A Educação e a Economia em Portugal


Começo por afirmar que considero que cada um deve ter a liberdade para escolher o grau académico que quer frequentar, em livres e plenas consciência e vontade, quer seja engenharia aeroespacial ou filosofia. Todavia, um dos fatores extremamente importantes para promover o crescimento económico, é ter quadros técnicos em áreas de formação onde a economia e o mercado laboral têm procura. Não deixa de ser estranho pois, que muitos eletricistas ou mecânicos aufiram mais por hora que muitos licenciados.

Se queremos ter um país industrializado em que os seus quadros superiores forneçam um alto valor acrescentado à economia, podendo desta forma alavancar o crescimento económico e por conseguinte ter salários altos e sustentar um Estado social forte e presente, precisamos de alocar quadros superiores para as áreas que criam maior valor acrescentado do ponto de vista económico, considerando que vivemos numa era de conhecimento e de tecnologia. Obviamente que num país desenvolvido é desejável haver quadros superiores em todas as áreas técnicas, desde a filosofia às engenharias, mas é preciso encontrar o equilíbrio que promova crescimento económico e qualidade de vida aos cidadãos. Todos concordamos que um país desenvolvido precisa de licenciados nas Belas Artes e na área da cultura, mas também é do senso comum que precisa de médicos em maior número.

Para bem ou para mal, a sociedade contemporânea é uma sociedade tecnologicamente vincada, assim, não é de estranhar que a grande maioria dos formados em engenharia, medicina ou outras áreas tecnológicas têm elevados índices de empregabilidade nas suas áreas de formação académica, e pessoas com formação superior nas áreas das ciências sociais e humanas, têm baixos níveis de empregabilidade na sua área de formação. Apesar de muitos destes do segundo grupo estarem empregados, trabalham em áreas diferentes da sua área de formação. É assim comum haver muitas pessoas com cursos de humanidades a trabalharem em call-centers, onde o nível salarial é mais baixo e as condições laborais facultadas pela entidade empregadora são de menor qualidade.

Dir-me-ão que não cabe ao Estado decidir o que cada um quer ser no futuro, e concordo em absoluto com essa premissa, mas não deixa de ser verdade que o Estado já regula de certa forma as profissões de cariz superior, pois é o Estado quem dita o número de vagas para cada curso. Todavia, o Estado foge completamente na regulação no ensino superior privado, e no meu entender, é neste ponto que se encontra grande parte do problema da educação com impactos negativos na economia. Durante anos, aos alunos que não conseguiam entrar no ensino superior público, as universidades privadas pareceram ser sempre opções aceitáveis considerando que havia uma pressão social para se ser formado. Contudo, grande parte dessas universidades, por questões de poupanças financeiras, tinham cursos superiores essencialmente na área das ciências sociais e muito pouco nas áreas tecnológicas. É comum haverem universidades privadas com cursos de marketing, relações internacionais, gestão ou direito, cursos com pouco valor acrescentado do ponto de vista estritamente económico, mas as mesmas universidades privadas, raramente lecionam engenharias, química, biologia ou medicina, áreas de formação com elevada empregabilidade e com um enorme potencial de promoção do crescimento económico.

O sucesso da Educação de países como a Alemanha ou os países nórdicos foi exatamente esse. É praticamente não terem universidades privadas, tendo uma maior fatia do ensino público superior alocado para as áreas tecnológicas. Por isso, o problema que a Educação enfrenta em Portugal no meu entender, não é ter licenciados a mais, visto que segundo os dados oficiais, Portugal tem 17% da população licenciada em comparação com a média da UE que ronda 25%. O problema no meu entender, é ter-se promovido - por motivos culturais e políticos - a formação superior em áreas com pouco valor acrescentado do ponto de vista económico.

Concluo todavia como comecei. Acho que cada um deve ser livre para escolher o curso e a formação superior que bem entender, sem nunca esquecer preferencialmente, que quando terminar a sua formação superior, o passo natural será procurar emprego, e de preferência na sua área de formação.

Uma evolução crescente na formação de licenciados (diplomados) em Portugal a cada ano,
atingindo hoje no total cerca de 17% da população em comparação com a média da UE de 25%.

Alocamos claramente muitos mais cursos superiores a áreas de formação não-tecnológica.
A economia contemporânea é muito dependente da tecnologia para o desenvolvimento e inovação
de bens transacionáveis e serviços de elevado valor acrescentado.
 

No terceiro grupo a contar da esquerda, a quase totalidade são advogados.
Portugal forma aproximadamente o dobro de advogados (Direito), do que forma de engenheiros.
Se o país quer apostar na industrialização, tem de se focar na formação de quadros referentes ao quinto grupo.

Crescimento acentuado de advogados e médicos em Portugal, desde 1960.

Este gráfico é uma adaptação do anterior, e revela a relação que existiu em Portugal
a cada década desde 1960, entre o número de advogados e de médicos. Proporcionalmente
fomos formando mais advogados que médicos. Em 1960 havia 2 advogados por cada 8 médicos.
Em 2010 já havia 4 advogados por cada 6 médicos.
A Alemanha em 2001 tinha 7 médicos por cada 3 advogados.


Todos os dados para a construção dos gráficos, foram obtidos do PORDATA.

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