Lei e Estado na Holanda em comparação com Portugal


É interessante observar como a Holanda organizou e reformou o seu Estado e as suas administrações públicas na relação com o cidadão, adotando uma visão marcadamente social-liberal, muito diferente dos princípios tradicionais da social democracia. Vivo em Delft, na Holanda, e as diferenças com Portugal nestas matérias são imensas. A primeira grande diferença conceptual e ideológica com Portugal, é que para a doutrina social-liberal aqui vigente, um serviço público não tem forçosamente de ser fornecido pelo estado. O estado delega essas tarefas a privados, ressarcindo-os proporcionalmente pelo serviço público prestado. E tal princípio abrange os setores  da educação, saúde, regulação do trânsito ou transportes públicos, onde os privados são de longe os maiores fornecedores e distribuidores de serviços públicos, naturalmente ressarcidos proporcionalmente pelo estado. Todavia este regime social-liberal distingue-se claramente do liberalismo clássico ou do liberalismo vigente nos estados unidos, na medida que o estado garante que todos têm acesso à saúde, educação ou subsídio de desemprego, independentemente das suas capacidades económicas.

Ora vejamos vários exemplos: na Holanda o Serviço Nacional de Saúde não é detido pelo estado, apenas regulado por este, mas têm todavia dos melhores sistemas de saúde do mundo, onde todos têm acesso; não têm juntas de freguesia tendo proporcionalmente seis vezes menos administrações locais que Portugal; os correios são totalmente privados e o posto é na papelaria e funcionam bem e até ao sábado; têm apenas uma única força policial nacional; os transportes coletivos são detidos pelo estado mas operados por privados onde ninguém se lembra da última greve, sendo omnipresentes e pontuais. Ter carro é quase um luxo tal é a elevada carga fiscal sobre os automóveis. Dois terços das escolas da rede pública, são de facto detidas e geridas por privados, mas qualquer aluno tem acesso à educação, independentemente da capacidade económica dos pais, tendo resultados bem acima da média nos famosos testes PISA conduzidos pela OCDE. O salário mínimo normalizado na Holanda é cerca de 1500 euros menais, quase triplicando o português.

Forças de segurança

A Holanda tem vindo a reformar desde a década de 1990 as suas forças policiais. Até 1993 as forças de autoridade na Holanda eram compostas essencialmente por polícias municipais. Desde 1993 que as policiais municipais foram reagrupadas em 25 polícias regionais juntamente com uma polícia nacional. Desde janeiro de 2013, que na Holanda há apenas uma força policial nacional, reduzindo custos e tornando-a mais eficiente. Interessante também que trabalham para esta nova polícia 1500 voluntários, que após treinamento têm os mesmos poderes de um polícia assalariado e mais 900 outros voluntários com poderes menores, tendo trabalhos mais burocráticos. 

Em Portugal subsistem PSP, GNR, Polícia Marítima e várias polícias municipais, com todas as estruturas hierárquicas inerentes e com toda a duplicação de tarefas que tal acarreta. Por exemplo, podem multar em Lisboa um carro mal estacionado quer a EMEL, PSP ou a Polícia Municipal!

Fontes: [1] [2] [3]

Serviços postais


Os holandeses foram os primeiros europeus a privatizar os serviços postais em 1989. O número de cartas descia e era preciso cortar nos gastos. Liberalizou-se também a sua ação. O posto de correio aqui no bairro onde vivo é na papelaria e prestam um bom serviço ao cliente. Todavia, portugueses que aqui vivem dizem que desde a privatização, apesar de as cartas chegarem sempre, demoram mais tempo a chegar ao destino. Uma carta para Portugal demora cerca de uma semana a chegar ao destino, embora os gastos que se pouparam tivessem sido segundo consta significativos. Há correio ao sábado e um exemplo interessante de eficiência, é que o carteiro deixa a encomenda no vizinho, se você não estiver em casa! Os carteiros andam quase sempre de bicicleta!

Em Portugal continua a existir o posto de correios tradicional, que há muito que deixou apenas de vender selos tendo-se tornado já quase sim uma papelaria estatal, com vários funcionários e respetivos custos. Creio todavia que os CTT em Portugal prestam um bom serviço postal.

Fonte: [1]

Administração local

Os Países Baixos (Holanda é tecnicamente incorreto pois refere-se às províncias da Holanda) têm 408 municípios, e baixam o seu número todos os anos, sendo que por exemplo em 2012 tinham 415. A Holanda não tem juntas de freguesia ou instituição equivalente, sendo que todos os processos administrativos locais, como o registo de residência, o pagamento da recolha de lixo ou o pedido de número de fiscal são feitos no município. A Holanda tem 16,7 milhões de habitantes numa área igual ao Alentejo dando assim em média 0,58 administrações locais por milhão de habitante vezes milhar de km2.

Tendo Portugal 3094 juntas de freguesia mais 308 concelhos - já após a reforma da administração local - perfaz então 3402 administrações locais. Com estes dados tendo Portugal 10,6 milhões de habitantes em 92,3 mil km2 fica então com cerca de 3,5 administrações locais por milhão de habitante vezes milhar de km2, seis vezes mais do que tem a Holanda. Não esquecer todavia que a Holanda tem 12 regiões com parlamentos e governos regionais, mas muitas das suas funções não são de índole local, são funções que por exemplo em Portugal estão atribuídas a muitas secretarias de estado ou ministérios, como a gestão ambiental, cultural, lazer, gestão de transportes públicos, economia ou agricultura.

Fontes: [1] [2] [3] [4]

Saúde

Na Holanda não há sistema nacional de saúde, mas não fogem do princípio social europeu de acesso total à saúde independentemente das condições financeiras dos cidadãos. Caso a pessoa não tenha condições financeiras, o município paga-lhe o seguro de saúde. Na Holanda cada cidadão é obrigado por lei a ter seguro de saúde, tal como acontece em Portugal por exemplo para o seguro contra terceiros que os automobilistas são obrigados a contrair. No seguro de saúde holandês, o preço mensal para cada pacote é fixo e não pode depender de idade ou de doenças que o paciente possa ter, rondando cerca de 150€ mensais que são descontados no salário para quem trabalha. Embora segundo consta este sistema não seja assim tão eficaz em termos de custos, o sistema de saúde holandês ficou situado em primeiro lugar num estudo que comparava vários sistemas de saúde, onde foram analisadas qualidade, eficiência, acessos a cuidados de saúde, igualdade, e a capacidade de transmitir hábitos de vida saudáveis. Aqui os hospitais apesar de públicos são geridos por privados e as pessoas podem escolher os médicos que querem ir não havendo o conceito de que certo médico precisa de estar associado a certo seguro. Quando os meus pais me visitaram tiveram de ir a uma clínica privada para tratamento e pagaram 20€ pela consulta.

Em Portugal reina a dualidade gritante de um sistema diria iníquo, semelhante ao praticado na América Latina, onde os hospitais públicos são para pobres e os privados para ricos. A taxa moderadora nos hospitais públicos em Portugal é de 20€, aquele valor que os meus pais pagaram para terem acesso a uma consulta no sistema privado aqui na Holanda. Já uma consulta de especialidade em Portugal, ronda para lá dos 100€, um valor que representa 1/4 do salário líquido mínimo no país. Segundo o Eurostat, em percentagem do PIB, gasta-se o mesmo em saúde em Portugal e na Holanda.

Fontes: [1] [2] [3] [4]

Educação

Dois terços das escolas holandesas da rede pública, são de facto detidas e geridas unicamente por entidades privadas. Qualquer entidade privada pode fundar um escola, desde que naturalmente cumpra os critérios pedagógicos e educacionais impostos pelo governo. Mas os programas educacionais permitem uma liberdade impressionante às escolas, para os definirem. Consta que apenas metade dos programas curriculares é definido pelo estado, sendo que a outra metade é definida por cada escola. Tal permite por exemplo ter uma série de escolas bilingue. Obviamente, tal como em Portugal, existem exames nacionais, que servem exatamente para medir sob a mesma bitola educativa, os progressos de aprendizagem dos alunos, independentemente da escola. O estado oferece por conseguinte um cheque-ensino aos pais, por cada criança, e estes podem escolher a escola que bem entenderem para os seus filhos. Se as propinas da referida escola ultrapassarem o valor do referido cheque-ensino dado pelo estado, os pais deverão colocar a diferença. Este método de financiamento do sistema educativo também gera polémica política, por ser demasiadamente liberal e respeitador da liberdade dos pais, pois permite por exemplo, que o estado apoie escolas de cariz religioso, cristãs ou muçulmanas por exemplo, e não apenas escolas de cariz laico. São unicamente os pais quem decide em que escola querem colocar os seus filhos, sob a máxima premissa liberal que são os pais quem melhor sabe o que é melhor para os seus filhos. O estado apenas providencia o cheque, que naturalmente apenas pode ser usado na educação dos filhos. O estado também garante, através da lei da escolaridade obrigatória, que todas as crianças têm de facto educação, evitando por conseguinte eventuais fraudes na utilização dos dinheiros públicos.

Em Portugal, tal como em tantas outras matérias relacionadas com direitos fundamentais, funciona uma dicotomia clarividente entre o sistema público e o sistema privado, tal como ficou evidente na última polémica sobre o apoio público a escolas privadas. Atenção que no meu entender, o governo português agiu bem nesta polémica, pois é contra a racionalidade orçamental, o estado financiar escolas privadas, quando a menos de um quilómetro já existe uma escola pública. A questão é de fundo e estrutural, sendo que o paradigma educacional em Portugal é claramente dicotómico entre setor privado e setor público. Para tal, basta apercebermo-nos que o maior empregador de professores em Portugal, é de longe o Ministério da Educação, com um fardo orçamental em percentagem do PIB, bastante relevante com a sua massa salarial. De acordo com a OCDE, os professores portugueses são dos mais bem pagos do mundo, em paridade-poder-de-compra. Caso os pais em Portugal não queiram que os seus filhos frequentem uma escola detida pelo estado, a constituição naturalmente permite-o; todavia esses mesmos pais terão de pagar a propina da referida escola por inteiro, não tendo qualquer apoio público, senão meras deduções fiscais em sede de IRS. Por conseguinte, esses pais terão de pagar a educação dos seus filhos e, através da fiscalidade, dos filhos dos outros. Naturalmente que as pessoas sem filhos já pagam a educação dos filhos dos outros, e ainda bem que assim o é, a questão fundamental é que o estado deveria ressarcir o cidadão por este ter encargos financeiros com o seu filho, e não necessariamente garantir que as infraestruturas educativas são detidas pelo estado, ou que os lentes espalhados pelo país, são funcionários públicos. Paradoxalmente então, a Holanda apresenta muito maior igualdade no acesso à educação, do que Portugal.

Fonte: [1]

Transportes coletivos

Na Holanda os sistemas de transportes coletivos, quer nacionais como o ferroviário, quer locais como elétricos, metros ou autocarros são normalmente operados por privados sob concurso público. São detidos pelo estado, e é o estado quem define os percursos e os horários em função do interesse público, mas são normalmente operados unicamente por privados. Isto quer dizer que os maquinistas, os condutores, os revisores e a grande maioria do pessoal que trabalha nas referidas empresas, não são funcionários de empresas públicas. Segundo o governo holandês, tal permite maior eficiência e redução de custos para os contribuintes. Por outro lado nunca ouvi falar de greves no sector dos transportes pondo em causa a mobilidade dos cidadãos. O pagamento é feito ao quilómetro, e não ao mês. Pica-se à entrada e à saída em cada transportador com um cartão magnético semelhante ao Lisboa Viva. O cartão é como o Zapping de Lisboa, mas a taxação é ao quilómetro e não à viagem. Existe transporte até para lá da meia-noite, os elétricos são pontuais e omnipresentes e funcionam com regularidade mesmo aos fins de semana. Há comboios durante toda a noite entre as principais cidades e mesmo o preçário obedece a uma ótica liberal de mercado, considerando a lei da oferta e da procura, ou seja, andar de comboio é mais caro na hora de ponta e quase de borla ao domingo à tarde, consoante o tarifário escolhido. Muitos elétricos e autocarros são menos confortáveis que os equivalentes em Portugal, todavia muito mais céleres e frequentes.

Em Portugal apesar de as empresas terem feito um esforço considerável de modernização nos últimos anos, endividando-se seriamente, a maioria das pessoas desconsidera a possibilidade do transporte público muitas vezes apenas por comodismo e considerações culturais. Os comboios urbanos da CP na região de Lisboa são no meu entender mais confortáveis que os equivalentes da Holanda, todavia menos frequentes. Os elétricos modernos de Lisboa são mais confortáveis que os da Haia, assim como os autocarros da Carris não ficam atrás dos da Holanda. Não obstante o investimento público feito em transportes coletivos, em Portugal reina um claro preconceito ideológico, extremamente redutor com referência à ciência dos transportes, sobre que melhores transportes públicos servem os cidadãos e as pessoas em geral. Em Portugal, devido a preconceitos ideológicos, existe uma ideia generalizada que um transporte coletivo para ter qualidade perante os cidadãos, deve ser unicamente detido e operado pelo estado. Essa visão é meramente ideológica e redutora, quando analisamos a qualidade dos serviços de transportes públicos nos países do norte da Europa, da Holanda à Suécia, na maioria dos casos sendo quase sempre operados por privados. O fundamental no meu entender, é providenciar um bom serviço de transportes coletivos, omnipresente e o mais acessível quanto possível, de preferência sem interrupções ou greves, independentemente da natureza pública ou privada do operador do referido transporte coletivo. Em Portugal temos um bom exemplo com a Fertagus. Apesar de a Fertagus ter sido inicialmente financiada pelo estado, com dinheiros públicos e material circulante, é hoje praticamente completamente autónoma, funcionando bastante com as receitas de bilhética, e providenciado na generalidade um bom serviço aos utentes.

Taxação automóvel

Ter carro na Holanda é muito caro. O imposto congénere ao IUC é calculado ao peso e custa aproximadamente em média quatro vezes mais que em Portugal. Vêm-se muito poucos jipes e todo-o-terrenos, pois têm uma fiscalidade muito alta devido ao elevado peso, fazendo com que sejam mais eficientes na mobilidade. A gasolina é das mais caras da Europa, estacionar no centro da cidade ou em parques custa cerca de 5€ por hora, os seguros são caríssimos assim como as manutenções e reparações. Interessante notar, atestando aqui mais uma vez a questão cultural, que empiricamente são os emigrantes e seus descendentes que optam muito mais pela utilização do automóvel, mesmo apesar de terem rendimentos muitas vezes mais baixos, sendo que a maioria dos holandeses usa a bicicleta, e usa-a apenas como uma ferramenta prática, barata e segura de mobilidade quotidiana.

Apesar de em Portugal terem havido alguns avanços na mobilidade em bicicleta, ela assenta muito ainda mais no lazer do que numa ferramenta diária de mobilidade. O carro continua a ser o grande preferido dos portugueses para mobilidade diária, e normalmente quem usa os transportes coletivos ou são os estudantes, que não têm idade para ter carta de condução, ou os pobres, que não conseguem mesmo suster as despesas inerentes à utilização de um automóvel, mesmo apesar de, considerando a economia do país, parecer-me que nas zonas urbanas os transportes públicos prestarem um bom serviço.

Alguns dados

Crescimento económico em dois períodos: 1990-1995, 1995-2001

A Holanda tem uma área igual à do Alentejo mas com 16 milhões de habitantes, tornando-o o quarto país com maior densidade populacional da Europa, tendo acima de si apenas pequeníssimos países como o Mónaco, Chipre e Malta. Todavia não se sente de todo a pressão e viver nas cidades holandesas é quase como viver na aldeia, tal o silêncio, os jardins e a qualidade do ar respirável. O salário mínimo na Holanda é de 1500€ mensais e o médio ronda os 2200€ líquidos em comparação com 700€ em Portugal. A reforma é aos 65 anos. A taxa de desemprego é cerca de 8%, metade da portuguesa. Está em quarto lugar no mundo no índice de desenvolvimento humano.

10 comentários:

  1. Lamento, mas depois de ter vivido mais de 13 anos na Holanda, nao consigo ficar indiferente a este artigo. Portugal pode ter muito a melhorar, que eu mesmo reconheço, mas a Holanda nao é nem de longe um exemplo a seguir! Os tempos que a Holanda foi um exemplo a seguir já lá vao, e se tiver conhecimento de causa, sabe perfeitamente que se vive uma crise economica da qual nao está a conseguir sair.
    Entao comentando este artigo:
    1. Forças de segurança publica, se a questão é a economia devido à inexistência de vários tipos de forças policiais, posso concordar com o artigo. No entanto, a eficácia da policia holandesa deixa muito a desejar, seja ao nível de atrasos quando se contacta o serviço de emergência a reportar algo, seja em obter resultados realmente evidentes. Que existe muito maior policiamento nas ruas, verdade, apesar de existirem bairros tanto em Amsterdam, como em Haia, onde a policia raramente entra; além disso os abusos na utilização de força têm se tornado cada vez mais evidentes nos ultimos anos.
    2. Serviços postais: Os Correios holandeses não são bons! Entregas à segunda-feira não existem, e está em estudo que as entregas passem a ser feitas apenas 3 dias por semana. Apesar de, terem melhorado a nível de variedade de oferta, (em 2000, quando o Correio Azul já existia em Portugal há bastante tempo, na Holanda, nem se pensava em tal coisa); pioraram imenso em relação ao nivel de serviço prestado. Os pontos de correios em papelarias e em super-mercados são maus, os funcionarios de super-mercados têm uma formação profissional basica para a tarefa em questão, e o atendimento é bastante questionável. Além disso, as entregas de encomendas deixadas com o vizinho, para além de serem arriscadas, pois há encomendas que não têm de ser assinadas, também se devem à pouca vontade do serviço de entregas em preencher um formulario pela ausencia da pessoa, e para nao voltar a ter de passar na mesma morada. Em resumo o serviço postal holandês é pior comparativamente com o portugues!
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    1. Boa tarde, responderei também por partes

      Vivo cá há seis meses e não sinto de todo que os serviços postais sejam maus. Quando em Lisboa não estava em casa, tinha de me deslocar algo longe à loja dos CTT no horário de expediente para levantar a carta. Na prática porque estava a trabalhar tinha de pedir a um familiar para o fazer. De referir que há muito carteiro dos CTT que toca meio segundo à campainha e no meio segundo seguinte já está a preencher o papel para se ir ao posto dos CTT. Recebo muitas coisas mesmo pela net, compro muito pelo ebay, e nunca tive problemas. Demora algum tempo, mas chega, e é muito prático e confortável mesmo saber que tenho a encomenda no vizinho da frente.

      Não creio que para vender selos ou cartas ou pesar encomendas seja preciso ter formação muito específica. Conheço pessoas que trabalham nos postos dos CTT e não têm formação superior, e não é por isso que não prestam um bom serviço. No atendimento ao público dos serviços postais, presumo que se aplica os princípios genéricos de qualquer atendimento ao público com pequenas especificidades do produto que está a ser vendido. Na papelaria aqui, eles - até prova em contrário - prestam um bom serviço.

      Em relação à polícia, estão lá as fontes do artigo. Em Portugal temos PSP, GNR, polícia municipal para cada cidade, e ainda autoridades fiscalizadoras de estacionamento, como EMEL por exemplo. Não conheço a eficácia da polícia holandesa pois infelizmente nunca me deparei com uma situação em que seja necessário, mas sinto que a segurança na via pública é um facto consumado, em comparação com Lisboa. O mais grave que me aconteceu até agora foi terem-me roubado um selim da bicicleta...

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  2. 3. Administração local, concordo estar bem melhor organizada e ser mais reduzida que em Portugal, contudo os impostos municipais que se pagam são bem mais elevados, e novamente os serviços ficam bastante aquém do desejado, desde o serviço de recolha do lixo em algumas zonas só ser efectuado duas vezes por semana, inexistência de ecopontos, ou com grande distância entre si, para além de serem na sua maioria unicamente de papel e de vidro. E não me refiro a alguma aldeia (dorp) holandesa, mas à capital: Amsterdam!
    Saúde: sistema de saúde caro, não fica a menos de 1500 euros por pessoa ao ano, independentemente dos rendimentos de cada um, ou seja não é equitativo, pode custar o mesmo para um trabalhador que ganha 1500 euros por mes, que a um outro que tem um salario de 5000 euros mensais! Está a ser ponderado o aumento de mais de 200 euros anuais do seguro de saúde já para o próximo ano. Devido aos preços praticados há cada vez mais gente na Holanda que opta por não ter seguro de saude, com todos os prejuizos que daí possam advir para a sua saúde, ja que o municipio pagar o seguro não é algo tao simples como mencionado no artigo. As seguradoras no passado ano, tiveram lucros recorde, daí as mensalidades este ano terem baixado, no entanto os serviços prestados, de ano para ano, têm diminuido, algo aprovado no parlamento holandes, e nao pelas entidades privadas que sao as seguradoras! Pontos positivos do sistema holandes: quase toda a medicação é comparticipada a 100% pelo seguro de saúde, os hospitais por norma sao profissionais e modernos, os medicos de familia estao por norma no bairro onde alguem reside. Pontos negativos: é praticada uma medicina reactiva, e nao preventiva; devido a poupanças, pacientes não são aconselhados a fazerem determinados exames e analises, vindo-se a detectar demasiado tarde certos problemas serios como cancros! (Por alguma razao, a Holanda foi o primeiro país no mundo a aprovar a eutanasia... fica mais barato ao sistema de saude). Vive-se no país do paracetamol, independemente do problema que se tenha, o médico de familia à primeira vez, aconselha sempre paracetamol, é sempre uma luta para conseguir uma receita de antibioticos! O sistema para ir a um médico especialista (dermatologista, ortopedista, etc) é uma dor de cabeça, pois é pouco democratico, não é ao paciente que cabe escolher a qual deseja ir, mas sim ao medico de familia que aconselha, aquele que crê ser o mais adequado. Além disso, cada vez existem mais casos de pessoas que têm um determinado seguro de saude, que nao podem ser tratadas proximas do seu local de residencia, porque o seu seguro nao tem acordo com determinado hospitais.
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    1. Administração local
      Na administração local acho que não há mesmo muito a debater. Não sei se sabe mas a freguesia é um conceito medieval, que normalmente estava associada a uma paróquia, ou a uma igreja, no tempo em que uma viagem de Lisboa a Santarém demorava um dia de carroça. Passados quinhentos anos continuamos quase com o mesmo número de freguesias e de ano para ano, surgem mais concelhos porque as pessoas querem a sua autonomia da cidade vizinha. A administração local em Portugal mais não é por norma, que um sustento seguro para muita gente, cujo último objetivo é servir o cidadão. Como explica por exemplo que a câmara de Lisboa tenha quatro vezes mais funcionários por habitante, que a câmara do Porto. Sente que no Porto os serviços municipais sejam quatro vezes pior. Trata-se essencialmente de ineficiência. Aqui por exemplo pode ver com a EMEL e a polícia municipal de Lisboa, apesar dos elevados impostos taxados, são completamente incompetentes para sanar o estacionamento ilegal na cidade de Lisboa.

      Saúde
      Eu presumo que em Portugal tenha seguro de saúde, porque deve desconhecer por completo o SNS. Sempre fui contra seguros de saúde e em Portugal sempre me dirigir ao SNS. É aterrador e vêm-se apenas pobres. Um dia no Curry Cabral tinha uma enorme dor no peito e fiquei três horas na sala de espera. Vim-me embora para casa sem ser atendido. Como fiz "check-in" obrigaram-me a pagar a taxa moderadora dessa consulta que nunca existiu, 20€. Aqui descrevo uma experiência que tive em São José, após um acidente algo grave de bicicleta. Eram apenas camas compactadas lado a lado, alinhadas, tipo hospital de campanha. Vou ser sincero e perdoe-me a frontalidade. Quase de certeza que critica o sistema holandês, porque deve ser daqueles que em Portugal usa apenas o sistema privado, que é quase luxo. Consultas de especialidade sempre para cima de 100€, num país onde há 600 mil pessoas a receber líquidos 410€ (salário mínimo líquido em PT). O sistema holandês desagrada a muitos, porque normalmente quem tem mais dinheiro, tem de se sujeitar ao sistema que é comum. Não acho que 150€ mensais seja muito. Em Portugal o SNS consome do orçamento de estado cerca 9 mil milhões de euros por ano, o que dá cerca de 125€ por mês por cidadão ativo. Na Holanda paga mais 25€ por mês, e tem direito a um serviço, em comparação com o sistema público em Portugal, muito melhor.

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  3. 4. Transportes publicos: a rede ferroviaria é extensa e percorre todo o país, mas os comboios holandeses são bem mais caros! Exemplo: Amsterdam-Leiden (40km, 8.60euros), Lisboa-Setubal (50km, 4,35euros, e com a operadora privada Fertagus). Incompreensivel em relacao à NS: comprar um bilhete ao balcao custa 50 centimos mais que comprar nas maquinas (que nao aceitam notas, outras nao aceitam moedas, aceitam apenas cartoes de debito holandeses, ou entao pagando com cartao de credito, novamente incorrem duma sobretaxa de 50 centimos). Atrasos existem bastantes, e por razoes insolitas: ou porque está demasiado calor, ou porque ha folhas (no Outono) nos carris, ou porque nevou (aí os comboios sao das piores opçoes na holanda). Os transportes publicos urbanos, por norma nao apresentam muitos atrasos, contudo um bilhete adquirido a bordo dum electrico em amsterdam custa 2.80 euros, e um bilhete a bordo da carris custa 1.80euros. O custo do passe mensal em Amsterdam custa 89euros, e o passe mensal em Lisboa (L) custa cerca de 36 euros, e ha que ter em conta que a area da cidade de Lisboa é superior à de Amsterdam. Greves nos transportes urbanos, apesar de menos frequentes na Holanda, tambem ocorrem, e quando acontecem nem sequer existem serviços minimos, parando a rede a 100% dentro duma cidade, tal como aconteceu por varias vezes em Amsterdam em 2011. O maior problema dos transportes publicos em Portugal foi a politica de desenvolvimento (= alcatrao) que se seguiu depois da adesao à Uniao Europeia em detrimento do transporte publico, sobretudo em relacao à ferrovia.

    5. Taxação automovel: o unico aspecto que concordo em 100% do artigo, em Portugal recorre-se demasiado ao automovel, e uma forma de dissuadir a sua utilizacao seria recorrer ao aumento de impostos e do estacionamento como se faz na Holanda. Contudo, para tal, seria necessario melhorar a rede de transportes publicos, que em algumas regioes quase que deixou de existir. Apenas me interrogo quais as fontes para afirmar que sao maioritariamente emigrantes que optam pela utilizaçao do automovel... Quem vive fora dos centros urbanos holandeses, apesar de tambem terem rede de transportes, optam sobretudo pela utilizacao do automovel, ja que os horarios do transporte publico fica aquem do necessitado.

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    1. Transportes públicos
      Não nego esses valores, mas lembre-se que o salário médio líquido na Holanda ronda os 2200€, em Portugal 700€, ou seja cerca de três vezes menos. Todos os preços que aplicar aos transportes públicos na Holanda têm que ser feitos comparativamente em relação ao poder de compra. Como disse no artigo, acho que os transportes públicos em Portugal nas zonas urbanas são muito bons, as pessoas é que são muito comodistas. Os comboios são bons e pontuais, o metropolitano é prático e pontual, os autocarros da carris são modernos. Todavia, devido às greves, é uma lotaria constante, em 2012 só a CP fez 52 greves, o que dá um mês e meio de trabalho.

      Taxação automóvel
      Em relação à mobilidade cito apenas esta excelente apresentação.

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  4. Com este comentario, nao quero depreciar o seu artigo sobre a Holanda. Apenas apresentar uma opiniao que apesar de ser um país muito agradavel para se viver, nao é, nem de longe, nem de perto, perfeito. E unicamente contra-argumentei em relacao aos aspectos citados no artigo. Outros aspectos negativos, que nao citei, existem, nomeadamente: a) os cidadaos holandeses terem quase uma confiança cega nos seus serviços, e estarem a ser cada vez mais traidos pelos mesmos; b) o facto do consumidor estar bem menos protegido na holanda que em Portugal (livro de reclamação... conceito desconhecido na Holanda); c) o preço quase proibitivo da habitaçao nas grandes cidades; d) apesar de ser um país onde a economia de mercado é bem mais vincada que em Portugal, ainda assim, peca por ter super-mercados inferiores aos portugueses, e com uma variedade de escolha muito menor. Nem mencionando, os aspectos mais identificados por emigrantes: o mau tempo, e todos os condicionamentos que isso traz na vida quotidiana (vive-se quase sempre indoors), a comida e a altivez holandesa em relaçao aos emigrantes.
    Com este comentário nao quero sugerir que Portugal é um país melhor para se viver que na Holanda... Ha muito a ser melhorado em Portugal e eu proprio o reconheço. Contudo, a Holanda, perante tudo o que se paga em impostos, fica muito aquém de ser um país perfeito para se viver

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    1. Não disse que isto era perfeito, pelo contrário, o tempo é uma bela "merda", vento, frio, enublado, nevoeiro, raros são os dias em que vejo o azul do céu. O atendimento ao público no comércio peca muito pela simpatia. Todavia o nível e qualidade de vida em relação a Portugal, para o comum dos cidadãos (não eu nem você, mas em média), é bem melhor na Holanda. O respeito pela natureza, a qualidade do ar em meios urbanos, o silêncio urbano, não tem comparação. Imagine que a grande Amesterdão, tem 2 milhões de habitantes, o mesmo que tem a grande Lisboa. Agora compare o barulho, o stress, a poluição de ambas...

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    2. Bom dia pessoal muitas coisas que aqui se discutio nao concordo eu vivo em Rotterdao a 35 anos mas os precos variam de provincia para outras .Mas faltou o IRS COMO Funciona? o pagamento da recolha do lixo e outras coisas os reformados nao pagam transporte bublicos na aria que pertence e outras coisa a saude paga-se um total mes ao seguro e tem 375 acumulados conforme for ao hospital ou a farmacia conforme os valores de custe vamo pagando ate atingir aquele valor depois de atingir ja nao se paga nada o resto do ano mas as consultas sao gratuitas? bom dia a todos gostei mas se isto e tudo Europa facam uma uniao igual mas nao cada nacao lixa o povo a sua maneira tchau

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    3. Caro Joaquim, obrigado pelo seu comentário! O IRS na Holanda é muito mais baixo que em Portugal, para os mesmos rendimentos. Um salário mensal até 1600€ na Holanda, paga apenas 6% de IRS. Agora compare com Portugal! Os portugueses preferem ser extorquidos com impostos, mas estarem "bem protegidos" com muitas polícias: PSP, GNR, Polícia Marítica, Polícia Municipal, Guarda Prisional; pois na Holanda há apenas uma, e parece que funciona!

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