Carta pública a Herman José


Prezado e Exmo. humorista Herman José, o terceiro melhor de Portugal (segundo o próprio)

Sempre o tive com muito apreço, consideração, e como um excelente humorista, não um daqueles Serafins Saudades que propalava frivolidades pseudo-engraçadas pelos meios do audiovisual. Afinal, um homem que tem a língua alemã como língua materna, só pode mesmo tecer raciocínios abstratos e analíticos, que carregados com um teor mais primário dos homens do sul, lhe conferiu a mescla genético-cultural perfeita para se ter tornado um humorista sublime e de excelência.

Já agora, onde foi buscar essa do terceiro melhor? Para mim é o melhor, está a ser modesto presumo! De certeza que leu o Fausto de Goethe no original, o homem que vendeu a alma ao Diabo, e ouviu as mais nobres óperas de Mozart, desde a Flauta Mágica às Bodas de Fígaro!

A língua alemã é das mais racionais das línguas indo-europeias, a língua da técnica, da análise, da razão, pouco carregada de sentimentalismo desviantes, a língua de Kant, de Beethoven, de Schopenhauer, de Freud, de Nietzsche e de Einstein. A essa racionalidade abstrata e a uma educação regrada num colégio alemão, fez do Herman um homem extremamente regrado e erudito, poliglota e letrado. Ao Herman aliou-se o José, o tuga, aquele homem banal e primário deste país do sul carregado de sentimentalismos e primarismos, desde a cruel matança do porco, as touradas, a política podre e politiqueira, até discursos de ex-dirigentes de um jornal que aufere 5 milhões de euros por ano com prostituição, mascarados de santinhos em prol da coisa pública, com contas milionárias, que vão ao Herman 2012 fazer propaganda para as novas autárquicas para Lisboa.

Serei sincero consigo Herman, desde que saiu da RTP que o panorama humorístico-televisivo nunca mais ficou a mesma coisa. O Herman Enciclopédia marcou a minha geração e marcou uma geração. O "homem que não é do norte" porque colocava entraves à Expo 97 no Porto, o Diácono, um epíteto muito bem conseguido para satirizar os beatos da velha ordem, as entrevistas históricas, desde a Martim Moniz que foi empurrado para a porta e que “não tinha nada a ver com aquilo”; Afonso Primeiro de Portugal ou mesmo Adolfo Hitler, assim como convidados intelectualmente válidos e com um perfil profissional de relevo.

Foi para a SIC, e a coisa "estragou-se". Passou a convidar atrizes de novelas brasileiras, para dar foco às novelas da noite, vieram os artistas de cabaret, as Cinhas Jardim, os jet 7 e os jets 8 e 9 passaram todos por aí, desde toureiros a políticos, desde miúdas que à noite eram “modelos” (modelos para quem, só Fausto é um modelo), de manhã eram atrizes, pivots da SIC, autarcas corruptos, gentinha frívola que nunca leu Goethe e acha que Fausto e Cândido são jogadores de futebol do Beira Mar. Sempre me questionei dessa passagem caro Herman, e a resposta apareceu numa noite quando dormia e ouvia na minha mente o pobre coitado pornólalo da MARSAPO (verbete não dicionarizado, corruptela muito bem adaptada de coprolalia) que nada mais dizia a não ser barboseiras. O Capital, como bem referia Marx; tornamo-nos escravos e vassalos do Capital!

Então o Herman quando foi para a SIC, deu o primeiro passo para aquilo que viria a ser o humorzinho, da banalidade e da futilidade, daquela gentinha que se ria com Serafim Saudade (essa sátira tão bem conseguida) e veio "os malucos do riso" esse programa tão mau, tão mau, que precisa dos famosos risinhos de fundo de uma plateia que não existe, que não se ri, do robô. Um destes dias, teremos políticos assim: falam banalidades mas como colocam uns sons de fundo vindos de um bom sistema estéreo com o bater apoteótico de palmas, a coisa parece válida e entusiasmante! E agora temos a Casa dos Segredos, onde o único segredo que ainda não consegui desvendar foi por que é que ainda há gente que vê a Casa dos Segredos!

Bem, e neste caminho triste, muito triste, que tomou a televisão portuguesa no campo do "entretenimento", onde temos que fazer "os favores" a quem nos paga (Herman eu sei que é difícil, sou funcionário público, mas já estou de saída) convidou o caro Herman esse néscio Carlos Barbosa, para fazer promoção execrável e populista aos automóveis e ao seu clube nefasto com nome ACP fundado ainda nos tempos da velha monarquia.

Faço um apelo ao Herman, não ao José, deixa lá o tuga que tens em ti (permite-me por favor o coloquialismo) e evoca a racionalidade do Germano, esse Homem da análise e da razão que há em ti!

Ouve caro Herman, 1/4 das importações (2010) que Portugal faz (um país falido a ser regido por credores) são carros e combustíveis. Entre 1990 e 2004 houve um crescimento de 140% no parque automóvel. Num espaço onde cabe um carro, cabem 18 bicicletas, 30 delas podem mover-se no espaço devorado por um único automóvel. São precisas três vias de um determinado tamanho para mover 40.000 pessoas através de uma ponte em uma hora fazendo-se uso do comboio, quatro vias para movê-las em autocarro, doze vias para movê-las em automóveis, e apenas duas vias para deslocá-las pedalando em bicicleta. Entram 700 mil carros em Lisboa todos os dias, se os quisermos estacionar todos, considerando um lugar de estacionamento padronizado de 12 m2 e considerando que os carros ficam todos frente a frente e lado a lado otimizando espaço, ficaríamos com a segunda maior freguesia de Lisboa. Ou seja, a segunda maior freguesia de Lisboa em termos de espaço com cerca de 8,5 km2 é o parque automóvel que entra na capital, só ultrapassada pelos Olivais.

É verdade Herman, o carro polui, causando diversas patologias cardiorrespiratórias. O carro agrava seriamente a nossa balança comercial: quantos litros de vinho e quantas rolhas precisamos de exportar para importar todo este parque automóvel? Quantos baixos salários e quantos mais impostos teremos de sustentar por termos tido estes projetos megalómanos e faraónicos de autoestradas em cada concelho, sob a suposta égide da não desertificação do interior? Constatou-se tempos depois, que na realidade as autoestradas fizeram tudo menos evitar a desertificação. Pelo contrário, colocaram-nos na miséria, com encargos futuros para as finanças do país praticamente impossíveis de suportar, que serão pagos com austeridade e mais impostos. Protelámos as responsabilidades, para que as gerações vindouras acarretem as consequências. Normalmente um pai, deixa património aos filhos. Pois a geração que reinou nos últimos vinte anos, deixará apenas dívidas e miséria, e o único património foi uma enorme rede de autoestradas que não pode ser vendida e que tem encargos monstruosos. É como se um pai, operário comum, deixasse ao seu filho, um trabalhador de classe média, um Ferrari topo de gama, e que ficasse lavrado em testamento, que o filho não o podia vender nem alugar.

Portugal tem 560 carros por mil habitantes só ultrapassado pelo Luxemburgo, um país riquíssimo onde o salário mínimo é mais de 2000 euros/mês, e pela Itália, um país rico com indústria automóvel. Esta nossa dependência energética ao exterior, torna-nos também como país extremamente dependente das flutuações exógenas, e torna-nos seriamente muito menos soberanos. Se um dia, o cartel da OPEP acordar maldisposto e fechar a torneira da seiva negra, a miséria extrema apoderar-se-á do nosso país. E só não o fazem, porque também eles o sabem que se o fizerem, nós cidadãos da Europa, superaremos as carências, como sempre fizemos ao longo da história e ultrapassaremos as dificuldades, criando verdadeiros sistemas eficientes de transporte e de energia, e se tal acontecer, não haverá retorno e nunca mais dependeremos do cartel do petróleo. Então, eles vão deitando a quantidade que consideram adequada, nem de mais, para que o preço não desça demasiado e eles ganhem o dinheiro suficiente, mas também, não de menos, para que o mundo não se sinta impelido a arranjar alternativas eficientes de mobilidade e de energia. Neste marasmo, o mundo estará sempre dependente do tio Sam e do cartel da OPEP, que vai especulativamente debitando os litros de petróleo para fora, consoante "as necessidades".

E repara Herman que o ser humano, sem a ajuda de qualquer ferramenta, desloca-se de forma bastante eficiente. O ser humano transporta um grama do seu peso ao longo de um quilómetro em dez minutos, gastando 0,75 calorias. O homem só com os seus pés é termodinamicamente mais eficiente do que qualquer outro veículo motorizado e a maioria dos animais. Com esta taxa de eficiência o homem conquistou o mundo e fez a sua história no planeta. Com esta taxa de eficiência, as sociedades camponesas gastam menos de cinco por cento e os nómadas menos de oito por cento dos seus respetivos orçamentos temporais e sociais fora de casa ou fora do acampamento. O homem em bicicleta pode ir de três a quatro vezes mais rapidamente do que o peão, mas utiliza cinco vezes menos energia no processo. O homem em bicicleta transporta um grama do seu peso ao longo de um quilómetro em estrada plana e consome apenas 0,15 calorias. A bicicleta é o transdutor perfeito que combina a energia metabólica do ser humano com a impedância natural da locomoção. Equipado com esta ferramenta, a bicicleta, o homem supera a eficiência energética não apenas de todas as máquinas, mas também de todos os outros animais.

Durante 7000 anos as cidades, com as suas praças e as suas ruas e artérias, foram locais onde as pessoas e os cidadãos se juntavam, onde se moviam, onde comercializavam, onde as crianças brincavam, onde os animais domésticos vagavam. A indústria automóvel foi obrigada assim, através de campanhas e técnicas fortes de mercadologia, a conquistar e a roubar passo a passo, o espaço vital para os carros se movimentarem, roubando assim espaço às pessoas. E nunca olharam para trás. Se pensarmos que por exemplo a Av. da Liberdade em Lisboa, no século XIX simplesmente não tinha carros e era o Passeio Público, um enorme jardim para os lisboetas passearem, e que hoje, é um autêntico IP dentro da cidade, com 5 vias centrais de trânsito e seis vias nas laterias (circulação mais estacionamento) perfazendo 11 vias de trânsito, que nem a A1 sequer tem. Se pensarmos que a avenida da República e a sua continuação, o Campo Grande, foram locais de lazer para as pessoas, onde os lisboetas passeavam, e hoje têm zonas com 15 vias para automóveis, ou seja o equivalente a 2,5 vezes as que tem a A1, apercebemo-nos que as técnicas promocionais que adotou a indústria automóvel para fazer o saque ao espaço público nas cidades foi feroz, e foi eficaz. Muitas dessas campanhas passaram exatamente pela cinematografia de Hollywood, pois a título de exemplo, não há herói do cinema que se preze, a quem não associemos um bom carro, desde James Dean, a qualquer um dos James Bond.

Caro Herman, e é neste delírio que o Herman convida para orador no seu programa o caruncho da sociedade, Carlos Alpoim Barbosa, que representa a podridão da classe que ele quer ser, da classe política. Sempre que abre a boca, é para satisfazer os interesses de algo tão sacral e fundamental que até deveria por certo estar constitucionalizado o seu usufruto, tal como uma casa, ou a saúde ou o emprego: o automóvel.

Caro Herman, faço-te um apelo, dá o lugar ao contraditório, dá espaço a que se oiçam outras vozes não tão sedentas de populismos fáceis mas mais sedentas da procura da Verdade filosófica que há no Schopenhauer que há em ti! E lembra-te que Schopenhauer prefaciava a sua Metafísica do Amor com Boileau: "Nada é tão belo como a Verdade, só a Verdade nos serve!"

um poema dadaísta dedicado a esse senhor, que por certo vai para a autarquia de Lisboa! Se ele ganhar ainda faço greve de fome!

Fica sabendo que enquato Poeta, és uma referência para mim!
Aquele abraço

João Pimentel Ferreira

4 comentários:

  1. O Herman até nem gosta nada de Automóveis, Nada mesmo. Um serie 7 v12, M5, Bentley ...enfim. Não perceber que existe lugar para todos é revelar aquilo que se é. da mesma forma que tenta denegrir a imagem dos Automobilistas por serem fundamentalistas, a sua defesa à merda da Bicicleta é o quê.... Fundamentalismo é pouco,,, Já agora..Gostava muito que se O Sr. Convidade do Herman José fosse para a CML, pelo menos não tinhamso uma baixa como temos, um marquês como temos. Este seu post dirigido ao Herman, e tentando denegrir a Imagem do Sr. Carlos Barbosa é muito triste....Ambos partilham da paixão dos Automóveis, dos Relógios etc...Você é triste,,,é mau..mas um dia pagará por isto tudo, porque Deus não Dorme....

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  2. Eu sugiro já acabarmos com passeios na cidade, para darmos mais espaço aos FDP. Ninguém está contra as extravagâncias de ninguém, relógios, carros ou whatever, o dinheiro é teu amor, gasta-o como quiseres. O problema é quando e ego excessivo em torno do carro, prejudica seriamente a qualidade de vida nas cidades...
    Uma beijoca, querida

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  3. Independentemente dos carros, das bicicletas e até dos triciclos, o que eu acho é que o Herman É O MAIOR e o resto é conversa....

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  4. E é mesmo! Não terá só qualidades mas que é um fenómeno é. E quem disser o contrário é parvo ou tem qq problema. Maior humorista Portugues e uma pessoa com uma cultura que tomara muitos, até os que estäo no governo. Herman, josé!! Seu palerma

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