O aborto urbanístico denominado ciclovia da Expo


Exmos. Senhores do Jornal do Parque das Nações

Venho por este meio, reportar a V. Exas. o estado lastimável e completamente inadequado da ciclovia principal do Parque das Nações, ao longo da Alameda dos Oceanos, entre a rotunda dos Vice-Reis e a rotunda inferior da Av. de Ulisses.

Esta ciclovia com cerca de um quilómetro e meio, é uma autêntica anedota urbanística, e um autêntico aborto em termos de mobilidade. Acreditem que não deverá existir nem um único velocipedista, que tenha conseguido percorrer de bicicleta este quilómetro e meio. Percorrer esta pseudociclovia é mais árduo e desgastante que percorrer o mais temeroso e irregular trilho de BTT. Os blocos do asfalto provocam um desgaste no ciclista e na bicicleta que tornam extremamente difícil percorrê-la.

Ando de bicicleta todos os dias, e faço deste meio de transporte o meu modus mobili; moro na zona de Braço de Prata e os meus pais moram na zona norte do Parque das Nações. Em tempos tentei percorrer um pouco esta ciclovia, mas confesso que mesmo apesar do enorme esforço que fiz, não consegui percorrer nem 50 metros. A irregularidade do asfalto, onde chega a haver blocos contíguos que distam em altura cerca de 3 cm, torna este percurso extremamente tortuoso. Os braços tremelicam fortemente, os pulsos estremecem e quanto mais força se faz para agarrar nos punhos da bicicleta mais árduo se torna o percurso, ficando o ciclista com as mãos completamente inchadas e avermelhadas devido à irregularidade do pavimento, mesmo que use o mais eficaz e protetor par de luvas.

A razão para tal idiotice urbanística prende-se essencialmente com a conversão que a Parque Expo, fez em tempos na Alameda dos Oceanos. Até há poucos anos, nesta alameda, estava completamente proibida a circulação automóvel. Mas como o poderio automóvel fala mais alto, a Parque Expo lá decidiu abrir esta via ao trânsito automóvel. Mas para ficar bem na fotografia, disse publicamente que em paralelo faria também duas ciclovias paralelas ao longo da Alameda dos Oceanos. Mas na prática, nada fez, limitou-se a colocar alguma sinalética vertical, e uns pequenos sinais no asfalto, criando este autêntico aborto em termos de mobilidade.

Eu rogo-vos: citem-me um único ciclista que tenha conseguido fazer este quilómetro e meio de pseudociclovia. Percebe-se muito facilmente que quem comanda os desígnios do Parque das Nações, por certo que anda bem montado no seu veículo motorizado e de ciclovias e de mobilidade suave, percebe muito pouco. Aliás basta atestar pelas etiquetas de metal colocadas na calçada à portuguesa que supostamente definem os trilhos onde se poderá andar de bicicleta no Parque das Nações. São trilhos que ninguém usa e ninguém respeita.

É lamentável, que nem numa zona nobre e planeada, como o Parque das Nações, se tenha dado o devido respeito à mobilidade suave. Fica o repto para que a gestão do Parque das Nações coloque um pavimento decente e apropriado para a ciclovia principal desta zona nobre da cidade.

Muito obrigado pela atenção prestada.

João Pimentel Ferreira

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missiva enviada ao Jornal do Parque das Nações,
à Associação de Moradores do Parque das Nações
e à gestão da Parque Expo



ATUALIZAÇÃO

O autor deste texto refere que criou uma ocorrência no portal da CML "A minha Rua" a que foi atribuído o número OCO/38867/2012 com o intuito de solucionar esta situação.

OCO/38867/2012 OCORRÊNCIA:
Manutenção ou falta de ciclovias
DESCRIÇÃO: Pede-se POR FAVOR para renovarem a pseudo-ciclovia da Alameda dos Oceanos. Como ciclista utilitário e NÃO de mero lazer, devo dizer que esta ciclovia em condições daria mesmo muito jeito a todos os moradores desta zona. Neste momento trata-se apenas de uma aberração ciclável, a que alguém teve a ousadia de chamar ciclovia.

Muito obrigado

14 comentários:

  1. Eu fiz esse percurso, em Janeiro, aquando de um passeio organizado pela FPCUB. O passeio era longo (±40 km), mas a parte final era justamente no Parque das Nações. Coincidência por esse pavimento maravilhoso ou apenas desaire meu, desde então que ando em luta com uma tendinite de De Quervain no punho direito.

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    1. Caro JC. Obrigado pelo comentário.

      Não era má ideia de todo pensar em processar a Parque Expo pela sua tendinite. Poderá à primeira vista parecer ridículo, mas se os automobilistas também processam a CML pelos danos da suspensão dos seus enlatados quando a estrada tem buracos, parece-me de todo razoável os ciclistas começarem a processar as autoridades camarárias e de gestão do espaço público, pela má qualidade das ciclovias.

      Cumprimentos

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  2. Se o piso fosse bom estava tomada pelos peões, à semelhança do que se passa no resto de Lisboa, por isso ia dar ao mesmo..

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    1. Talvez não, se as sinaléticas fossem bem claras e frequentes referindo que aquele espaço seria unicamente para velocípedes. Isso acontence quando as ciclovias ocuparam o espaço do peão nos passeios, como é o caso gritante da av. do Brasil

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    2. A minha experiência pessoal diz-me que ocorre em todos os sítios em que o piso é bom, o exemplo mais flagrante que conheço é o da Rua Fernando Namora (Telheiras)em que a ciclovia foi construída em espaço anteriormente ocupado por uma faixa automóvel e está a uma cota diferenciada do passeio (ou seja está à mesma cota da faixa de rodagem). Acresce ainda que o passeio é bastante largo e não está ocupado por automóveis etc., em frente ao Parque dos Príncipes chega a ter pelo menos uns 8 metros de largura. A Avenida Duque de Ávila é outro bom exemplo, não tão flagrante apenas porque a ciclovia se encontra à mesma cota do passeio. Quanto à sinalização, as ciclovias são pintadas de cor distinta, têm marcações rodoviárias que intuitivamente indicam a que tipo de tráfego se destinam e ainda sinais verticais indicadores de ciclovia exclusiva.

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    3. Isso significa que é preciso também pedagogia para os peões. É preciso educá-los a não andar nas ciclovias. Quando fui a Berlim com mais portugueses; sem nos apercebermos e naturalmente, ocupávamos constantemente o espaço das ciclovias enquanto peões, pois em Berlim em cada estrada há uma ciclovia à mesma cota junto ao passeio.
      No entanto fomos tão adevertidos pelos ciclistas, que para o fim da semana já andávamos somente nos passeios. Acho que isso é mesmo uma questão de hábitos até termos um número de ciclovias considerável e um número de ciclistas suficiente, com uma campainha sonora bem audível para adeverter os peões mais desregrados.

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    4. E em relação à av. Duque de Ávila cujo caso conheço bem; se passase nesta ciclovia um ciclista a cada 5 segundos, por certo que os peões não ousariam meter-se nela...

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    5. Ha sim? Então e no Campo Grande? Os peões têm um jardim enorme para passear e fazem-no exactamente na ciclovia. E este é apenas um exemplo entre muitos.
      Relativamente à "ciclovia" da Expo, já lá andei, e sim, concordo que é mal sinalizada e às tantas já não sabes muito bem se estás na ciclovia ou fora dela. Também concordo que o pavimento poderia ser melhor, mas também acho que estás a dramatizar demasiado a coisa. Talvez tenha a ver com o tipo de bicicleta que escolheste. Sabendo que Lisboa é uma cidade com calçada, carris de eléctricos e poucos passeios rebaixados, a opção lógica é escolher uma bicicleta com suspensão, ou pelo menos pneus largos. Até porque nem só de ciclovias vive a mobilidade urbana...

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    6. A minha bicicleta tem suspensão e pneus largos, mas continuo a dizer que esta ciclovia é um autêntico aborto. Nem ao domingo, nem durante a semana os ciclistas ousam andar nela, andam sempre no passeio. Eu faço muitas vezes o percurso Expo-Sul/Expo-Norte e vice-versa e esta ciclovia não é de todo prática nem eficaz. Prefiro ir pelo passeio junto às lojas e restaurantes.

      E em relação aos peões, é como digo, é somente uma questão de haver mais frequência de ciclistas com buzinas para os assutar. É tudo uma questão de pedagogia.

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  3. Quanto aos peões concordo que seja uma questão de pedagogia... mas pedagogia vem de ensinar, não de assustar, e vamos admitir que não somos nenhum cão de Pavlov ou algo semelhante. Também costumo passar na Duque de Ávila e é raríssimo passar lá sem ter que me desviar de um peão (também tenho campainha). Vou fazer uma experiência: começar a parar e pedir gentilmente às pessoas que circulem no passeio, tentando explicar que aquilo é uma ciclovia, que para todos os efeitos é uma estrada; acho que pode resultar, mas também ficarei surpreendido se nenhuma vez for ofendido...

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    1. Meu caro, em relação aos peões, é como lhe digo: não somos nenhum cão de Pavlov, mas se passassem na ciclovia da Duque de Ávila tantos velocípedes, como passam carros na Av. da República, acredite que nenhum peão ousaria invadir o espaço vital das bicicletas nessa avenida. É somente uma questão de praxis. Quando houverem mais ciclovias e mais velocípedes a percorrê-las, haverão por certo menos peões a caminhar nessas vias reservadas aos ciclistas.

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  4. O problema é que o nosso povo não está habituado aos ciclistas e por isso não os respeitam nem aos seus percursos, o que é mais uma vergonha do país comparando-o com o resto da Europa!

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  5. O autor deste artigo refere que criou uma ocorrência no portal da CML "A minha rua" a que foi atribuído o número OCO/38867/2012 com o intuito de solucionar esta situação.

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    OCO/38867/2012

    OCORRÊNCIA: Manutenção ou falta de ciclovias

    DESCRIÇÃO: Pede-se POR FAVOR para renovarem a pseudo-ciclovia da Alameda dos Oceanos. Como ciclista utilitário e NÃO de mero lazer, devo dizer que esta ciclovia em condições daria mesmo muito jeito a todos os moradores desta zona. Neste momento trata-se apenas de uma aberração ciclável, a que alguém teve a ousadia de chamar ciclovia.

    Muito obrigado

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  6. És um bacano João, só mesmo tu para te preocupares com tudo isto....

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