A Mulher-Cidade-Catedral


P'lo mundo do desejo e da luxúria
na Mulher, nesse ente ser divino
na cama, irrigas-me com o vinho
tinto, do sangue e da penúria

E quando te brado em lamúria
nesse hímen casto, canto um hino
não passo de um sacro menino
que te segreda, ao ouvido uma injúria

Contemplo-te as abóbadas do mosteiro
cada arco do teu corpo foi esculpido
por Homero, o Poeta pioneiro

cada pilar em teu corpo foi fundido
no crente, no Messias mais cimeiro
que to espeta com a seta de Cupido

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O Arquiteto que te fez há tanto tempo
esculpiu-te com o esquadro e o compasso
fez-te ver em cada alma um tormento
uma guerra sanguinária em cada passo

E nas guerras, nos brados, no lamento
no desejo, na paixão pelo teu traço
oro em honra a esse momento
em que te forço nas garras de um abraço

Diz-me, quem esculpiu as tuas curvas?
Que incauto, por certo não seria
Desenhou-te as artérias e as ruas

Inundou-te de fluido a larga ria
Despiu-te as lascivas pedras nuas
do mosteiro. Pões o crente em agonia!

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Que to disse, que bela não eras?
Quem foi que proferiu tal heresia?
que nas tuas ancas no outro dia
revi a cópula de duas feras

Os teus seios são quimeras
cada olhar, a maresia
Sou Poeta, és a Alegria
Sou escuteiro, p'las tuas serras

És Vénus, o planeta vagabundo
que no meu sono, revela a perfídia
és coveira funesta, o osso imundo

que a miséria me trazes com a mídia
e na carne mulherenga deste mundo
está a génese primária da intriga!


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