Muitos tratados devem existir sobre esta obra, e não trarei por certo aqui nada de muito novo, mas há algo que gostaria de referir após ter lido este livro.
Reparem que Cândido é inicialmente mal tratado num castelo alemão, por um qualquer soberano despótico alemão, mas também não percebo se Cândido que vive nesse castelo é alemão ou francês. Cunegundes, a sua amada, inicialmente despreza-o. Cândido é mal tratado pelos búlgaros, povos eslavos, sendo que historicamente ainda não percebi bem porquê, existe uma querela ancestral entre os eslavos e os germanos e tal está retratado no livro quando Cândido é mal tratado pelos búlgaros. Há uma crítica forte à corrente do otimismo, no sentido que o filósofo diz que vivemos nos melhores dos mundos possíveis, mas Cândido leva uma vida errante, de desgraça e de azares. Voltaire como fervoroso defensor da Liberdade, acredita todavia no Livre-arbítrio.
Voltaire faz também uma crítica severa com o livro à religião (nada de novo até porque era mação) quando Frei Giroflée, o clérigo da história aparece sempre, com uma bela moça de nome Paquette, criada da família de Cunegundes.
O homem negro ou o indígena é enaltecido no livro, com a personagem de Cacambo, nome claramente africano ou de índole tribal, pois esta personagem ajuda Cândido constantemente e acompanha-o nas suas peripécias vivenciais. Tal pode estar implícito através dos ideais maçónicos de liberdade, que se manifestaram na abolição da escravatura.
Há uma crítica forte aos judeus, usurários e às elites financeiras (muito atual diga-se), quando Cândido regressa rico das suas viagens mas fica sem nada porque tem de pagar taxas de conversão, arredondamentos, juros, e toda uma série de encargos com os judeus que lidam com os seus valores.
Uma crítica enorme ao fleuma germano, na personagem do Barão, irmão de Cunegundes. Ou seja os alemães aristocráticos são encarados como sendo frios e fleumáticos, estritamente intransigentes.
Depois no final da história uma crítica aos pseudo-doutores, ou conselheiros, quando Cândido pede conselhos a um doutor (turco ou árabe não me lembro), este é rude, arrogante e de uma banalidade intelectual gritante; no entanto o aldeão turco revela uma sabedoria simples e humilde, mas enriquecedora; revelando assim o livro a riqueza da sabedoria popular.
No fim, Voltaire faz uma crítica no meu entender ao impulso dos homens atrás do poder e do prazer fácil, quando depois de Cândido ter passado por tantos tormentos e dificuldades, depois da sua amada ser feia e gorda, depois de ter perdido todo o dinheiro que tinha ganho, dedica-se à horta, ao cultivo e ao trabalho, ao lado da sua mulher e da Velha (uma associação simbólica que pode significar que devemos envelhecer ao lado das nossas companheiras amadas) referindo ainda que o trabalho evita três grandes males: o vício, a necessidade e o tédio (ou outros três similares).
A recompensa final que Cândido teve foi uma pequena horta para plantar as suas cousas, com uma mulher feia e gorda que em tempos amou. É isto derrotismo ou é esta a ascese final do aventureiro?
O que vos digo é que o livro é bem atual, e todas as críticas são muito pertinentes e aplicam-se hoje em dia: a pedofilia na Igreja, os alemães fleumáticos e intransigentes, os juros e taxas cobrados pelo sistema financeiro controlado pelos judeus, a crueldade de alguns povos eslavos como se constatou na guerra da Jugoslávia, a futilidade de algumas correntes filosóficas que tanto abundam pelos nossos mídia; a crítica à busca do prazer fácil e imediato, e a não aceitação dos companheiros que se manifesta na elevada taxa de divórcios, e por fim o ideal da redenção através do trabalho, aqui uma crítica maior neste caso aos povos do sul.
Uma leitura que recomendo.
Parabens. Fizeste um grande esforço no presente resumo, sobretudo quero concordar consigo em relaçao a actualidade deste livro para os dias hodiernos.
ResponderEliminarCândido era alemão,se fala no capítulo 14 quando ele encontra o senhor Barão no Paraguai. "Como eram alemães, demoraram-se à mesa,..."
ResponderEliminarSempre assim considerei, com ideias sempre atuais, daí ter adotado o pseudónimo que uso no Facebook: CÂNDIDO VOLTAIRE
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