Oceanus



Sinto-me largado ao vento
Sem norte, nem sul
Sem leste, ou oeste
Perdido nas brisas infinitas do planeta
Perco-me na acalmia do oceano
Dum azul profundo que amo
Nas profundezas do meu ente
Um ego, que se inunda ao ser crente
Vasculho o passado e os pretéritos
Para me reencontrar
Para conseguir achar
A criança que no mar se perdeu
Que se afogou com o tempo imenso
Do oceano que é propenso
À dispersão do azul
Dos mares ao Sul
Mares do Sal
E eu que escrevo, tal
Como li os teus escritos
Quando vagueavas pelos infinitos
Dos mares do Norte, mares de Barens, golfos de Bótnia
Procuro em ti experiências passadas
Renego paixões amarguradas
Olhos da cor do mar que elevo
Mar revolto, nas ondas de uns áureos cabelos
Oscilo entre a harmonia, mas em mim fervo
Com as vicissitudes da doçura,
Após a amargura
Escrevo as escritas do reencontro
Escrevo os escritos do pesadelo
Deste sonho vivente envolto
Em nevoeiros que atravesso
Quando caminho para as camadas inferiores do ego
Das plataformas que nos levam ao núcleo
Dos dilemas de Verne ao centro do Eu
Redondo e esférico, abrasador, o núcleo, o caroço envolto em breu
Que se descobre
Que se envolve
Há que perfurar a mácula, a agonia, a angústia, a raiva e a maleita
Rejeitar o ódio, mas não rejeito o desejo!
Esse é o meu ensejo
Mas será o desejo a angustia do homem?
Será o que o leva ao desespero?
Será o desejo, a génese da flagelação?
Dos ímpios actos de veneração?
À carne e aos seus vassalos
Aos seus subordinados
Aos mágicos e deprimentes fados?
Voos da imensidão, voos mágicos pelo mundo que revejo
Voo sobre o planeta, passeio num cometa
Fervente na cauda, encrostado em gelo
Que assimilou nas fronteiras do Universo
Que me revisita
Caminho, corro com a fita
Da vitória ao alcançar a meta
Cansado, depois da sesta
Mas elevo-me, procuro, e reprocuro, procurando de novo, reprocurando
O caroço, o núcleo, o cerne
Mas parece que não faço parte daquelas influências magnéticas
Que vêm do extremo do sistema solar
e que atravessam as camadas quentes para depois o núcleo encontrar.
Farei parte daquelas que o rodeiam ?
Caminho então sobre as águas, imerso nas profundezas do azul
Destes mares de lágrimas ao sul
Nado, tal homem da Atlântica
Ondulo o corpo, oscilo com as ondas do mar
E do sal consigo saborear
E quanto mais Sal, mais sede, mais água doce
Quanto mais Sal, mais fome, mais rios que das montanhas nascem
E no sal, procuro as montanhas nos altos, nado como o salmão
Procurarei o destino no topo do rio frio para conceber
E perecer?
NÂO
Vagueio no Tejo
Imerso
De águas límpidas, que outrora encheram as ninfas de candidez e de alvura
Tejo que limpa as mágoas, que lava a ânsia mais dura
Que em tempos ancestrais convertia pecado em candura
Da mulher em que lhe revejo banhar-se, bela e pura
Mas procuro nele a lua cheia a reflectir-se na paz do horizonte
Na silhueta de uma ponte imensa que o percorre
De uma exponencial decrescente
Mas no furor e na alegria sou crente
E também com o tempo vou perdendo a minha identidade
É simples influência do acréscimo na idade
Mas cabe reencontrar-me
Para apenas achar-me
Sentir-me envolto em nuvens
Vaguear e passear sobre jardins verdejantes
Amar os seres do mundo, pecadores e errantes
E procurar algo que me satisfaça o espírito
Que me satisfaça o eu interior
Que renegue a dor e o rancor
Procuro no mundo dos infinitos
E revejo na infância a alegria, a egolatria
O puro amor.

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