As diferenças entre Amor, Paixão e Desejo


O Desejo é um mecanismo de continuação da espécie, a Paixão é um mecanismo de proteção da etnia contra a miscigenação e o Amor é um fenómeno do Homem que estimula o Humanismo.

Na Metafísica do Amor de Schopenhauer, o autor defende que o Amor, ao contrário do que referem Platão ou mesmo os românticos, não advém de qualquer espiritualidade intangível, mas dos desígnios primários da continuação da espécie, que estão plasmados nos indivíduos. Ou seja, à luz do conhecimento científico atual, aquilo que Schopenhauer definiu como Amor, poderia explicar-se pela psicologia evolutiva conjugada com o darwinismo. O indivíduo não se sente apaixonado por considerações do acaso ou de algo que controla, mas por considerações primárias. Na realidade Paixão será o termo mais correto, pois o Amor poderá, tal como Platão menciona, ter uma conotação filosófica. Interessa todavia gradar os diversos níveis de atração.

Preâmbulo

O Desejo é um fenómeno comum aos animais,
todavia apenas entre aqueles da mesma espécie,
tendo permitido que os hominídeos se multiplicassem.
A Paixão surgiu no Homo Sapiens há cerca de 100 mil
anos, tendo permitido que se espalhasse pelo globo.
Em Schopenhauer aquilo que o autor define como Amor tem como objetivo a otimização e eficiência máxima da espécie. O indivíduo apaixona-se por outro indivíduo, no seguimento de pulsões psíquicas primárias, que fazem aumentar as probabilidades de esse indivíduo copular e conceber com o indivíduo pelo qual sente a paixão. O indivíduo não se apercebe pois são mecanismo que hoje sabemos pertencerem ao sistema límbico, que ultrapassam a razão.

Como exemplo podemos imaginar um homem apaixonar-se por uma mulher jovem, voluptuosa, com lábios espessos, e com curvas delineadas, porque a espécie lhe dita, com elevada probabilidade, que as suas eventuais crias serão saudáveis e com elevadas probabilidades de sobrevivência; pois estatisticamente esses traços femininos são comuns nas mulheres mais férteis e saudáveis. Todavia é de esperar que associada à Paixão esteja também relacionado o Desejo. Enquanto a face toma um papel fundamental no mecanismo da Paixão, nos mecanismos do Desejo, as formas anatómicas tomam um papel muito mais importante.

Há todavia outros fenómenos da psicanálise e da psicologia evolutiva que lidam com a Paixão, que estão relacionados com a infância. O indivíduo apaixaonar-se-á por um outro indivíduo, que tenha alguns traços comuns com um dos seus progenitores, pois a criança associou ao progenitor a proteção e segurança, ou seja, o indivíduo tenderá a apaixonar-se por outro indivíduo da mesma família genética (com o devido afastamento para se evitar o ponto antagónico da consanguinidade), para se evitarem dispersões genéticas da etnia ou da tribo, sendo que a miscigenação enfraqueceria a adaptabilidade da etnia ao meio envolvente.

São estes aspetos que Schopenhauer e Freud deixam por resolver, que tentarei doravante desenvolver.

Desejo

O Desejo é o mais elementar e primário dos mecanismos de atração e evoca os instintos primários relacionados com a sexualidade. Tem como objetivo fundamental a continuação da espécie sem considerações étnicas ou filosóficas. O Desejo entre indivíduos de etnias diferentes é comum, assim mesmo como a atração sexual entre indivíduos de raças distintas. O Desejo, no seguimento da evolução, é eficaz entre indivíduos que sejam biologicamente semelhantes até ao ponto em que a conceção é possível. Os homens não sentem desejo sexual por primatas, nem vice-versa, porque simplesmente essa união sexual é improfícua. Mas desejos sexuais entre indivíduos de raças diferentes dentro do Homo Sapiens, Homem moderno, são extremamente comuns, pois na eventualidade da existência de cópula, a fertilidade acontece com elevadas probabilidades.

A parábola popular da ilha deserta é um ícone simbólico do Desejo. Pergunta-se a um indivíduo qualquer, se na eventualidade de se encontrar numa ilha deserta com um elemento do sexo oposto, pessoa essa pela qual tem um enorme repúdio, se não se envolveria num relacionamento sexual. Essa parábola evoca assim, os instintos mais primários do Desejo, pois numa ilha deserta com apenas dois indivíduos, a espécie, no "desespero" da continuidade, impregna nos indivíduos pulsões primárias de índole sexual, que conseguem eventualmente suplantar quaisquer valores morais ou sociais. Na ilha deserta, sendo os dois indivíduos férteis e de sexos opostos, eventualmente, copula-se com quem se odeia ou com o inimigo, pois a espécie tende a suplantar os outros valores morais ou emocionais. Nesse caso hipotético, as pulsões sexuais tenderiam a aumentar gradualmente com o tempo.

O Desejo é assim primário e unicamente sexual. Consequentemente funcionam neste mecanismo de atração elementos unicamente relacionados com a fertilidade nas mulheres e a virilidade nos homens. Nas mulheres os sinais que despoletam os mecanismos do Desejo são logicamente a juventude, as mamas grandes, o rabo saliente, os lábios volumosos e a proporção adequada entre a cintura e as ancas. Nos homens eles são a musculatura, a agilidade e o porte corporal. A face dentro dos padrões considerados normais toma um papel pouco importante no Desejo, pois o objetivo primário deste mecanismo natural é tão-somente a continuidade da espécie através da procriação indiferenciada.

Paixão

A Paixão é um mecanismo que funciona com o intuito da proteção da etnia ou da raça. É o meio-termo entre o Desejo e o Amor. Na Paixão um dos fatores mais importantes para a atração é a face e as características psicológicas do indivíduo. Um indivíduo tenderá a apaixonar-se por outro que tenha semelhanças dissimuladas, anatómicas ou psíquicas, com os seus progenitores. Na infância o bebé associa instintivamente proteção ao seu progenitor e Freud explica-nos que no complexo de Édipo o filho luta constantemente com o pai, para que possa conceber com a mãe. O processo contrário existe com o complexo de Electra. Esse adulto guardará no inconsciente uma atração passional por um indivíduo que tenha traços faciais e comportamentos, semelhantes com um dos seus progenitores ou com os da sua ama. Os traços faciais do progenitor são importantes pois são aqueles que o bebé observa com maior frequência nos seus primeiros anos de vida. Após a fase genital, cerca dos 12 anos, e após a sexualidade ter tomado um dos dois caminhos da maturidade, o indivíduo apaixonar-se-á por alguém que tenha traços faciais comuns com um dos seus progenitores ou de quem o cuidou na infância. Este mecanismo passional funciona ao nível do subconsciente.

A Paixão tem assim como função essencial proteger a etnia e evitar a miscigenação. Uma mulher nórdica, estatística e empiricamente, tende a não se apaixonar por um indivíduo de etnia africana, podendo todavia sentir Desejo ou Amor. O processo inverso também me parece ser válido. À medida que o Homo Sapiens foi evoluindo desde há cerca de duzentos mil anos, tendo suplantado outros hominídeos, foi criando características comuns que se adaptaram a uma certa região do globo, mormente a temperatura ou o clima. Esses fenómenos climáticos moldaram a anatomia dos homens, criando por conseguinte as diferentes raças e etnias. Mas à medida que as diferentes etnias iam vivendo mais ou menos pacificamente, ou seja, sem recurso à exterminação das outras etnias ou raças, como fez o Homo Sapiens a outros hominídeos como o Homem de Neandertal, foi necessário recorrer a mecanismos que pudessem, dentro do Homo Sapiens, preservar a etnia, para que esta não perdesse as características físicas comuns que lhe permitiam sobreviver e adaptar-se a uma determinada região do globo com um certo clima. Um africano há 100 mil anos não se adaptaria bem a um clima boreal, da mesma forma que um boreal não conseguiria sobreviver facilmente num clima africano.

A Paixão ao evitar a miscigenação, permitiu que as etnias preservassem os traços anatómicos e psíquicos comuns, que os tornam aptos para habitar uma certa região do globo, região essa com um certo clima. Um africano tem a pele negra por adaptação a uma elevada exposição ao sol. Um nórdico por certo, há 100 mil anos, morreria se tivesse que habitar em África, porque contrairia diversas patologias de pele, num tempo em que ainda nem havia indumentária. O caso inverso também é verdadeiro, pois o défice de luz solar provocaria falta de vitaminas a um africano que tivesse que habitar há cem mil anos numa região mais a norte do globo. Os olhos ligeiramente esticados e a estatura mais baixa, são também mecanismos de adaptação dos povos sino-tibetanos. Os olhos esticados permitem uma maior proteção visual contra ventos gélidos, sendo que esses povos têm origem no Tibete. O mesmo fenómeno acontece para os povos esquimós ou para os mongóis, de etnias diferentes.

A Paixão serviu então para proteger a etnia contra ataques genéticos exógenos, aumentando assim as probabilidades de a etnia continuar a manter os traços anatómicos e psíquicos que a fez estar adaptada a um certa região do globo. Por isso dos fatores anatómicos que toma um papel mais importante no mecanismo da Paixão é a face, face essa que tem elevados traços hereditários, de entre os quais os olhos, o nariz, o cabelo ou a curvatura exterior das mandíbulas (oval ou quadrada) pois são traços identitários das linhagens étnicas ou familiares. Por outro lado as características psicológicas são também importantes para o mecanismo da Paixão, como a pro-atividade, a calma, a irreverência, a cultura, a sobriedade ou a sensibilidade. Na maioria das vezes são traços psicológicos que o subconsciente do indivíduo identifica num dos seus progenitores. O objetivo da Paixão ultrapassa assim a mera continuação da espécie, tarefa do Desejo. O seu objetivo primário foi permitir que o Homem, de forma perene, ocupasse com sucesso todas as regiões do globo. Na parábola bíblica do crescei e multiplicai-vos, poder-se-á dizer que o fator da multiplicação está no Desejo, mas o fator de crescimento alargado a todo o globo, estará sediado na Paixão. Como consequência da Paixão, surgiu a multiculturalidade e como prova empírica desta tese podemos atestar que os casamentos exogâmicos são uma minoria no universo matrimonial.

Amor

Um dos primeiros filósofos a escrever sobre o Amor, na forma como o concebo nestas gradações, foi Platão. Tendo a palavra hoje em dia uma interpretação muito ampla (fazer amor por exemplo), pode-se dizer todavia que o Amor é a forma mais humana de atração de dois indivíduos. O senso popular considera aceitável que se sinta amor pelos próprios pais, por algum amigo ou mesmo por Cristo ou alguma deidade. O Amor tende a não discriminar traços anatómicos, idade, género, orientação sexual, ou quaisquer opiniões sensatas, sapientes e tolerantes expressas no exercício da liberdade de expressão. Pode-se amar quem se discorda, alguém com uma idade totalmente distante da nossa, ou de uma raça ou etnia qualquer. O Amor é um mecanismo de atração filosófico totalmente desvinculado de qualquer conotação sexual ou natural. Sente-se Amor, por aquilo que é Belo.

O Belo em Platão é identificado com o Bem, a Verdade e a Perfeição, conceitos abstratos que apenas a Humanidade concebeu. O filósofo coloca ainda acima de todas as ideias o Bem, e refere que o que respeita o Bem é também Belo, inferindo-se que se sente Amor pelo Ser que pratica o Bem. E vai mais longe quando afirma que a finalidade de todos os seres é atingirem a Perfeição, ou seja, ser Belo é a finalidade dos seres humanos. Assim, o Amor, a atração filosófica, permitiu que as sociedades se desenvolvessem e se tornassem cada vez mais humanas, envoltas em valores civilizacionais. Sócrates, Platão, Aristóteles, Cristo, Maomé, Buda ou Gandhi, foram indivíduos pelos quais se nutriu Amor, devido às suas sabedorias e legados, tendo por conseguinte, moldado os comportamentos daqueles que por eles Amor nutriam. O mesmo fenómeno deturpado, dependendo da cultura e a época, aconteceu com os ícones ou ditadores, como Estaline, Hitler, Mussolini ou os líderes da Coreia do Norte.

O Amor tem assim a função de moldar a consciência dos indivíduos em sociedade para que o Homem, em geral, se torne mais Humano e por conseguinte possa singrar e progredir no seu desenvolvimento civilizacional, podendo assim viver no globo em harmonia. Os amados moldarão as consciências do futuro, os não-amados, por muita Paixão ou Desejo que por eles se sinta, serão esquecidos com o passar das gerações.

Epílogo

O Desejo foi um mecanismo da mera continuação da espécie, a Paixão foi um mecanismo que permitiu que a espécie se espalhasse pelo mundo, e o Amor é um fenómeno que o Homem criou para estimular o Humanismo. Numa relação do dia-a-dia, a atração que alguém sente por outro, é tão-somente uma ponderação de cada um destes três fatores, tendo em conta a multitude de possíveis combinações. As relações baseadas no Desejo tendem a ser mais intensas, mas menos duradouras, que as relações baseadas no Amor. A Paixão estará no meio-termo.

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