Tempo é dinheiro, já diziam os neoliberais


Os professores em Portugal são como as forças armadas da Venezuela, ou seja, progridem todos automaticamente com o decorrer do tempo. Não admira que haja mil generais na Venezuela enquanto nos EUA, a maior potência militar do planeta, haja apenas trezentos. No caso dos professores, faça chuva ou faça sol, cataclismos ou crises financeiras, a progressão da carreira necessita obrigatoriamente de fazer parte do rol dos acontecimentos. Ou seja, a progressão dos professores não depende das suas ações individuais como profissionais da educação, do seu mérito pessoal, da capacidade que têm para transmitir conhecimento aos alunos, nem muito menos, como se tem visto, do meio económico e social envolvente. A progressão dos docentes depende, pois, única e exclusivamente de uma coisa chamada relógio. E não há instrumento mais socialista do que um relógio: independentemente da cor ou feitio, analógico ou digital, no mundo terreno onde a Teoria da Relatividade Geral é negligenciável, o tempo é igual para todos. E tempo é dinheiro, sempre disse a "tralha neoliberal", os quais Mário Nogueira jura repudiar como afincado comunista que é.

A esquerda na sua magna irresponsabilidade financeira é coerente em si mesma. Ouvimos todos os comentadores de esquerda a evocarem a sacra coerência da esquerda nesta matéria, como se fosse uma virtude ser-se idiota coerentemente. A palavra idiota, etimologicamente, aplica-se neste contexto, pois provém do Grego e diz respeito àqueles que não zelam pelo interesse público. No que toca às finanças públicas a esquerda, incluindo o PS, e tal foi claro no governo Sócrates, é manifestamente idiota, ou seja, nunca zelou historicamente por qualquer equilíbrio nas contas públicas, navegando na demagogia barata lusitana, de transmitir a mensagem política de que, por eles, "davam tudo a todos", "haja vontade política", pois fazer contas é coisa para tecnocratas. Já a direita é hipócrita, como sempre foi, magnanimamente hipócrita. Diz que aprovou o tempo de serviço dos professores porque é justo, mas que tal não tem impacto orçamental. Devem estar esperançados, talvez considerando que os comunistas abominam o capital e o aforismo neoliberal de que "tempo é dinheiro", que seja possível contabilizar o "tempo perdido" com palavrinhas de conforto, palmadinhas nas costas, e quanto muito víveres, que o dinheiro é "a causa do mal", e a classe dos docentes preocupa-se apenas com metafísica e a educação transmitida aos discentes.

É nestes momentos, para analisarmos a obscenidade dos números, sendo que a mesma métrica se aplica para o saque que a banca fez ao Tesouro público, que é interessante usarmos a fiscalidade à moda antiga. Imaginemos um funcionário das finanças a ir casa de cada português uma vez por ano para pedir mais 40€ por cada membro da família, além da restante fiscalidade, para assim se poder recuperar o tempo de serviço dos professores. Uma família de 4 dá 160€ por ano, apenas para pagar este aumentos aos professores. 400 milhões de euros dá 40€ per capita. Todos os anos doravante, o que é diferente do caso da banca, que foi um empréstimo que em princípio tem retorno, e o valor em causa tem um tecto num período temporal. A despesa pública per capita é um conceito que defendo desde há muito no debate público, porque a partir de 1000 euros o comum dos mortais perde o fio à meada. Assim, vejamos que o resgate ao Novo Banco vai custar no total 400€ per capita. Mas os 400€ em princípio têm "v" de volta e estão limitados a esse montante. Os 40€ per capita para os professores são todos os anos pagos doravante, a acrescer ao seu salário, considerado desde já pela OCDE bem acima da média, em função da Paridade Poder de Compra da cada país. Haja racionalidade e literacia numérica no eleitorado, que a classe política pensa duas vezes antes de fazer promessas idiotas.

11 comentários:

  1. A ignorância é sempre atrevida.

    ResponderEliminar
  2. Amigo Vera veritas, veja isto por favor https://www.facebook.com/esquerda.net/videos/1600134070098754/. A progressão não é automática e os valores pagos não são o que a opinião pública diz ser...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Joao Pimentel Ferreira6 de maio de 2019 às 22:47

      Não é automática mas é uma mera formalidade. Precisam de ter uma avaliação de "bom" para progredir, mas são todos bons por defeito, porque a distribuição gaussiana, dita normal, não faz parte da matéria lecionada por Mário Nogueira. Nas instituições sérias, as avaliações são sempre baseadas em distribuições gaussianas, porque bom ou mau é um conceito sempre relativo. Por isso sim, as progressões são, de facto, automáticas.

      Eliminar
    2. Não é verdade, JP Ferreira. Não diga isso. Fala sem conhecimento de causa. Conhece a realidade das escolas, companheiro? Não conhece. O menino é mal criado, o menino é "pequeno burguês", o menino pertence a uma classe sem futuro histórico...

      Eliminar
    3. Quer por acaso convencer-me do contrário? Sou um homem da ciência, e por conseguinte, baseio-me em factos. Se me providenciar factos que desmintam as minhas opiniões, mudo de opinião no momento. Sem rancor! Sem despudor!

      Então vejamos: sabe-me dizer do universo de professores quantos, em percentagem, não tiveram "bom" ou nota superior?

      Eliminar
    4. O anónimo de 8 de maio de 2019 às 21:30 perante uma pergunta objetiva do autor foge com o rabinho entre as pernas pois sabe perfeitamente que a resposta não lhe agrada.

      Eliminar
  3. JP Ferreira, o menino é um "tudólogo". É um português igual a tantos outros , daqueles que acha que conhece as realidades e que tanto opina sobre função pública como sobre regadio e enxertia. Por amor de Deus, JP Ferreira. Deixe-me o seu mail. para lhe enviar - já de seguida - um estudo sobre professores e sobre progressões. Quando o ler, até se "borra"...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Deixe-se de retórica vazia e responda-me objetivamente à pergunta: do universo de professores quantos, em percentagem, não obtiveram "bom" ou nota superior?

      Eliminar
    2. Menino JPF, tudólogo federado. 15%. Aí tem a resposta. Está na média do que se passa com os outros quadros da função púbica.

      Eliminar
    3. Joao Pimentel Ferreira15 de maio de 2019 às 18:42

      Tem fontes para esses 15%, ou espera que eu acredite num qualquer anónimo que aqui comenta?

      Eliminar
  4. Joao Pimentel Ferreira15 de maio de 2019 às 18:45

    Ou seja, 85% dos professores têm bom ou nota superior? Fantástico, 85% dos professores são "bons" ou "muito bons". Definitivamente não sabe o que é uma distribuição gaussiana.

    ResponderEliminar