Da alegada pseudociência em torno do programa do PAN


Recentemente um artigo do Observador com vasta repercussão criticava acerrimamente o partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) por este ser alegadamente promotor das pseudociências, na questão do receio que a opinião pública tem aos produtos transgénicos e na questão das medicinas ditas alternativas. Não conheço o programa total do PAN, mas se atacam os produtos transgénicos dececionam-me, pois normalmente esses ataques vêm de gente desinformada, considerando que desde o Neolítico que o Homem, através de seleção artificial, escolhe certas características de produtos agrícolas e animais, que surgem através de mutações genéticas durante a concepção e a que chamamos seleção artificial. Um porco é, evolutivamente, um javali cujos genes associados ao pelo foram suprimidos através de seleção artificial. O mesmo para a maioria das frutas e legumes que comemos hoje, ou nunca pensaram porque motivo as bananas já perderam caroços, ou seja, as sementes essenciais a qualquer árvore de fruto para que se possa reproduzir?

Em relação às terapias ditas alternativas, pela literatura que tenho lido e por experiência própria, apesar de não serem eficazes para a maioria das patologias, como obviamente as oncológicas, são sempre inofensivas. Ademais há estudos de entidades renomeadas e idóneas, no caso das patologias do foro psíquico como a depressão, que referem que, por exemplo o Ioga, tem efeitos psiconeuronais positivos, na medida que reduz os níveis de estresse e ansiedade, sendo que é prática médica, com o conluio das farmacêuticas, exagerar na prescrição deste tipo de fármacos anti-depressivos. Em qualquer caso deverá caber sempre ao médico, e não à classe política, decidir a terapêutica indicada para cada doente.

E também é óbvio que o programa do PAN ultrapassa e muito estas duas questões. Os partidos do sistema demonstram um total desprezo por causas ambientais, vede a título de exemplo o recente caso do novo aeroporto da margem sul cujo programa de impacto ambiental foi rotundamente ignorado, ou como Sócrates autorizou, enquanto ministro do ambiente, uma enorme Catedral do Consumo em plena reserva de proteção ambiental em Alcochete, ou ainda o conluio com a indústria automóvel e o greewashing respetivo na promoção de carros "mais verdes", quando os transportes públicos são muito mais ecológicos que quaisquer veículos particulares, independentemente da sua propulsão, considerando que é extremamente ineficiente alocar a força de 90 cavalos para puxar uma pessoa mais uma tonelada de metal. Nunca se questionaram que, quer o comboio, quer o elétrico, quer o metropolitano são também veículos elétricos? E porque não vemos o marketing agressivo em torno destes veículos, como vemos nos carros de 100 mil euros da Tesla? E se comer frutas e legumes é, como todos os estudos apontam, muito mais saudável que comer hambúrgueres ou batatas fritas, porque não vemos o marketing agressivo em torno dos primeiros como vemos nos segundos? 

Não nego que não haja alguma pseudociência associada a certos ideários do PAN, mas negar que vivemos numa sociedade desenhada para sermos mal alimentados, com excesso de gorduras animais, carnes e fritos, e que gasta milhares de milhões por ano posteriormente em saúde num ciclo vicioso de crescimento económico, é negar as evidências. Vede o caso dos EUA, que é o país que de longe gasta mais dinheiro per capita em saúde, sendo que o cidadão comum tem uma esperança média de vida e uma qualidade de vida miseráveis para um país Ocidental. E antes das questões ideológica, tal deve-se a práticas alimentares completamente insalubres e irracionais. Não; não quero controlar o que cada um enfia pelo esófago, faço apenas, tal como Aristóteles postulou, Política!

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