O milagre das contas certas


O saldo estrutural compara as receitas e as despesas públicas sem considerar o ciclo económico nem ganhos ou perdas pontuais e não recorrentes. É como se no seu orçamento pessoal considerasse apenas as suas despesas fixas e o seu salário base fixo, e desconsiderasse algum subsídio ou ganho extras que possa ter recebido pontualmente, desconsiderando ainda alguma despesa extra inesperada. O saldo estrutural analisa, assim, apenas a  diferença entre as receitas e as despesas estruturais das administrações públicas, desconsiderando o ciclo económico e receitas ou despesas extraordinárias. O saldo estrutural primário baseia-se no mesmo princípio, mas desconsidera ainda pagamentos de juros da dívida pública, juros esses cujo valor o país não controla na plenitude, pois dependem essencialmente das políticas monetárias e de compra de ativos do Banco Central Europeu. Pode-se ver no gráfico acima, que é do Banco de Portugal, que o saldo estrutural primário praticamente não se alterou desde 2013, tendo de facto piorado desde 2012. O milagre das contas certas de Mário Centeno é, esmiuçadas as mesmas, um mero embuste político-mediático.