Dos táxis, taxímetros, ambiente e segurança rodoviária


Foto de Marilyne Marques, para o Público
Como não tenho automóvel particular, desloco-me frequentemente de táxi, pois considero que é um meio de transporte versátil e apesar de tudo, tem um preço por km suportável para quem poupa cerca de 400 euros por mês por não ter automóvel próprio.

Custo por km

Os táxis em Lisboa têm um custo total ao utente, que rondará entre 1 a 1,5 euros por km. Poderá parecer um valor elevado se considerarmos que um automóvel a gasóleo tem um custo de aproximadamente em média 0,08 euros por km e um a gasolina cerca de 0,12 euros por km. No entanto, as despesas dos automóveis não se resumem a combustível, tendo ainda mais onze itens, mais especificamente o seguro, as revisões, as reparações, o possível crédito automóvel, a desvalorização do veículo, as lavagens, as eventuais multas, o IUC, as portagens e o parqueamento. Ora, este custo total por km ultrapassa muitas vezes os tais 1,5 euros por km, significando que existe uma parcela de automobilistas para os quais, seria mais rentável simplesmente vender o carro e deslocar-se de táxi para todo o lado.

Serviço público

Os táxis além de serem versáteis, no meu entender prestam um serviço público, pois não deixam de ser transportes públicos individuais em oposição aos transportes públicos coletivos. Têm a vantagem de deixar o utente no destino, com motorista particular, podendo o utente dedicar-se a outras tarefas que não a condução, e além disso – muito importante em meios urbanos – não ocupam espaço à chegada, como um automóvel particular que naturalmente buscará um lugar de estacionamento. Apesar da elevada taxa de motorização do país, há muitas pessoas que não têm carta de condução ou não têm automóvel, sendo assim o táxi uma peça fundamental de mobilidade. Além disso, muitas dessas pessoas não têm acesso a sistemas omnipresentes e eficazes de transportes coletivos de passageiros.

O caso do interior do país é paradigmático pois falamos muitas vezes de zonas rurais e de populações envelhecidas, onde por questões de escala não justifica existirem sistema de transportes coletivos de passageiros. Os táxis, prestam assim no meu entender, um serviço público às comunidades e ao sistema de transportes em geral.

Espaço público

Lisboa é particularmente um caso de estudo nessa matéria no seu centro urbano, pois está repleta de lugares de estacionamento que ocupam espaço público que poderia estar alocado a jardins ou esplanadas, sendo que por norma a autarquia, em vez de desincentivar os lisboetas a trazerem o automóvel particular para os centros urbanos, troca lugares de superfície por lugares subterrâneos em parques de estacionamento extremamente onerosos para o erário público.

Assim, os táxis ao deixarem os passageiros nos locais de destino e seguirem caminho, são automóveis extremamente eficientes para o sistema de mobilidade das cidades, pois por norma na maioria do seu tempo, estão a transportar passageiros, ao contrário das viaturas particulares que passam a grande maioria dos seus tempos imóveis e estáticas, aumentando grandemente a ineficiência de qualquer sistema de mobilidade.

Todavia o sistema de táxis em Portugal não é perfeito e está mesmo longe disso. Aponto como principais críticas ao sistema de táxis e aos taxistas, e em particular ao caso de Lisboa que conheço melhor, os seguintes pontos.

Ambiente

Os cerca de 3500 táxis que tem Lisboa, são extremamente poluentes, sendo que 1/5 tem matrícula anterior a 1993, ou seja, à data de 2014, são veículos com mais de 20 anos. Além da idade avançada do parque de táxis da capital, a grande maioria dos veículos é a gasóleo, sendo os motores a gasóleo um grave problema para a saúde pública, principalmente os mais antigos, devido à emissão de material particulado. É então paradoxal, que a autarquia de Lisboa tenha implementado medidas de restrição ao tráfego de veículos antigos no centro da cidade por questões ambientais, tendo todavia isentado os táxis numa medida completamente política sem qualquer fundamentação técnica, para o objetivo que se comprometia, ou seja, diminuir a poluição dos centros urbanos.

Comportamentos agressivos

Há essencialmente dois aspetos que fazem com que os taxistas tenham muitas vezes comportamentos agressivos na estrada, colocando em causa a segurança rodoviária, principalmente a dos utilizadores mais vulneráveis como peões ou ciclistas. Eles são a ansiedade e o excesso de velocidade devido ao modo de funcionamento dos taxímetros.

Os taxistas são indivíduos que passam muitas horas dentro de um automóvel, com tráfego, poluição, ruído, e por conseguinte estão muito mais propensos à ansiedade que degenera em comportamentos mais agressivos ao volante. Julgo que neste ponto existe uma vertente antropológica e fisiológica. O sistema fisiológico e endócrino do ser humano (Homo Sapiens que é o Homem), evolutivamente, sempre associou velocidade a adrenalina, pois a adrenalina era necessária em momentos de aflição para fugir de predadores e de feras. Não deixa de ser estranho, que muitos médicos consideram que correr, é das melhores terapias para sanar a ansiedade. Mas se pelo contrário nos deparamos com a velocidade e não queimamos a adrenalina, como o caso de alguém que passa muitas horas a um volante, essa mesma ansiedade acumulada degenera em comportamentos agressivos. É pois compreensível observarmos tantas vezes comportamentos tão agressivos no tráfego, principalmente quando há congestionamento ou após velocidades excessivas.

Mas é interessante que por exemplo os ciclistas, apesar de estarem estatisticamente muito mais sujeitos a situações de perigo, por não terem um chassi de proteção, não consta que tenham comportamentos mais agressivos que os automobilistas, bem pelo contrário. Tal prende-se com o facto, de os ciclistas queimarem essa adrenalina e ansiedade através do exercício físico, quando pedalam na sua bicicleta.

Velocidade excessiva

Devem existir poucos taxistas que cumpram o limite legal de velocidade estabelecido pelo Código da Estrada para os meios urbanos, se bem que faço aqui uma abordagem estritamente empírica. Creio que tal prende-se com o modo como funcionam os taxímetros.

Um taxímetro é um contador com dois modos; distância e tempo. A alternância do modo depende da velocidade do veículo. A uma velocidade muito baixa (abaixo de 15 ou 10km/h) o taxímetro entra em modo de contagem de tempo; tendo para tal uma tarifa por minuto. Acima dessa velocidade entra no modo distância, tendo associada uma tarifa por km. Para que possamos comparar os casos extremos, se fizer uma viagem de táxi onde o veículo não tenha que parar, nem em semáforos nem em congestionamento, pouco interessa o tempo que demorar, pois vai ser taxado unicamente ao km. Já se todavia, alguém entrar no táxi, e pedir ao taxista para esperar e posteriormente dizer que já não quer usar o serviço, aplicar-se-á unicamente uma tarifa por minuto.

Significa que em termos práticos, não havendo trânsito e com poucas paragens, como acontece à noite; é altamente rentável aos taxistas adotar velocidades elevadas, pois matematicamente tal significa um maior salário à hora. Mas mesmo durante o dia, quando o taxímetro entra em modo distância, que é o modo onde se encontra na maioria do tempo, é preferível para o taxista adotar velocidades elevadas pois o cliente é taxado unicamente ao km, significando do ponto de vista matemático, um maior retorno financeiro por unidade de tempo.

Eu por exemplo, sempre que entro num táxi, peço educadamente ao condutor para que cumpra os limites legais de velocidade. E como tal, o preço final que pago pelo trajeto, é praticamente o mesmo, daquele que pagaria caso o taxista adotasse velocidades excessivas, já sem mencionar as questões de segurança.

Carteira profissional

Defendo então, desde há algum tempo, que para se ser condutor profissional de táxi, um meio de transporte eficiente e com um enorme potencial, deveria não só naturalmente ser-se obrigado a ter carta de condução, mas ser-se também obrigado a fazer exame de Código da Estrada, de cinco em cinco anos, com módulos pedagógicos de segurança e prevenção rodoviária.

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