Da incompetência e da Ciência


Hoje li sobre uma das mais famosas falácias lógicas, a da falsa dicotomia. A falácia basicamente refere que entre dois pontos aparentemente opostos, se assume que apenas um poderá estar certo, quando na realidade ambos poderão estar corretos. Neste caso refiro-me às declarações da ministra da administração interna aquando de mais uma tragédia grave com vários mortos, quando esta apontou as alterações climáticas como uma das causas principais para a proliferação de incêndios. Por outro lado, os críticos apontam a crónica incompetência de quase todo o pessoal político do ministério, assim como o pessoal político que pulula na proteção civil, sem quaisquer competências técnicas. Ambos têm razão!

Questão técnica e política 

Fontes: [1][2]

Parece-me óbvio que o governo tem sido incomensuravelmente incompetente, pois hoje sabe-se que em tempos colocou alguns boys do partido socialista à frente de uma organização que exige elevados conhecimentos técnicos. Aliás, hoje também se sabe que o próprio curso do presidente da proteção civil foi uma fraude, ainda mais grave que o caso de Miguel Relvas. Se a proteção civil fosse, em muita remota teoria ideológica, gerida por entidades privadas, não faltaria a vozeria de Mariana Mortágua com o sacrílego e verborrágico anátema: “o capitalismo mata”. O facto de as falhas do sistema SIRESP terem tido um efeito negligenciável na tragédia, de acordo com o relatório independente elaborado por técnicos e não por políticos, foi sobejamente olvidado por toda a esquerda parlamentar e pelo próprio governo, porque sendo uma parceria entre o estado e um privado, teria sido o alvo perfeito para colocar todas as culpas da tragédia. Mas o culpado foi de facto o estado, e o aforismo “o estado mata” não faria qualquer sentido num país dominado politicamente pela esquerda, até porque o mesmo estado já promete mais 10 euros (em capital, leia-se, e não em víveres) nas pensões já para o próximo ano. Em acréscimo o montante financeiro que o estado gasta em prevenção de incêndios é quase residual comparado com todas as outras rubricas que são as grandes bandeiras da esquerda. Não, longe de mim inferir que os funcionários públicos e os pensionistas têm qualquer responsabilidade direta nos incêndios, mas de facto, os recursos do orçamento de estado são limitados, e em política, como sapientemente referem muitas pessoas de esquerda, fazem-se escolhas.

Questão estritamente climática


As pessoas contra o governo ignoram, por mero preconceito ideológico, que foi um dia demasiado quente e seco para o mês de Outubro. Não tenhamos quaisquer dúvidas que tem sido o aquecimento global, conjugado obviamente com a incompetência, um dos causadores destes fogos infernais. Mesma na Califórnia recentemente, onde nos EUA existe uma corporação de bombeiros extremamente profissional e qualificada, visto que os “mercenários capitalistas” por lá não aceitam amadores, já morreram nestes últimos dias cinquenta pessoas. Portugal, devido às alterações climáticas, está numa zona de limbo extremamente perigosa, pois ainda tem muita floresta (ao contrário de Marrocos cujo tempo seco dos milénios já a extinguiu, e basta ver também que no Alentejo praticamente não há fogos), ou seja, matéria combustível, tendo um clima seco (por estar muito a sul) e ventoso (devido à proximidade com o Oceano Atlântico). Temos, como país, de nos preparar para este fenómeno e não podemos todavia jamais usar a natureza como desculpa. Eu habito na Holanda, ou seja Países Baixos, visto que a sua superfície média está abaixo da cota média do mar, e seria impensável para qualquer governo holandês, caso o sistema de diques falhasse e o país ficasse inundado, alegar que a culpa é da natureza, do mar ou do princípio dos vasos comunicantes, para o facto de o país ter ficado, em remota teoria, totalmente inundado. A necessidade aguça o engenho, e por isso, os holandeses são dos melhores do mundo em engenharia hidráulica. Considerando que temos ainda muita floresta no centro de Portugal, ou seja, matéria eventualmente combustível, e que as alterações climáticas são um facto indesmentível, com o consequente aquecimento global e maiores períodos de seca, importa estarmos muito mais bem preparados para tais fenómenos no futuro. E para tal precisaremos de mais tecnocracia e de menos política.

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