O PayPal e a Amazon tornaram-se cambistas


Voltaire, em Cândido, diz-nos implicitamente, que existe uma espécie de parasitas da sociedade, a que se dá o nome de cambistas; pois Cândido, após voltar rico das suas viagens, fica pobre ao despender toda a sua fortuna acumulada em agiotas, judeus, usurários e cambistas. Poucas pessoas nos dias de hoje, no espaço da União Monetária que é o Euro, consideram as taxas implícitas que os cambistas aplicam, porque não têm que lidar com as mesmas. Mas é um negócio de milhões, que ademais permite mascarar o lucro, publicitando, como é comum, que a conversão é grátis e que não se aplicam quaisquer taxas. É comum, durante a aplicação de taxas de conversão entre várias moedas, observar que as casas de câmbio anunciam publicamente que não aplicam quaisquer taxas, e tal sempre me questionou desde criança. Como pode um negócio subsistir, se não se aplicam taxas e se os seus serviços são gratuitos?

Como o caro leitor bem saberá, o negócio do cambista não se baseia numa taxa fixa que aplica pela operação, mas na própria taxa de câmbio que aplica, que é sempre desfavorável para o cliente. Tornou-se desde há muito o negócio principal do PayPal. Têm havido várias queixas na Internet de lesados do PayPal, que fazendo negócios entre várias moedas, têm sido largamente lesados devido às taxas de câmbio aplicadas entre diferentes moedas, taxas essas altamente lesivas para o cliente. Dou-vos o exemplo da minha última compra. Adquiri um serviço anual de um servidor de Internet, e paguei cerca de 120 dólares americanos, que segundo o Google naquele momento, equivalia a 107 euros. Mas o PayPal cobrou-me 116 euros, mais 9 euros que o valor tradicional do câmbio. Ou seja, o intermediário, numa simples aquisição de um serviço, cobrou-me cerca de 8% de comissão apenas pelo facto de as moedas do prestador do serviço e do cliente, serem diferentes.

A Amazon agora também já entrou no mercado dos cambistas, e já é comum vender produtos na moeda do comprador, mesmo que o vendedor venda o produto noutra moeda. Aquilo que parece uma facilidade para o utilizador, na realidade é uma fraude, porque a taxa de câmbio aplicada é sempre desfavorável ao consumidor. Mas enquanto o negócio da Amazon vai muito para lá das meras questões financeiras, o PayPal faz disso o seu negócio, sob a capa de "tax free service". Assim, o meu conselho é para que faça sempre compras com cartão de crédito, na moeda do vendedor. Naturalmente que os bancos também aplicam taxas de câmbio que são lesivas para o cliente, mas são muito mais favoráveis que aquelas aplicadas pelo PayPal ou pela Amazon. 

E estes episódios, ademais, dão-me força para continuar a defender o projeto da Moeda Única, pois não imaginais a quantidade de gente que, sem produzir propriamente alguma coisa de tangível, faz milhões apenas neste tipo de transações entre diferentes divisas. O que também não deixa de ser um paradoxo, ser a esquerda político-partidária, quem mais ataca o Eurogrupo, tendo sido de facto o Euro, quem findou com o negócio dos cambistas dentro dos países da Moeda Única. Bem sei que a esquerda se opõe ao Euro por muitos outros motivos, mas pensai sempre, que com o Escudo, teríamos mais uma série de "parasitas capitalistas" para alimentar, sempre que quisésseis adquirir qualquer produto ou serviço fora de Portugal, num qualquer dos outros dezoito estados membros da União Europeia que adota a Moeda Única. Por este e outros motivos, hoje encerrei a minha conta do PayPal, e passarei a fazer compras na Internet apenas usando o cartão de crédito. No futuro, ou na Utopia de Thomas Moore, haverá apenas uma moeda mundial, e por conseguinte não será necessário suster cambistas. Mas será interessante observar como se conciliará a mesma moeda entre economias tão díspares como a Noruega ou a Etiópia.