A bicicleta e o mito das colinas!


É comum ouvirmos por vezes alguém afirmar que Lisboa não tem condições para pedalar por causa das sete colinas. Explicarei que tal deve-se puramente a desinformação e desconhecimento da realidade. A cidade norueguesa de Trondheim é um exemplo clássico de que a orografia não é de todo um fator impeditivo para que as pessoas adotem a bicicleta como modo de transporte quotidiano. Dizer que não se pedala mais em Lisboa por causa das colinas, é faltar à verdade e ter falta de visão no âmbito do paradigma da mobilidade. Mostra-se o mapa topográfico da cidade de Trondheim, uma cidade com cerca de 180 mil habitantes onde a temperatura média durante o dia no Inverno ronda os dois graus negativos.

Relevo da cidade de Trondheim. Fonte: Google maps
18% da população usa a bicicleta no dia-a-dia.
Relevo da cidade de Lisboa. Fonte: Google maps
Menos de 1% da população usa a bicicleta no dia-a-dia. Fonte: Censos 2011

Em Trondheim 18% da população, muita dela estudantil, usa a bicicleta no dia-a-dia. Este valor compara com menos de 1% em Lisboa segundo os Censos 2011. Já Varsóvia na Polónia, é uma cidade praticamente sem relevos ou colinas, sendo quase totalmente plana, mas que tem uma percentagem ínfima de pessoas que adota a bicicleta no dia-a-dia. Estes dois exemplos mostram que a topografia do terreno, não é de todo o fator mais preponderante para cativar ou desincentivar o uso da bicicleta.

Promove a bicicleta a (in)segurança rodoviária?


Esta é a questão basilar que deve ser debatida seriamente e sem sofismas. Na realidade, não posso deixar de discordar com as afirmações de vários membros da classe política e do setor da segurança rodoviária que tendem a colocar o ónus da responsabilidade nas vítimas dos sinistros rodoviários, visto que os dados estatísticos demonstram claramente que cidades que favoreçam políticas mais amigas de ciclistas e pedestres, são cidades que têm índices de segurança rodoviária muito superiores às demais. É intuitivo perceber que quando se promove acalmia de tráfego, quando se alargam os passeios e se diminui a largura das estradas destinadas a veículos motorizados, quando se colocam zonas de abrandamento de velocidades, quando se criam zonas partilhadas; todas estas medidas promovem invariavelmente melhorias nos índices de segurança rodoviária, para todos os utilizadores da via pública, automobilistas inclusive.

De facto, as políticas urbanas de mobilidade de atração de pedestres e ciclistas para as cidades, são as mesmas ou muito similares, às políticas de promoção da segurança rodoviária.

A segurança pelos números

A segurança pelos números é um conceito há anos conhecido pelos biólogos, na medida que a perigosidade para cada indivíduo, para determinada ação, tende a diminuir à medida que o grupo ao qual o indivíduo pertence, tende a aumentar em número de indivíduos. Tal fenómeno é aparentemente mais acentuado nos grupos que na natureza tendem a ser mais vulneráveis, ou que estão final da cadeia alimentar, como o caso dos peixes nos cardumes, ou das ovelhas nos rebanhos.

Princípio de Jacobsen

P. L. Jacobsen, num trabalho académico de 2003, faz a aplicação do princípio da segurança pelos números para o caso particular de pedestres e ciclistas. O autor aparenta demonstrar que quanto maior é o número total de quilómetros pedalados por bicicleta e caminhados a pé, menor é o risco por quilómetro para ciclistas e pedestres respetivamente. Considerando que pedestres e ciclistas fazem parte de grupos vulneráveis na "selva" que o trânsito e o tráfego nas urbes modernas representa, considerando as diferenças de massas e de energias cinéticas dos diferentes veículos que circulam na via pública, pode-se de certa forma, deduzir, que o princípio de Jacobsen, mais não é que uma generalização para a modernidade no espaço público, da lei mais geral e universal da segurança pelos números que os biólogos conhecem desde há anos, lei essa que rege os fatores de risco do indivíduo inserido num determinado grupo na natureza.

Mais km percorridos de bicicleta, no geral,
implica menos perigo por km.
Fonte: Safety In Numbers; Cycling UK.

Pedalando na Holanda



Podem ver pelas infraestruturas cicláveis da Holanda, mais particularmente da cidade da Haia, que há ainda um enorme caminho pela frente a fazer em Portugal no domínio das condições providenciadas aos ciclistas urbanos.

Na zona da Estação HS da Haia (08:30), para a linha ferroviária não ser uma barreira urbana há vários caminhos pedonais e cicláveis sob a linha. As ciclovias são largas e confortáveis (08:00). Nas zonas partilhadas com o trânsito (10:45), as velocidades dos automóveis são altamente moderadas. Os semáforos aplicam-se somente em grandes cruzamentos (04:30), nas zonas restantes o trânsito flui normalmente. Numa grande área do centro (13:20), os automóveis particulares estão interditos, promovendo assim grandemente o comércio tradicional da cidade. Não é construída uma artéria, onde não se pense nos ciclistas. Sempre que se faz um parque para automóveis (15:50) no centro das cidades holandesas, por norma, o promotor do mesmo é obrigado por lei a reservar um piso apenas para bicicletas, onde o parqueamento no primeiro dia é gratuito. 

Como resultado, o trajeto que fazemos com muita frequência entre a cidade nos subúrbios onde vivemos e o centro da Haia, cuja distância ronda 5km, faz-se calmamente e em plena segurança em cerca de 15 minutos.

ANSR: Anedota Nacional da Sátira Rodoviária


José Jacob, presidente da Anedota Nacional da Sátira Rodoviária
Veio recentemente a público pronunciar-se sobre matérias relacionadas com segurança rodoviária, uma tal entidade que dá pelo nome bíblico de Jacob, sendo que ao que parece o seu primeiro nome será José, o homónimo do padrasto do Messias. Jacob era apóstolo do Filho, já José era o seu padrasto, e dessa união nominal, 2000 anos após a penosa crucificação no monte das Oliveiras de um nobre homem que segundo consta passou 98% do seu ministério vagando enquanto peão; nasce na Lusitânia um verme pagão sofista repleto de banha e com bigode, que segundo consta, dá pelo excelso nome messiânico de José Jacob. Quis a nobre e sempre imprevisível política nacional nos desígnios do nepotismo, das cunhas e dos amiguismos que tal nefasta personalidade viesse a chefiar os carolíngios ministérios de uma entidade pública que dá pelo nome de Autoridade Nacional para a Segurança Rodoviária. Todavia, recomendo vivamente que se faça imediatamente uma consulta popular para alterar as insígnias de tal famigerada entidade pública para Anedota Nacional da Sátira Rodoviária. Estou disposto a pagar com os meus impostos a uma entidade pública composta por palhaços e marionetas, que me façam rir e escrever.

Ora esse senhor, que pelas imagens que vêm a público no espaço cibernético, não preza pela frugalidade alimentar e pela prática caminhante ou ciclística que tem tantas vantagens para a saúde dos indivíduos e que chefia a dita autoridade securitária para as rodovias, veio recentemente pronunciar-se usando daquela bocarra fedorenta, que “um dos problemas grandes que existe hoje é a indisciplina dos ciclistas”, sendo que estes precisam de ser “disciplinados”. Já me estou a ver de rabinho empinado com calça meio arregaçada, com os pés assentes nos pedais da minha bina, a ser violentamente chicoteado e “disciplinado” pelo carrasco inquisitório Jacob, obedecendo por sua vez este aos sacros comandos do seu Santo Ofício pagão, senhor de todos senhores, mestre de todos os mestres, o magno Popó!

Este asno, que pelo porte e robustez aparenta nunca ter colocado a cavidade perineal sobre um selim, esqueceu-se de apontar que todos os estudos referem em voz alta e em caligrafia bem clara e explícita, em várias línguas que obedecem às regras mais elementares da gramática e da sintaxe filológica (duvido que o titã conheça algumas) que cidades e zonas urbanas onde há mais ciclistas têm índices muito maiores de segurança para todos os utentes da via pública, automobilistas inclusive. Este parasita de bigode repleto de sebo e banha, sob pomposo e executivo fato engravatado, deve andar por certo a ser sodomizado pelos emissários do ACP, por Carlos Barbosa e o seu coio de preguicentos e néscios pagãos adoradores e idólatras do sacrossanto Popó.

José Jacob, em vez de promover um ambiente salutar entre todos os utilizadores da via pública, não; como por certo foi empossado por um governo que precisa de mediatismo e popularidade, lança estas bestialidades ímpias, néscias, pérfidas, idióticas, iníquas e animalescas, para que a populaça automobilística as acolha em orgiástico êxtase e regozijo, qual déspota tirânico que dá pão aos espetadores dum qualquer circo romano após terem atingido o clímax coletivo ao terem observado dez criancinhas cristãs a serem desventradas por feras leoninas; ou qual bacoco rude caçador que dá bife do lombo a uma matilha de trinta cães vadios esfomeados. José Jacob - aleluia irmão pois o Popó é o senhor na Lusitânia - é uma anedota nacional, é uma nulidade intelectual, faz parte da estirpe mais execrável e desprezível de insetos parasitas que aparentam prezar-se pelo bom nome e urbanidade, mas que não passa de ralé pertencente às famílias da rataria pestilenta, preguicenta e pseudocosmopolita, daquelas a que também pertencem os invertidos Barbosa e Seara, que vão comprar pão ao Continente do Colombo num final de dia de trabalho, porque na padaria do bairro é cinco cêntimos mais caro.

Deixo uma pergunta a esta anedota, que segundo consta, deveria preocupar-se com a segurança rodoviária. Porque não se pronuncia publicamente contra o evidente e claro excesso de velocidade nas cidades, que provoca tantos acidentes mortais em peões, essencialmente crianças e idosos? Desde quando alguém em Lisboa cumpre o caralho dos 50km/h de velocidade máxima? Porque não se esfrega em excrementos Jacob, e não se pronuncia contra as centenas de carros que estacionam sobre o passeio nas cidades portuguesas, situação que provoca situações de elevada insegurança para os utilizadores da via pública, essencialmente os mais vulneráveis como os peões? Porque não engole as próprias massas fecais Jacob, num rasgo escatológico de magna intelectualidade de índole rodoviária, e não se pronuncia, contra o facto de quase muito poucos automobilistas respeitarem o semáforo vermelho na transição do amarelo?

Será que Jacob, não percebe que cidades e países que contrariam a hegemonia do automóvel, que tornam as cidades mais humanas, mais amigas de ciclistas e peões, têm índices muito maiores de segurança, segurança essa que Jacob deveria promover? Lembremo-nos que Jacob é pago pelos camelos contribuintes, ciclistas inclusive, e não esquecer que o camelo mor Jacob recebe dinheiro do orçamento de estado, não de impostos cobrados exclusivamente aos automobilistas. Jacob não percebe que eu, enquanto ciclista sinto que é mais inseguro para mim, muitas vezes ficar parado no vermelho, porque quando vier o verde, o automobilista por norma fará um arranque tipo rally, e logo de seguida far-me-á uma razia a pente fino. O princípio do ciclista passar o vermelho é exatamente o mesmo de quando um peão atravessa o vermelho, situação que é encarada pelo senso comum como normal. Os semáforos rodoviários são uma parafernália tecnológica da era automóvel, que foi massificada nos anos cinquenta exatamente para diminuir a insegurança crescente que se sentia então devido ao incremento no número de carros nas urbes e consequentes acidentes e atropelamentos. Pelas leis da física e da energia cinética (não vos vou ensinar mecânica clássica, vão para a escola) os males para a insegurança rodoviária nunca podem vir daqueles que andam a 20km/h com uma massa total de 90 kg, mas tão-somente dos burgueses que andam com uma tonelada de ferro nas mãos a 70km/h. Sim, meus mentecaptos, um carro de uma tonelada a 70km/h tem uma energia cinética 136 vezes superior a uma bicicleta e condutor com massa total de 90kg a 20km/h! Estamos entendidos Jacob, qual é o principal problema da segurança rodoviária em meios urbanos; foda-se!? 

Aónio Eliphis, Copenhaga

PS: Refiro que esta última interjeição gramatical é para ser entendida no sentido estrito e literal do termo, ou seja, faço votos para que José Jacob, com a sua extensa pilinha fininha, a faça contornar o seu enorme relevo abdominal, tipo pescadinha de rabo-na-boca, ou neste caso picha-no-cu, e coloque a cabecinha da sua alongada pilinha, bem fundo no interior do seu cilíndrico e flácido canal anal.

Sobre a questão Ucraniana


Kommersant Photo/Kommersant via Getty Images
Os recentes acontecimentos na Ucrânia, com a recente decisão de Moscovo de invadir o território da Crimeia, demonstra-nos claramente que as relações internacionais no domínio da diplomacia e da legislação internacionais não mudaram muito desde os tempos dos romanos. Acima de tudo reina a hipocrisia, os sofismas dos comentadores políticos, as propagandas ardilosas, informações dúbias quer do lado ocidental, quer do lado da Rússia. Ora tenho tentado ver e ler os meios de comunicação social de ambas as partes, por um lado a vasta comunicação social ocidental, como a CNN, a France 24 ou a BBC, e do outro lado a Russia Today, uma televisão russa internacional que emite em língua inglesa.

Analisando os factos de forma racional e tentanto apurar a verdade de forma independente e livre, parece-me que Putin está a querer mostrar ao mundo o poder imperial e militar da Rússia, ranascido após a guerra fria. Já o Ocidente tem aqui um papel abominavelmente hipócrita e demagogo, como se o Ocidente fosse o único poder internacional que tivesse legitimidade para invadir os outros países a seu bel-prazer. Remete-nos para a velha questão da filosofia militar de que há armas boas e armas más, as nossas são as boas, as dos outros são as más.

Sejamos factuais. Putin é um ditador, no sentido estrito e romano do termo - oposição fraca, controlo da comunicação social, morte de jornalistas, perseguição de minorias, controlo do senado - mas parece-me que os russos têm bastante legitimidade no quadro internacional para o que estão a fazer. Lembremo-nos que a Rússia faz fronteira com o leste da Ucrânia, e estando a região instável afeta diretamente a Rússia. Consideremos ainda que há milhões de cidadãos russos e de etnia russa a habitar na Ucrânia e parece-me ser dever das forças armadas russas, no seguimento da sua constituição, defendê-los. Outro dado interessante é que por exemplo 75% da população da Crimeia, ou seja três quartos, é de etnia russa.  Mais, o partido de Ianukovich em 2012 ganhou as eleições democraticamente com 30% dos votos contra 25.5% de Julia Timochenko. Não podemos também esquecer que grande parte dos movimentos que estão nas ruas a protestar de forma violenta contra um governo democraticamente eleito, são de fações da extrema direita e neo-nazis. Façamos então esta pergunta à diplomacia ocidental que tanta vezes argumentou a favor da invasão de outros países em nome da Democracia: poderão os protestos violentos das ruas depor um sufrágio universal?

Podemos então referir, num enquadramento lógico, que estando a Ucrânica à beira de uma guerra civil, tendo o seu presidente democraticamente eleito sido deposto por um golpe de estado popular com traços de discriminação étnica e racial, ficando a população de etnia russa no país em perigo; e tendo esse presidente pedido apoio à Rússia para intervenção no território, parece-me, no quadro do que têm sido os pressupostos para todas as invasões militares levadas a cabo pelo Ocidente, que a Rússia tem bastante legitimidade no que está a fazer.

Não nego que Ianukovich não passe de um fantoche de Putin, mas poderíamos também dizer que Julia Timochenko não é mais que um fantoche do Ocidente. Pelo outro lado sabe-se muito bem que por exemplo os pressupostos que fizeram os americanos invadir o Iraque eram uma autêntica fraude. Nunca houve armas de destruição maciça no Iraque e hoje sabe-se que os EUA indaviram esta região do golfo pérsico apenas e tão-somente para obter os seus recursos energéticos. Estudos dizem que o petróleo teria um preço muito mais alto se os EUA não tivessem invadido o Iraque, pois as empresas americanas desde a invasão que sugam petróleo na região, a segunda maior reserva de petróleo a nível mundial. Porque invadiu a NATO a Líbia, sendo que Muammar al-Gaddafi apesar de tudo providenciava estabilidade a toda a região? Estando Osama bin Laden abatido, porque continua o império americano no Afeganistão? Porque invadiram os EUA o Vietname? Era um país longínquo, praticamente sem população americana para defender.

Não sou de todo simpatizante de Putin, pois é claramente um ditador eslavo dos tempos modernos, mas a demagogia e a hipocrisia do Ocidente, e muito em particular a dos EUA, deixa qualquer filósofo independente e pensador livre, a bradar aos céus do Olimpo, com tanta barbaridade e demagogia intelectual propalada pelos seus emissários internacionais.