Son[h]o


Do sonho dos tormentos
da cama dos sentidos
da esperança, sentimentos
da vida dos perdidos

Mundo, sensação
Esperança, quem te viu
Quem te vê com o coração
Foi um mundo que ruiu

Quem não vê e não quer ver
Não verá quem está defronte
O coração diz para esquecer

Para combater os mares e o monte
O impulso, para escrever
Cego, vislumbrarás o horizonte

--//--

Há sereias e sentidos
Pulsão a renascer
Libidos perdidos
que não haviam ao nascer

Neurónios constrangidos
O limbo diz para escrever
que os desejos reprimidos
dou-te-os para ninguém ver

Há quem veja na caneta
um falo, um fuste que se vem
A tinta jorra nesta greta

entre linhas do além
Do caderno, sou quem tecla
as teclas do desdém

--//--

Rios, mares e lagos
Réstias de navegante
Seios e olhos largos
duplicidade fulminante

Mamilos tão amargos
Suor dum verão escaldante
Destroços fulminados
Estocada tão distante

Quem não vê e não perscruta
Nada vê pois não quer ver
Observo ao largo a gruta

Um mineiro a se entreter
Freud, não sou puta
Tão-só a psique a verter!

--//--

Quem não vê e quem não viu
Vê que o sono é um sonho
Há gente que descobriu
que é um [h] que lhe ponho

O sonho é sono em fuste
Uma [h]aste tão vivida
Um sonho não é um traste
É um códex da vida

Amálgama do sentido
Mixórdia da experiência
do dia precedido

Estímulo com latência
desejo reprimido
Repto da inconsciência

--//--

Um sonho é tão disforme
tal como o é a doçaria
homónima e não conforme
com a trigonometria

Que o pudor contorne
a bem da Alegria
E num Poema uniforme
já há sonho, há magia

O sonho distorce o mundo
E sexualiza cada ente
Distorce o que é imundo

para bem do consciente
é a catarse do profundo
a cada noite, na tua mente!

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