Compensa ir a Espanha atestar o depósito do combustível?


De cada vez que o governo da República, porque as finanças precisam de receita, decide aumentar a fiscalidade sobre os combustíveis, correm jornalistas até à fronteira com Espanha, para, por um lado entrevistarem os portugueses que, habitando do lado português, atestam diariamente as suas viaturas nos postos espanhóis, e para por outro lado, confirmarem nos respetivos postos fronteiriços o verdadeiro diferencial de preços em causa. Por outro lado, não falta economista ou fiscalista, analista ou comentador ocasional, que se pronuncie contra o governo por mais este proclamado confisco “a quem trabalha”, estando por provar, que a correspondência entre automobilista e trabalhador seja biunívoca. Todavia, a pergunta pertinente que se coloca, visto que a maioria da população é matematicamente iletrada, é até que ponto compensa ir a Espanha atestar o depósito do combustível.

Imaginemos o caso retratado pela reportagem da SIC ou da TVI, de um diferencial de 0,25€ entre o lado Português e o lado Espanhol. Imaginemos o caso mais simples de alguém que conduz o seu veículo locomovido a gasolina já obtida num posto espanhol, e que vai até Espanha de Portugal atestar o seu depósito, chegando a Espanha quando o depósito está próximo do vazio. De acordo com fontes do sítio maisgasolina à data de março, a gasolina sem chumbo 95 teria um preço médio em Portugal, de cerca de 1,4€ por litro. Considerando a título de exemplo o diferencial de 0,25€ por litro, e um tanque médio de 50 litros, significa que a poupança rondará cerca de 12€ num depósito, valor que se enquadra naquele que os automobilistas testemunham ser a poupança que conseguem por ir atestar até Espanha.

Mas continuemos nessa ciência esotérica, em que em Portugal dá pelo nome de Matemática. A viagem até Espanha para abastecer só será financeiramente eficaz, quando a referida poupança compensar a viagem que o automobilista efetua até à fronteira, presuma-se já com combustível espanhol, mais a respetiva viagem de regresso. Consideremos então que a gasolina sem chumbo 95 custa em Espanha cerca de 1,15€ por litro, ou seja, 0,25€ mais barata que do lado Português. Caso consideremos ainda um carro que consome 7 litros de gasolina aos 100 km, significa que esse automóvel terá um consumo de 0,08€ por km. Considerando a poupança de 12,5€ em comparação com o lado português, essa poupança permitirá então ao automobilista efetuar cerca de 150 km adicionais, ou seja 75 km para cada lado. Isto quer dizer, que se habitar a 75 km da fronteira com Espanha, a viagem que fará até Espanha para abastecer, usurpará qualquer eventual poupança que consiga com o diferencial de preços. A mais de 75 km da fronteira, já não compensa a viagem.

Como no território nacional a distribuição populacional é extremamente heterogénea, ou seja, a grande concentração de pessoas, empresas e núcleos habitacionais encontra-se no litoral, e considerando que Portugal terá uma largura média de mais de 200 km – Badajoz dista de Lisboa por exemplo cerca de 230 km pela A6; já Tui dista do Porto ao longo do eixo Norte-Sul cerca de 120 km – significa que o alarido económico e alarmista, de imaginar excursões de automobilistas a ir até Espanha atestar o depósito, não tem qualquer validade científica. Em acréscimo, considere-se o tempo perdido, pois uma viagem de 75 km até à fronteira, com regresso, demorará em princípio, nunca menos de uma hora.

Conclui-se que matematicamente, o limiar a partir do qual compensa ir a Espanha atestar, considerando depósito de 50 litros e consumo de 7 litros aos 100 km de gasolina sem chumbo 95, descurando ainda o fator tempo, é cerca de 75 km entre o local em Portugal e a fronteira com Espanha. E mais importante ainda, repare que a poupança é de 12,5€ se habitar junto à fronteira, poupança essa que vai diminuindo linearmente à medida que o seu ponto de partida em Portugal fica mais afastado da fronteira. Uma regra de três simples e conclui-se por exemplo que a poupança a 30 km da fronteira já só é de 5€.

A fórmula geral é a seguinte:



2 comentários:

  1. pneus, travões, correias, óleos
    o próprio do carro (que não fica mais novo com cada km)
    ficam para quem?
    são 0,07€/km (na melhor hipótese)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tem razão, não fiz a contabilidade aos gastos totais por distância percorrida, tendo-me limitado ao combustível. Tem aqui um relatório completo sobre a matéria.

      Eliminar