A deificação de um mercenário


Nicolau Maquiavel referia explicitamente no seu livro intitulado “o Príncipe” que quando um estadista entrega os seus recursos ou recruta mercenários, a desgraça apoderar-se-á da sua nação inevitavelmente. Hoje reconhecemos Maquiavel não como um filósofo ou politólogo, mas como alguém cuja doutrina evoca a disseminação do medo com o propósito do controlo absoluto de um estado ou nação. Mas Maquiavel também criticava abertamente os mercenários, homens sem princípios morais, sem filiações nacionais, sem estado, que combatiam exclusivamente pelas posses financeiras. O que os move é o capital, a riqueza e o poder. Depois de vencida a guerra e conquistada a nação opositora, sequiosos por dinheiro, amealhavam, saqueavam, e pilhavam muitas vezes a nação que os tinha contratado, pois o que os vinculava ao estado beligerante era apenas uma nota contratual, em que os mesmos eram ressarcidos através de altos prémios e bens apoderados à nação derrotada. Mal vencida a guerra, apoderavam-se dos bens da nação que os contratava e acolhia. São homens que lutam não pela fé, ou pela filiação nacional, ou por doutrinas nacionais, mas lutam única e exclusivamente pelo dinheiro. Há historiadores que referem que a desgraça e a miséria em África deve-se muito a mercenários que optam por se juntar a facções apenas por ouro e diamantes. Bem treinados, provenientes de várias nacionalidades, entregam-se aos actos beligerantes com o propósito de enriquecerem desmesuradamente. O Petróleo, os diamantes e o ouro são a desgraça do continente africano. Maquiavel repudiava abertamente todos os mercenários.

Pois o nosso afamado madeirense, especialista na arte de elaborar algumas peripécias na figura geométrica sem lados ou arestas, um objecto esférico apelidado de bola; tem traços muito semelhantes a qualquer um dos que se rege estritamente pelo poder e pelo dinheiro. A sua transferência para Madrid foi a mais onerosa de todos os tempos, segundo consta auferirá cerca de vinte e cinco mil euros por dia, e tal facto é subtilmente acarinhado por todos os meios de comunicação social internacionais. O madeirense que segundo consta era mal pago por terras de Sua Majestade, veio ao encontro dos nossos irmãos castelhanos com o intuito de estar mais próximo da cidade que o acolheu na adolescência, a nossa amada Lisboa. Com a construção da alta velocidade, estaremos mais próximos de Madrid e consequentemente do nosso Cristiano. Poderá o caro adepto mais fervoroso comprar um bilhete pelos módicos duzentos euros e viajar até à capital espanhola para assistir ao espectáculo degradante que é ver a estrela futebolística mais cara de todos tempos correr atrás do objecto esférico referido anteriormente. O Cristiano é acarinhado, tem lugar destacado em todas a televisões e jornais, tem lojas de roupa, acompanham-no por terras do novo mundo, onde descortinam a sua vida íntima e privada com mulheres voluptuosas e ardentes, observam-no na capital do vício e do pecado a gastar as suas parcas poupanças no jogo e no casino. Envolve-se com modelos num simples e factual acto luxuriante, sem compromissos matrimoniais ou afectivos, desvirtua-se com automóveis de alta cilindrada não acessíveis ao comum dos mortais. Ganha fortunas, porque tem o dote de saber dar uns toques. É perverso, ambicioso, pérfido e rege-se apenas pelo dinheiro, Maquiavel diria que temos as condições suficientes para o definir como um exemplo contemporâneo do mercenário. Aquele que se move apenas pelo capital. Que os há, sei bem que há, agora intriga-me observar os média a deificarem-nos, a considerarem-nos como um exemplo de salubridade ética e moral, a tornarem-no num exemplo para as gerações vindouras. O futebol cria as suas estrelas não através do dinheiro, mas através da paixão e do amor pelo desporto criado por terras britânicas. Eusébio viveu com alguma modéstia, apesar de ter sido um dos melhores do mundo e poderá dizer-se o mesmo de Pelé. A paixão pelo futebol nasce na associação entre o factor cultural e desportivo e a paixão por que é regido este desporto. As estrelas não se formam com dinheiro. O humilde Cristiano, proveniente da ilha tão afamada pelos discursos acalorados do Sr. Jardim, parece ter-se tornado na antítese da humildade, tornou-se em alguém altivo, soberbo e arrogante. E a juventude Portuguesa encara-o como o exemplo a seguir, alguém com quem se identificam, alguém que gostariam de ser no futuro, jogador de futebol e claro está, muito endinheirado.
Pois meus caros, o Português mais famoso do mundo, não passa simples e evidentemente de um mero e rude mercenário, que se rege estrita e unicamente pelo dinheiro. E os nossos média decadentes, transformaram-no num exemplo de candura e rectitude. Alguém com quem nos identifiquemos e orgulhemos pelo facto de ter no passaporte a nacionalidade de Camões.

4 comentários:

  1. Mercenário é o Robinho, que trocou o Real Madrid, um clube de topo, pelo Manchester City. Cristiano poderá querer dinheiro, mas ninguém duvida de que quando veio a Madrid vinha cumprir um sonho que teve quando viu jugar juntos os primeiros galácticos, e ficar perto da sua nação, num clima e mentalidade semelhantes.
    Os mercenários actuais têm outro nome: corruptos. E não me parece que o Cristiano seja um símbolo tão grande dessa paixão por dinheiro, até porque com o que ganhava em Manchester ou agora em Madrid até o vejo bem comedido. Responde-me: quantos automóveis de luxo tem o rapaz? Compara com o Eto'o que tinha uma vasta colecção, com o Ronaldinho, que tanto esbanjou em mulheres (entrega de flores em helicópteros...).
    Pois respeita o Cristiano. Com pouca oportunidade de formação que teve, com os problemas com o pai que são conhecidos até me parece um bom rapaz.
    Pobre artigo, muito pobre.

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  2. O facto de os outros serem mais mercenários que ele, não implica que ele também não o seja, mesmo que de uma forma menos intensa. Um individuo que aufere 25 mil euros por dia, tendo abandonado a escola que o formou que foi o Sporting, não deixa de ser também de certa forma um mercenário, embora de menor intensidade em relação àqueles que referiste. Se um politico corrupto é mais mercenário, as posses financeiras do Ronaldo são tão avultadas, que mesmo que o tornem menos mercenários, continua mesmo assim a sê-lo. Os teus argumentos são falaciosos pois desculpabilizam um mercenário referindo outros ainda mais gananciosos. Aliás, o mercenarismo está enraizado no futebol e nas sociedades ocidentais em geral. Eusébio era sim, um verdadeiro amante do Benfica, e foi graças a ele que o glorioso deu grandes alegrias à massa de adeptos benfiquistas. Se fosse hoje em dia, por certo teria jogado num grande clube Europeu a troco de elevados numerários e o Benfica nunca teria tido a apogeu que teve há cerca de quatro décadas. Hoje em dia já não existem jogadores que suem por amor à camisola, regem-se apenas pelo capital. Os únicos que continuam ainda fortemente ligados aos clubes, são aqueles que menos ganham financeiramente, aliás, têm despesas com quotas, que são os fervorosos e fiéis adeptos clubistas. Concluo afirmando que todos os jogadores de topo são mercenários, nos quais o Ronaldo se inclui. E os média deificam-no como símbolo de salubridade pessoal e profissional, um ícone para as novas gerações.

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    1. Meu caro, João Pimental, no seu artigo, vejo que se esqueceu dos verdadeiros mercenario os que colocam em andamento a maquina de fazer dinheiro, que está por de trás da pessoa que tanto qualifica com mercenario. Pergunto-lhe terá capacidade para mostar quem são os verdadeiros Marcenarios.

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