A Energia: a da Ciência e a do Esoterismo


Um amigo meu numa conversa de café, amigo esse que tem uma formação académica fortemente científica, fazia uma crítica acérrima à terminologia adotada pelas denominadas ciências esotéricas, pois segundo ele, toda aquela terminologia e conceitos, não passavam de uma "treta". Expliquei-lhe; considerando que apesar de também ter uma forte formação académica na área científica, não sou um cético nestas matérias; que para o caso do conceito de "energia", na Ciência e no Esoterismo, apesar de fazerem uso da mesma palavra, os conceitos são distintos mas não incompatíveis. Referi-lhe que o termo energia no Esoterismo não é para ser interpretado no sentido da Física ou da Mecânica Clássica (calor, massa e velocidade, mensurada em Joules), mas no sentido psicológico. Apresentei-lhe então uma metáfora de café.

- "Quando vês uma “gaja muita boa”, mesmo que seja ao longe, existe uma “energia” transmitida por ela, que mexe e remexe no teu corpo, sem que todavia tivesse havido contacto. Essa “energia” que dela provém, atravessa o "éter” do espaço que vos separa e entra na tua “alma”, e pelo facto de mexer contigo, de te criar por vezes convulsões ou alterações de humor, denomina-se “energia”, porque te provocou alterações ou movimentos. É sempre nesse sentido mais lato ou poético se quiseres, ou até mesmo psicanalítico, de “energia”, em que se baseiam quase todas as pseudociências. As "más energias" são estímulos que por vezes são funestos ou malignos, já as "boas energias" são estímulos que são benignos, que nos trazem pensamentos positivos ou que nos oferecem tranquilidade ou felicidade".

Continuei: - "Mas claro, dou-te razão, numa linguagem estritamente científica e rigorosa à luz dos princípios da Física na qual o conceito de energia é rigoroso e está bem definido, este tipo de argumentos justificativos do Esoterismo, não têm qualquer validade. Para a Ciência, foram apenas meros fotões que provindos de uma fonte de luz, no corpo da mulher refletiram, e que viajando a uma velocidade de 300 mil quilómetros por segundo até ti, foram absorvidos pelas tuas retinas, cuja informação correspondente foi processada pelo teu córtex visual, estabelecendo padrões e cores. Milhões de anos de evolução desde os primeiros hominídeos e o teu sistema límbico reconheceu, através das suas feições corporais, que havia altas probabilidades de ser uma mulher profícua para reprodução, e assim sendo, o teu corpo, através do teu sistema endócrino e despoletado pela tua orientação sexual, reagiu em conformidade".

Concluí então: - "Ou seja, temos duas explicações para a mesma coisa, sendo que a primeira é mais fácil de explicar a leigos".

Os antieuropeístas xenófobos são, taxonomicamente, nacional-socialistas


À luz dos critérios taxonómicos da Ciência Política,
o partido de Geert Wilders, o PVV, é considerado
um partido de centro ao longo do eixo esquerda-direita.
Já Marine Le Pen é claramente de esquerda. 
Um dos erros comuns da elite política portuguesa, assim como de muitas pessoas que opinam no espaço público, é considerar que os movimentos políticos extremistas na Europa, que têm um discurso marcadamente xenófobo e antieuropeísta, são de extrema-direita. Tal não poderia ser mais enganador. Lemos Rui Tavares no jornal Público ou vemos Francisco Louçã no seu espaço de comentário televisivo a criticar estes movimentos, alegadamente de extrema-direita, para assim, estando lá longe no outro extremo, se distanciarem desse tipo de movimentos político-partidários que promovem a xenofobia e a intolerância perante os estrangeiros ou certo tipo de minorias religiosas.

Todavia, é preciso enquadrar politicamente estes movimentos à luz de critérios científicos o mais rigorosos quanto possível, dentro da ciência política. Reduzir um certo ideal a um eixo ideológico esquerda-direita, é além de redutor, cientificamente incorreto tal a complexidade do ideário dos partidos na atualidade. A noção de esquerda e direita no espectro político surge com a revolução francesa, quando os representantes da sociedade, na recém-criada assembleia republicana, se dividiam em função do estrato da sociedade. Do lado esquerdo sentavam-se os representantes do povo e do lado direito os representantes da aristocracia. Desde então tendeu-se a associar que a esquerda teria uma maior comiseração e solidariedade perante os mais pobres e que a direita teria uma visão mais centrada na economia ou nos detentores do capital. Mas à luz dos pressupostos históricos contemporâneos do século XX, é fácil encontrar alguns regimes tirânicos que se enquadram em dipolos opostos no eixo político esquerda-direita, tal como o estalinismo ou o fascismo. Estes dois regimes, além de estarem em dipolos ideológicos opostos, eram militarmente inimigos; mas ambos tinham algo em comum, nos dois funcionava um regime tirânico onde as liberdades individuais dos cidadãos, como de pensamento, de livre associação ou de movimento, não eram respeitadas pelo estado.

Percebemos com o caso anterior, que é necessário estabelecer um segundo eixo político, que mensura não só a influência que o estado deve ter na economia da sociedade, mas também o quão liberal ou conservador se deve ser nos costumes ou na forma como o estado lida com o cidadão. Além disso, mesmo nesta análise politicamente o mais imparcial possível, muitas vezes a forma como os partidos lidam com o antieuropeísmo ou com a xenofobia, não está propriamente bem enquadrada na taxonomia político-ideológica. Ou seja, um partido pode ser enquadrado em qualquer ponto no espectro político-ideológico e todavia ter ou não ter uma visão xenófoba ou intolerante perante o estrangeiro. Mas há um padrão claro, parece-me. Em todos estes movimentos protecionistas e antieuropeístas na Europa, de facto, se quisermos ser cientificamente rigorosos com referência à Ciência Política, denotamos que estes partidos, como de Marine Le Pen na França ou de Geert Wilders na Holanda, não são de extrema-direita, são de facto, nacional-socialistas. Muitas das propostas da Frente Nacional em França são exatamente iguais ou mais ousadas ainda que as da extrema-esquerda, como o controlo do banco central, a redução da idade da reforma para os 55 anos, o aumento substancial dos salários na função pública ou a redução do horário de trabalho para as 30 horas por semana. A Frente Nacional não é de extrema-direita, é totalmente incorreto do ponto de vista taxonómico, assim categorizá-la. A Frente Nacional de Marine Le Pen é marcadamente antiliberal, protecionista e com uma visão em que deve ser o estado a ter controlo hegemónico na economia e na política monetária, podendo-se assim afirmar, e tal não o é afirmado publicamente pois além de ser ilegal é politicamente incorreto, que a Frente Nacional tem um ideário marcadamente nacional-socialista. É isso que estes partidos antieuropeístas normalmente são: nacional-socialistas. Defendem um estado muito presente na economia e na vida dos cidadãos, estado que supostamente redistribui diversos apoios sociais a nacionais, e ao mesmo tempo com um ideário de ideologia marcadamente nacionalista e xenófoba. 

Logo, no plano político-ideológico com dois eixos, em que no horizontal temos esquerda-direita, sendo a esquerda defensora de políticas com maior presença do estado e a direita defensora de maior soberania financeira dos cidadãos em questões fiscais e económicas; e no plano vertical o eixo que define a vertente conservadora-liberal, podemos, se quisermos ser rigorosos, dizer que Wilders ou Le Pen, são de centro ou mesmo de esquerda, mas com um visão mais conservadora da sociedade. Ou seja, lamento desiludir as pessoas de esquerda, mas ideologicamente falando, os extremistas xenófobos que temos visto ascender na Europa não são de extrema-direita, muitas vezes são de centro ou de extrema-esquerda, o que os distingue dos demais partidos, não é o eixo da esquerda-direita, mas o eixo do liberalismo-conservadorismo. Neste aspeto há claramente um denominador comum em todos estes movimentos, e esse denominador comum é o populismo. E o populismo consegue ser maximizado numa ideologia que busque o que há de mais populista em todo o espectro político. Assim, estes movimentos nacional-socialistas, tal como o seu original nazi, obtêm quer ideais da extrema-esquerda na noção de que o estado deve servir de garante social para todos os cidadãos nacionais independentemente das suas ações ou produtividade, quer ideais do nacionalismo xenófobo, protecionista e intolerante à diferença. É esta mescla populista e pouco racional, de maximizar junto das massas o populismo em todas as frentes ideológicas, que definiu o nacional-socialismo e que define estes movimentos antieuropeístas.

Dizem que o co-r-po é po-r-co


Dizem que o corpo é porco
e se queres ver o teu porco
abre o teu corpo,
é que o anagrama do corpo
que se obtém do porco
que humilha o turco
o qual não conspurco
faz do porco o corpo
do bárbaro suíno
que cadáveres ingere
que reza a deus e ao trino
que a gula não mede
e tampouco
conhece o seu corpo

Abre o porco e o ingere
dias sem vez
e quanto mais o degola
mais porco se fez,
arroga-se acima do porco
pois reza a deus e aos três,
mas não passa dum porco
que para gula do corpo
racional nem tão pouco
e nem o porco é tão louco
conspurcando, se fez
um católico português

Degola-os o porco outra vez
com vil mesquinhez
na senda da gula
de um porco burguês,
arroga-se austero
católico, português,
e com cadáveres no prato
conspurcam-se à vez.
Sim, são vocês,
será malcriadez
com plena nitidez
criticar o carniceiro
o javardo festeiro
e um porco burguês?

Mas Deus é Grande
digo-o outra vez
sem mesquinhez
com mui sensatez,
e de cancro e maleitas
pela barbárie que fez
por não conhecer o seu corpo
chacinando o seu porco
criando-os à vez
num matadouro soez
para no prato, já morto
saciarem a gula
dum porco burguês,
que se arroga
superior
por rezar a deus e aos três!

Pois Deus,
Aquele que vos fez
na sua magna lucidez
imputa ao porco burguês
cancros, enfartes e AVCs
por este chacinar
qual massacre de Fez
a Criação animada
do Criador que lhe fez

Se queres conhecer o teu corpo,
o animalesco e grotesco,
chacina o teu porco,
trucida-o, esquarteja-o,
tortura-o, massacra-o,
fatia-o, degola-o,
decapita-o, ingere-o,
apunhala-o no pescoço
bebe o seu sangue
trinca o seu osso
e serás pois mais louco,
mais animalesco,
ainda mais javardo,
e mais grotesco
que esse mesmo porco

Pelo contrário
tal como no anagrama
se queres conhecer o teu coração
luta e combate
conhece a Razão
e ama
os entes animados
consagrados
que te oferendou
a Criação!

And as such, I quit from being Wikipedia contributor


After thousands of contributions to Wikipedia for several years in several languages, I quit of contributing to Wikipedia. Not because I think that some articles are not trustworthy, because they are in many fields, like maths and physics where passions and ideals do not play an important role, but I definitely do not want to lose my time contributing to a project, which in many fields, is nothing but a post-truth digital leaflet of american historical propaganda.

I refer particularly to the article for the "atomic bombings of Hiroshima and Nagasaki", which is written strictly from the american side. Till here, no big issue, since Wikipedia works from contributions from donors, i.e., people like me that used to write for several articles enlarging them, so, it is not so uncommon that an article lacks a neutral point of view as the person who wrote it, might have had a biased approach. But as I tried to improve the article, providing reliable sources for the sentences I was adding, trying to confer more neutrality to such article, in a harsh debate (let's hope they will not delete it, as is is also typical sometimes), every step I made, in every sentence, was blocked by a bunch of "american patriotic" editors that seemed to think that dropping a weapon of mass destruction upon civilians does not raise an ethical issue. It's incredible ridiculous, but it is from this self-evident truism that the verbal tension arose. 

It was a tremendous huge and harsh debate, as I was simply trying to include this sentence, which was blocked:

The ethical justification for the bombings of Hiroshima and Nagasaki is still debated to this day, due to several reasons including the number of casualties provoked by the bombings or the alleged militarily unnecessary, though other bombings such as on Tokyo have killed more people; but also due to the usage of weapons of mass destruction upon civil population.

I cite my last and final sentence to that debate:

Do we really need the other article [about the ethical debate of the bombings] to include such evident truism, so that it can be included here? Do we need sources for a truism? Even if we needed, I gave you as a source, a book with 552 pages that respects WP:SOURCE whose title is "Ethics and Weapons of Mass Destruction", which mentions several times Hiroshima? What do you need more to accept such sentence? If you want to convert WP in the digital leaflet of US post-truth historical propaganda, feel free, I'm out of WP as contributor, I quit. And I definitely, as a reader will stick to physics and math, as we based ourselves there on ''facts'' and not on patriotic ideals, and above all we do not make cherry picking (this article is cherry picking based from start to end), and I will give zero credibility to any article referring to US History or anything connected to US. You're a bunch of History re-writers, not better than Stalin's scripters.

Das declarações do eurodeputado polaco sobre a igualdade de género


      Nada é tão belo como a Verdade
              Boileau

Um eurodeputado polaco afirmou, no Parlamento Europeu, que as mulheres deveriam ganhar menos do que os homens pois são, no seu entender, "mais fracas, mais pequenas e menos inteligentes", tendo o referido eurodeputado facultado alguns dados estatísticos, como os resultados nas olimpíadas ou no xadrez, para alegadamente demonstrar que as mulheres são, em média, mais fracas fisicamente e menos intelectualmente capazes. Cumpre-me apenas apresentar quatro pontos.

1) Sancionar o eurodeputado por dizer o que pensa, como foi pedido por vários eurodeputados e membros da sociedade civil, é mais um ataque gritante à liberdade de expressão, levada a cabo pela vox populis e pela ditadura do politicamente correto, por muito que discordemos das suas opiniões, principalmente num lugar onde a liberdade deveria ser um dos magnos pilares, ou seja, no Parlamento Europeu, tendo em consideração em acréscimo a diversa jurisprudência que o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem tem levado a cabo com referência à liberdade de expressão.

2) Por muito animalesco que seja o referido deputado nas suas declarações, ele apresentou factos estatísticos que justificam o porquê da desigualdade salarial. As mulheres, em média, devido à evolução antropológica, têm uma inteligência espacial mais baixa que os homens (no Paleolítico as mulheres ficavam na tribo enquanto os homens saiam para caçar, e a necessidade de caça foi o que providenciava aos animais capacidades abstratas e espaciais de inteligência), têm menor nível de musculatura (pela mesma razão), e são menos agressivas, o que explica em parte o menor número de mulheres nas lideranças das empresas ou dos países. Têm todavia as mulheres, em média, maior inteligência social (tendo ficado mais tempo junto dos outros membros da tribo, obrigou-as a otimizar as relações sociais e interpessoais com os demais membros da tribo), maior criatividade, maior capacidade para cuidar (são elas que no Paleolítico praticamente sozinhas cuidavam dos filhos) e muito maior resistência à dor (devido ao parto). Por isso são usadas amiúde e preferencialmente por estados e empresas para cargos diplomáticos, relações públicas, recursos humanos, cargos onde se envolve a psicologia, ensino ou cuidados médicos.

3) Acima das questões físicas, genéticas, fenotípicas ou evolutivas, e podemos também usar estes argumentos para justificar a desigualdade entre raças, etnias, estrato social, idade, nacionalidade ou orientação sexual, porque elas existem; está o respeito pelos Direitos Humanos, à luz dos quais, qualquer ser humano deve ser tratado pelo estado e pelos outros sem qualquer tipo de discriminação, aliás, tal como plasmado na Constituição da República, no artigo com referência ao princípio da igualdade, princípio que defendo veementemente. Ou seja, antes da genética, da evolução, da estatística ou do preconceito, está, no desígnio de um princípio civilizacional, a Carta dos Direitos do Homem, na qual está patente que todos devemos ser tratados de forma equalitária. Nesse sentido, declarações públicas como as proferidas por um alto membro do Parlamento Europeu, são no mínimo, muito pouco delicadas.

4) As feministas têm essencialmente, no meu entender, de encarar o seguinte paradoxo, na senda da defesa da igualdade de géneros, a qual, naturalmente também defendo. Caso as mulheres defendam medidas de discriminação positiva, estão de facto, a assumir que a estatística e a genética são importantes, e que existe à priori uma diferença entre géneros que debilita as mulheres, e que, por conseguinte deve o legislador, tal como já faz para pessoas com debilidades físicas, enveredar por políticas de discriminação positiva. E acima de tudo, julgo, que então deveríamos também enveredar por políticas que evitassem a discriminação entre raças ou etnias. O Parlamento Português e o Parlamento Europeu, não têm, e devo confessar que o considero no mínimo muito estranho, um único deputado negro.

Concluo que, por muito animalescas, na forma, que sejam as declarações do sr. eurodeputado, elas baseiam-se em alguns factos estatísticos verdadeiros. Mas acima da estatística ou da genética, está a carta dos direitos humanos, à luz da qual todo o ser humano deve ser encarado com respeito, liberdade e igualdade, pelo estados e pelos outros.

Do "machismo" gramatical da língua portuguesa


A morfologia do Português é patriarcal

Recentemente o Prof. de linguística João Veloso, antigo presidente da Associação Portuguesa de Linguística, no seu blogue, fez uma análise científica, refutando a ideia de que a língua portuguesa seja "machista" e "heteropatriarcal". Refere o académico que a concordância, no caso do Português em género e em número, é uma propriedade universal de todas as línguas, e que declinando as palavras, servem para categorizá-las todas num mesmo grupo, grupo esse cujos elementos partilham denominadores comuns. Dá o seguinte exemplo:

       O novo professor inglês de Matemática chegou ontem

Repare-se que estando "o professor" no masculino singular, ou seja, o substantivo; também o artigo definido "o", e os adjetivos "inglês" e "novo", concordam em género e número com a palavra "professor", sendo que normalmente nas línguas, é o género do substantivo quem dita o género das palavras ao qual estão associadas. Repare-se todavia, que apesar de a concordância poder existir em abstrato em todas as línguas do mundo, ela é, de facto, transparente no Inglês. Usando do próprio exemplo do académico, na língua inglesa ter-se-ia:

       The new English teacher of Math arrived yesterday

Não há informação nesta frase em Inglês, sobre o género das palavras, apenas sobre o número, e mesmo no número não há lugar a concordância porque em Inglês os adjetivos (e por norma os nomes) não declinam em função de género ou número. 

Já em Alemão, existem três géneros (der, die, das), o que evita em grande parte a denominada gramática "heteropatriarcal", visto que existe em acréscimo o género neutro. Obviamente que quando se trata de pessoas, a declinação existe também em género e em número, existindo também o facto de que, num grupo onde haja apenas um elemento do sexo masculino, a declinação do substantivo é a masculina. No caso da palavra cidadão, que deu tanto que falar devido à polémica lançada por um partido político que mencionava que a palavra cidadão era masculina, logo machista, e que por conseguinte se deveria mudar o cartão de cidadão para cartão de cidadania, temos em Alemão também as quatro variantes em função do género e do número:

       der Bürger | die Bürgerin  Pl.: die Bürger, die Bürgerinnen

Mas interessantemente, em Alemão, o artigo definido plural é único, não havendo no plural variação em função do género, sendo que é igual ao artigo definido feminino no singular, ou seja die. O mesmo fenómeno acontece para o pronome pessoal feminino singular, ou seja, sie, que é igual ao pronome pessoal no plural, que também é único e não depende do género, ou seja, sie. Isto é, para a "pluralidade", em Alemão, adotou-se o feminino e não o masculino.

Já no neerlandês, e nas línguas nórdicas germânicas, num processo evolutivo, o género feminino foi fundido com o género masculino criando um género "hermafrodita", tendo todavia permanecido nestas línguas, o género neutro. Assim, em neerlandês diz-se de vrouw e de man para "a mulher" e "o homem" respetivamente. Já, "a criança", tal como em Alemão das Kind, adota o género neutro, neste caso em neerlandês, het kind. Ou seja, apesar de no neerlandês e nas restantes línguas nórdicas germânicas haverem dois géneros, esses dois géneros não são de facto o masculino e o feminino, são um que resulta da fusão do masculino e do feminino, sendo que o outro é o neutro. Logo, diria que numa análise sintática mais objetiva, pode-se afirmar que de facto existe uma certa gramática "patriarcal" na língua portuguesa e restantes línguas neolatinas, visto que são línguas que têm apenas dois géneros, sendo que é o género masculino quem domina.

Ainda em relação à questão do termo "género gramatical", o académico refere que é apenas uma infelicidade taxonómica de um legado antigo indo-europeu e que deve ser abandonada. Parece-me todavia que o autor quis acima de tudo incutir no público uma visão politicamente correta e não discriminatória da língua Portuguesa. De facto, o género gramatical é um legado do proto-indo-europeu que não pode ser ignorado, como está patente na grande maioria das palavras que fazem referência a seres animados providos de género biológico, como em gato e gata, menino e menina, porco e porca, galo e galinha, cão e cadela, etc., sendo que, a grande percentagem das palavras em Português assinalam o género gramatical em função da letra [o] ou [a], sendo as palavras sofisma, problema, tribo ou planeta, apenas raras exceções. Em Português aliás, esse género estritamente morfológico é mais evidente devido à própria terminação da palavra com as letras [o] ou [a], que são mais determinantes para a definição do género gramatical, do que propriamente a atribuição zoomórfica ou antropomórfica de marcas animadas e humanas a entes inanimados ou não humanos, plasmados em tal palavra.

Uma análise psicanalítica à ortografia

Todavia, permiti-me, porque também me interesso muito pelo estudo da psicanálise, uma análise gráfica mais profunda sobre a questão psicanalítica da ortografia, mais concretamente com referência ao género. Na língua portuguesa, claramente que a letra [A], é a letra que marca maioritariamente o género feminino, sendo que a letra [O], marca o género masculino, sendo que estas duas vogais são usadas amiúde para assinalar o género de quase todas as palavras, declinando-as, independentemente das funções sintáticas de tais palavras. Mas se analisarmos graficamente com minúcia e detalhe, repararemos que a letra [A], do ponto de vista gráfico e psicanalítico, obedece a uma estrutura fálica, sendo assim masculinizada. Pelo contrário, a letra [O], por ser graficamente e constantemente curvilínea, obedece, não tendo qualquer protuberância fálica, do ponto de vista psicanalítico, a uma estrutura visual efeminada.

Assim, permiti-me a observação, mas de facto, numa análise estritamente morfológica, pode-se afirmar que a língua Portuguesa, assim como o Espanhol, é uma língua "heteropatriarcal". Todavia, numa análise mais psicanalítica (alguns diriam mais críptica), estas línguas são na realidade "matriarcais", pois concedem a virilidade máscula e fálica, tradicional e culturalmente associadas ao poder e autoridade, ao género feminino. Dito de uma forma mais plebeia e pouco rigorosa do ponto de vista científico, pode-se afirmar que a língua portuguesa, do ponto de vista exotérico (visto de fora) é uma língua marcadamente patriarcal, dada a sua semântica e morfologia, mas do ponto de vista esotérico (visto de dentro), pode-se afirmar, considerando a questão gráfica e do que se conhece da psicanálise, que a língua portuguesa é de facto matriarcal.