Estádios do Euro 2004: as catedrais do despesismo!


Vou ser objetivo: um amigo meu dizia-me aquando do Euro 2004, que os portugueses estavam a ficar mais burros que os brasileiros, pois segundo o meu amigo, os brasileiros apesar da miséria, criminalidade e corrupção, só pensavam "em bola". Veio o Euro 2004 e depois quem foi à final? Grécia e Portugal! 

Os gregos levaram a taça e nós ficámos com os estádios! E a taça também não serviu de muito aos gregos, serviu? No Euro seguinte, em 2008, países como a Áustria e a Suíça, por sinal dos mais ricos da Europa, acharam que não seria recomendável fazerem um Euro sozinhas cada uma, devido aos gastos financeiros em estádios, e fizeram-no em conjunto. O mesmo ocorreu em 2012 com a Ucrânia e Polónia. Mas ninguém se lembrou de dizer aos portugueses para fazer o Euro com os espanhóis, pois em Portugal ninguém gosta de partilhar; lembremo-nos como foi recebida a sugestão de João Soares de pôr o Benfica a partilhar o estádio com o Sporting, num estádio municipal de Lisboa, aliás prática já usada em cidades como Milão, onde joga o AC Milão e o Inter de Milão, ou Munique, onde joga o Munique 1860 e o Bayern de Munique, cidades de países bem mais ricos que Portugal. Mas em Portugal é à grande! Agora paguem a crise! Como se diz em Portugal cada um tem o que merece, e será que a mesma premissa pode ser generalizada a um povo?

Adicionei, enquanto editor na wikipédia, estes tópicos a cada verbete dos estádios em apreço!

Estádio Algarve Faro/Loulé

Custo: 66 milhões de €
Manutenção: 10000€ por dia
Farense: III divisão
Louletano: II divisão B



O Estádio do Algarve tem um custo diário de cerca de 10 mil euros, que são suportados pelas Câmaras Municipais de Loulé e Faro, que dá cerca de 3,6 milhões de euros por ano. Este custo representa o pagamento de amortizações, juros, funcionamento e manutenção do estádio que anualmente totaliza um investimento total na ordem dos três milhões de euros pagos unicamente pelas Câmaras de Loulé e Faro. Segundo fontes do jornal Expresso a situação é de tal forma "pesada" e as receitas tão diminutas perante os custos que o futuro do estádio é cada vez mais discutido. É referido também que apesar de até ao momento a Associação de Municípios Faro/Loulé e a direcção do Parque das Cidades estarem a disponibilizar o estádio e as áreas contíguas para a realização de grandes eventos, o número de eventos não consegue dar o alívio financeiro desejado.

As autarquias de Loulé e Faro contraíram, em 2002, um empréstimo de 17 milhões de euros, por um prazo de 20 anos, para financiar a construção do Estádio Algarve e infraestruturas conexas para receber jogos. A empresa municipal que gere o estádio teve um prejuízo de 939 mil euros em 2007 e deverá fechar o ano de 2013 com um saldo negativo de 605 mil euros. Segundo fontes ouvidas pela Agência Lusa é totalmente certo que as receitas não suplementarão os custos, aquando da maturidade do empréstimo que será em 2022.

Até ao momento, os dois municípios já transferiram cerca de 40,6 milhões de euros para a empresa municipal que gere o estádio. Em 2007, a despesa total ascendeu a 3,9 milhões de euros, mais 500 mil euros do que em 2006. De acordo com documentação fornecida pelo presidente da câmara de Faro, José Apolinário, o custo final da obra atingiu os 38 milhões de euros. Já de acordo com uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas, só o estádio custou 46,1 milhões de euros aos contribuintes, mas globalmente, as obras representaram um investimento de 66,3 milhões de euros. 

Estádio Municipal de Aveiro

Custo: 63 milhões de euros
Manutenção: 9400€ por dia
(ponderou-se demolir devido aos custos elevados)


A forma de financiamento da construção do estádio e da sua manutenção é deveras polémica entre os edis da Câmara Municipal de Aveiro. As operações de financiamento do estádio, através de fundos imobiliários, custam aos aveirenses 9400 euros por dia, cerca de 3 milhões e meio de euros por ano.

Segundo o porta-voz do PSD na Assembleia Municipal de Aveiro, Manuel António Coimbra, todos os 78 mil munícipes estão a pagar 32 euros, [por ano], para este acordo. Gosto de olhar para estas medidas e ver quando é que estes valores podem passar a ser comportáveis. Já é mais do que tempo de acabarmos com estas operações financeiras que não cabiam na cabeça de muita gente que pudéssemos, passados 10 anos, estar a pagar.

Em 2009 várias vozes em Aveiro defenderam que a Câmara Municipal deveria equacionar a destruição, por implosão, do estádio, e a sua substituição por um menor. O líder concelhio do PSD, referiu que a implosão do estádio não é uma aberração completa, mas não quer dizer que a defenda, disse Ulisses Pereira, que faz depender essa "hipótese" da avaliação de "outras soluções" e de um referendo local aos aveirenses.

Estádio de Leiria

Custo: 90 milhões de €
Manutenção: 5000€ por dia
(União de Leiria "fugiu" para a Marinha Grande,
Câmara quer vender em hasta pública, mas ninguém compra)


Em Leiria, durante três anos, o contrato em apreço fez com que a empresa municipal pagasse à União de Leiria, em vez de receber. O estádio teve quatro milhões de euros de prejuízos no ano de 2005 e cerca de três milhões em 2006. A União de Leiria deixou mesmo de realizar jogos no estádio, tendo-se deslocado para o estádio da Marinha Grande. O diretor-geral da SAD da União de Leiria, referiu que o contrato de utilização do estádio de Leiria previa o pagamento de 17500 euros por jogo, mais 500 euros por cada treino extra.

Estádio de Braga

Custo: 161 milhões de €
Manutenção: 1 milhão de €/ano (pagos pela câmara)
O clube paga à câmara de renda: 6000€ por ano

Em Braga, o pagamento do empréstimo de 20 anos à banca representa cerca de 10% no orçamento anual da câmara, ou seja, dinheiro dos contribuintes. Segundo um vereador da cidade os encargos são "o equivalente à compra de um Ferrari". O sistema acordado define que o clube de Braga paga uma renda anual por utilização do estádio de 6000€ por ano, e a câmara gasta quase 1 milhões de euros por ano na manutenção do mesmo, em tratamento do relvado e das máquinas para corte de relva, ligações ADSL, equipamento informático, de vigilância e de monitorização da cobertura, entre outras.

Epílogo

No Brasil há uma série de manifestações de pessoas que defendem mais educação, melhor sistema de saúde, mais segurança e menos corrupção a propósito do Mundial que aí vem! Eu não me lembro deste tipo de eventos contestatários por cá em 2004. Estarei com amnésia? Afinal, discordo do meu amigo, e parafraseando Scolari: "e o burro sou eu?!"

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