As euro-obrigações representariam uma enorme transferência de fundos do norte para o sul


A nossa esquerda política está para o dinheiro dos outros tal como as ninfomaníacas no cio estão para o sexo: insaciáveis. Ricardo Paes Mamede, um dos académicos sapientes que representa a esquerda em Portugal, referiu-se aos coronbonds como algo "simbólico". O académico é economista, mas a sua eurfobia patológica coloca o ideário à frente da matemática. Já nem me refiro sequer aos eurofóbicos "das humanidades" como Pacheco Pereira ou Daniel Oliveira, que falam do Euro ou da partilha das responsabilidades com uma ligeireza e um simplismo intelectuais que nem sequer merecem contemplação. Mas vamos às contas? É que o estado social, tão adorado pelos "humanistas", tal como sempre referiu Medina Carreira, não sobrevive sem o vil metal, até porque os médicos e professores, consta, jamais aceitarão receber o respetivo salário em sal.

Os eurobonds representariam uma transferência adicional de milhares de milhões de euros do norte para o sul, considerando o diferencial resultante nas taxas de juro. Os do sul passariam a pagar menos e os do norte passariam a pagar mais pelos juros, pois aplicar-se-á provavelmente uma média ponderada, considerando, por exemplo, que o PIB da Alemanha é 16 vezes superior ao de Portugal, e por conseguinte a influência da Alemanha em baixar as nossas taxas de juro é mutíssimo superior à nossa influência em aumentar as suas taxas de juro. Mas de quanto dinheiro falamos? Qual seria a folga adicional? É difícil de contabilizar, mas podemos imaginar o caso mais simples de um diferencial de 1% nas taxas de juro. Recordo que bastaria 1% de diferença nas taxas de juro, considerando a nossa dívida pública de 250mm€, para representarem cerca de 2,5 mil milhões a mais nas nossas contas públicas por ano. São 250 euros a mais por ano para cada português. Dá para construir dois grandes hospitais centrais por ano. Dá para aumentar 50€ em todas as pensões. É muito dinheiro! É desta grandeza de valores que estamos a falar quando se fala de eurobonds!

Atenção contudo que esta poupança nos juros não seria imediata, pois presume-se que tal só se aplicaria a nova dívida e não à dívida já contraída. Todavia seria este o nível de poupança a muito longo prazo. No seguinte gráfico que é do Eurostat vemos, respetivamente, as taxas de juro de Portugal e da Alemanha a longo prazo, ao longo de 2019, e reparamos que o diferencial é cerca de 1%. Não nos esqueçamos que a influência que a Alemanha teria em baixar as nossas taxas de juro seria muito superior àquela que teríamos em aumentar as suas, considerando que o seu PIB é 16 vezes superior ao nosso.

Taxas de juro a longo prazo, a verde Alemanha, a azul Portugal
Fonte: Eurostat

Além disso, a entrada no Euro já representou de certa forma uma mutualização da dívida, e para tal basta olharmos para as taxas de juro dos diferentes países antes e depois da entrada na moeda única, tal como é visível no gráfico seguinte. Aliás, foi esse abaixamento das taxas de juro que permitu que políticos despesistas e demagogos como Sócrates pudessem ter aumentado a nossa dívida pública para patamares nunca antes vistos, os tais patamares estratosféricos da dívida que a referida esquerda acusa o Euro de ser o vil responsável. Com os eurobonds o risco de despesismo seria novamente um problema, pois facilitaríamos novamente o crédito barato que nos faria certamente aumentar novamente as dívidas pública e privada.


É muito fácil pedir solidariedade aos holandeses na partilha de responsabilidades de uma dívida, quando a maioria dos portugueses jamais estaria disponível para ser fiador do seu melhor amigo.

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