Poema: o mal não é um carro!





O mal não é o inseto, mas a praga
não está no amor, mas no sexo
não está no sangue, mas na chaga
não está no bairro, mas no gueto!

O mal, não é a letra ou a palavra
ditas por um certo homem reto
está antes, na frase carregada
de muito ódio e amor abjeto

O mal não é a pólvora, é a bala
não é o átomo, mas a ogiva
é o silêncio, de quem com fala

foge à luta mais garrida
e perante o mal dos outros, se cala
e tolera a cólera infanticida

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O mal, não é um carro!
É a nefasta poluição
É um cancro num pulmão
É ignorarem o que vos narro

É um peão esbarrado
esmagado pela indecisão
dum político sem compaixão
por um puto atropelado!

Não são quatro rodas, o mal
Ou a lata que se sustenta
é o ditame imperial

que esta praga alimenta
é o ruído infernal
que o tráfego fomenta!

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O mal, não é um carro!
é um parque gigantesco
um colosso tão grotesco
que faz um bairro tão bizarro!

Não ignorem o que vos narro
nem este cenário dantesco
que o sector em causa é pidesco
e sobre o qual apenas escarro!

Onde brinca, tua criança?
Em que rua, em que praça?
Onde um carro é uma lança

Um perigo, uma ameaça
que te destrói a esperança
em teu bairro, e sua graça!

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O mal nunca esteve na suástica
nem na cruz ou no crescente
nem numa escrita sarcástica
nem num devoto fiel crente

está na raiva entusiástica
na barbárie consciente
na veneração onomástica
por um déspota doente!

Não está no amor, mas na luxúria
Não é o dedo, é o gatilho
Não é o austero, é a penúria

É a bomba e o rastilho
está no perpetrador da fúria
que na cruz posou o Filho

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O mal não é um carro,
é metade de um salário
que o incauto e o otário
por pouco julgam, mas é caro!

Um condutor é só um escravo
que sustém o imaginário
de um tirano sanguinário
que o torna num drogado!

A droga, o combustível
o traficante é a BP
Porque o povo é só sensível

ao que se passa na TV?
O teu bairro está horrível!
Será que ninguém vê?

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Porque tens um automóvel?
Tu apenas, não tem mal
Mas para o povo é sacral
comprar um, com um imóvel

Uma casa é fundamental
Talvez ainda um telemóvel
Mas para quê um carro imóvel
hora e meia, numa via radial?

A cidade é o teu lar
Trata-a como tua
O carro apenas vem sujar

o teu bairro, a tua rua!
Deixai as crianças brincar
onde o teu puto corre, brinca e sua!

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