A falácia de Varela


Raquel Varela é indubitavelmente uma intelectual que prezo ler e ouvir, é de esquerda, mas não se identifica de todo com os novos movimentos de esquerda que prezam cancelar individualidades com as quais não concordam ou que preferem defender minorias, mesmo que abastadas, apenas porque são minorias historicamente ostracizadas. Poder-se-á dizer, mesmo que Varela nunca o tenha afirmado publicamente, que é uma marxista conservadora defensora do proletariado. Tudo o que Raquel Varela escreve é interessante e amiúde factualmente verdade, como por exemplo o facto de os salários em Portugal serem demasiado baixos para o custo de vida do país. Diz-nos aliás, que de acordo com um estudo do ISEG, o salário mínimo real em Portugal é de 1100 euros.

Contudo não nos aponta um único caminho realista que seja para aumentar salários, exceto o da famosa falácia do "resultado a atingir", neste caso "é preciso subir salários" (a falácia do indivíduo que diz todos os dias "preciso de emagrecer", mas nunca se questiona como). Como é que se aumentam salários? Por decreto e vontade política? Mas se basta um decreto e muita vontade política, por que motivo nenhum ditador africano se lembrou de tal técnica administrativa para tornar o seu país rico? Varela não responde à pergunta pois sabe que entraria imediatamente numa contradição ideológica: os salários médios da população são mais altos quanto mais liberal e capitalista é um país, e aliás a literatura neste ponto é clara. Os países onde os salários médios são mais altos, mesmo já considerando Paridade Poder de Compra, são todos países com regimes capitalistas e com economias de mercado, mesmo que tenham amiúde um estado social assistencialista, como a Noruega ou a Dinamarca. Basta ver ademais os fluxos migratórios do próprio proletariado: para que tipo de regimes emigra o proletariado, quando tal oportunidade lhe é concedida?