrina imperialista, que a frívola adolescência acolhe através da decadente MTV, McDonalds, Ford, indústria cinematográfica, YouPorn e derivados, que apregoa a cultura do veículo particular e consequentemente do seu fuel de locomoção: o petróleo.

Estreito de Ormuz
Presentemente no estreito de Ormuz, há uma grave tensão entre o Irão e os EUA, pois por esse estreito, controlado geograficamente pelo Irão e por Omã, algo que está redigido em todos os tratados internacionais, passa 20% de todo comércio marítimo de petróleo. Como os iranianos pretendem fechá-lo, e como os americanos têm uma dívida soberana monstruosa, alimentada unicamente pelo facto de o petróleo estar indexado ao dólar, o que faz do dólar uma moeda forte, reduzindo assim o peso brutal da sua dívida; pretendem agora os americanos enviar mais porta-aviões para o estreito de Ormuz para aniquilar quem lhes faz frente.

Reparem que os motivos evocados foram os de que o Irão estaria a preparar armas nucleares. Bem sabemos o quão fidedignos são estes relatos dos lacaios da Agência Internacional de Energia Atómica, os mesmos que referiram que o já enforcado Saddam Hussein andava a desenvolver armas de destruição maciça. Que hipocrisia! Qual foi o único país da história da Humanidade, que utilizou poderio atómico contra outra nação? Não esqueçamos a história! Não venham agora os sionistas e os americanos atacar o Irão por algo que nunca fez!

Por certo que o tio Sam, atacará ferozmente o estreito de Ormuz com toda a sua maquinaria bélica naval, destronará Ahmadinejad que o contesta, o que fará com que o petróleo continue na senda cultural dos povos ocidentais, imiscuído no conforto egoístico do cidadão comum, com o pacto petrolificado dos governo europeus que não conseguem legislar para erradicar de vez o petróleo da Europa, e com o compadrio criminoso das universidades europeias que num século nunca desenvolveram uma alternativa ao petróleo. O lisboeta comum continuará egoísta e egocêntrico, pegando no carro todo o santo dia, pois diz que a morfologia geográfica de Lisboa não tem condições para se andar de bicicleta ao contrário dos países nórdicos. Tal é um mito.

Há estudos universitários que comprovam que Lisboa tem perfeitas condições para se circular de bicicleta. Mas meus caros, alguma moderação, não tentemos imitar Amesterdão e Copenhaga pois as idiossincrasias morfológicas são diferentes. Aquelas bicicletas que vemos por Estocolmo e Helsínquia, as típicas pasteleiras não se adaptam a Lisboa. Sejamos racionais e tenhamos apenas aquilo que Nietzsche denominava por “vontade”. O que falta é vontade, política e cidadã, pois a bicicleta que se adapta melhor às morfologias da cidade de Lisboa e do Porto, é a comum bicicleta de montanha, vendável em qualquer grande superfície, pois ajuda o ciclista a subir mais facilmente as colinas da cidade.

“Vontade” meus caros, força interior e espírito altruístico, é que os ulissiponenses precisam para deixar esse assassino ambiental em casa denominado carro, e pegar na bicicleta para as suas deslocações diárias. Só traz vantagens e é baratíssimo e Lisboa ao contrário dos países nórdicos tem condições climatéricas que permitem mesmo no Inverno deslocarmo-nos de bicicleta sem apanhar muito frio. E no Verão? Vamos de manga curta e apreciamos a paisagem e as garinas; sendo que as meninas podem contemplar, mas apenas filosoficamente, os garanhões lusitanos.

E porque é que isto é apenas um sonho que tive? E porque é que eu sei que ninguém vai prescindir do carro para se deslocar em Lisboa? E porque é que eu sei que o subalterno António Costa, que preside os desígnios camarários da cidade nada fará, e continuará a andar bem montado no seu Passat que mama 15 litros ao cem, e a mandar fazer ciclovias inúteis de passeio dominical com as criancinhas? Apenas porque os americanos não deixarão que o Irão corte o estreito de Ormuz. Afinal, quem manda no petróleo, manda no mundo!

3 comentários:

  1. O problema é económico. Não é por ser apenas o negócio do petróleo. É que o petróleo é o que mantém o dólar "credível". Digo credível porque não tem correspondência com algo material, tal como as moedas de quase todos os países, mas no caso americano é algo escandaloso.

    Basicamente com a globalização querem um mundo aberto à competição em função "dos mercados".
    Mas se um dos actores jogar com um recurso que pode sempre artificialmente criar mais, e, para além disso, garantir que este recurso é aceite por todos (feito pela venda do petróleo em dólares), não é a globalização apenas uma forma deste actor poder comprar tudo o que quer?

    Os únicos países que fazem frente são os que não necessitam de comprar petróleo. Esses não precisam do dólar. Venezuela, Irão, antes a Líbia, Iraque, e depois, claro, Rússia.
    A China terá outra tática porque tem o dólar na mão garantindo também que quase tudo o que é comercializado nos EUA é produzido na China. Assim sendo, tem um fluxo de entrada muito grande de dólares, e rapidamente compra recursos noutros países.
    Para além de manter uma reserva de dólares enorme, que pode colocar no mercado a qualquer altura. Isso pode criar o caos a qualquer momento no "mundo ocidental". Baixando o preço dos seus produtos e vendendo-o em todo o lado, forçam as economias ocidentais a produzir barato também, e facilmente compram empresas e produtos ocidentais. Vê o caso da EDP.
    O Euro tentou dissociar-se do dólar um pouco, e está a pagar as consequências. Para sermos "livres" teríamos de comprar petróleo em euros. Khadafi estava disposto a aceitar outras moedas meses antes da "revolta popular".
    Por fim, os russos mantêm um mercado mais fechado, tentam produzir de tudo e têm reservas energéticas suficientes que os fazem também independentes do dólar. E os oligarcas não vendem as suas posições, apenas compram mais, garantindo a soberania russa. Por isso os americanos não conseguem entrar ali.

    É esta a economia actual. EUA, China e, numa escala mais pequena, porque a queda da URSS deixou mazelas, a Rússia, disputando o mundo.

    ResponderEliminar
  2. É isso, meu caro, o Petróleo é a ameaça mundial, pois causa maleitas para o planeta indiscutíveis, mas como mantém o dólar forte, e os EUA têm uma dívida soberana brutal, pois endividaram-se para conceber a máquina bélica monstruosa que têm; fazem com que o petróleo esteja indexado com o dólar... E escandalosamente, ninguém fala disto nos jornais ou na TV. Antes de pseudo-revolução na Líbia, Kadafi estava disposto a negociar o petróleo líbio em euros, mas foi destronado pelas forças da NATO.

    O problema da Europa e mais precisamente da UE, é ter sido fundada, após os traumas da II Guerra Mundial, numa lógica completamente pacifista. Repara que uma potência como a UE não tem sequer exército. Os Ingleses têm o seu, mas andam sempre a reboque do tio sam; os franceses e os alemães fazem militarmente apenas o que lhes aprouver no seu próprio interesse.

    Ora uma Europa sem músculo, mesmo que inteligente e dinâmica, mesmo com cultura, tecnologia e património e uma história única no mundo, não é mais que a p*** de pensão dos EUA, que é abusada e reabusada a seu bel-prazer.

    O caso das agências de rating é paradigmático. Os EUA têm uma dívida soberana brutal (15 biliões (triliões em notação americana) de dólares, 30 vezes a dívida portuguesa) e têm A+++, a Itália, Irlanda, Portugal e Espanha, são lixo.

    Nós não temos de comprar petróleo em Euros, temos é que nos livrar de vez da dependência do petróleo, e quer tu gostes quer não, Sócrates foi nesse sentido (com o país já na bancarrota é certo)

    ResponderEliminar