Acordo Ortográfico de 1990


Quero apenas alertar que a partir de 2015, o período de transição do Acordo Ortográfico (AO) de 1990 finda, o que significa que quem escrever à luz do AO1945 (ou seja, não respeitando o AO1990) estará a grafar incorretamente as palavras. Claro que pode continuar a fazê-lo, não é ilegal, Fernando Pessoa até à sua morte em 1935 sempre escreveu não respeitando o Acordo Ortográfico de 1911, aquele AO que alterou termos como "sciencia", "prohibido" ou "collocar".

Enquanto funcionário público elaborei um pequeno trabalho de investigação para o instituto para o qual trabalhava em parceria com um colega meu, por isso posso falar com algum conhecimento de causa. Mas simplificando o dilema é o seguinte: ou queremos que a nossa ortografia tenha uma raiz etimológica, como o Inglês; ou fonética, como o Italiano. Repare-se que em Inglês na palavra "woman", a alteração gráfica da última sílaba, altera a pronunciação da primeira. Já na palavra "though" a adição de um 't' no fim da palavra torna a pronunciação completamente distinta. Ora, este método torna a língua extremamente hermética e de difícil aprendizagem. Se o Inglês é hoje uma língua franca, pode ser por diversos fatores, o último dos quais relacionada com a língua em si e a sua ortografia, mas sim muito provavelmente com o facto de ser uma língua usada nos meios económicos internacionais e ter sido historicamente a língua oficial de vários países hegemónicos.

Alguns argumentos padrão de quem está contra o AO1990
  • quem está contra o AO diz que nos afastaremos das outras línguas latinas; contraexemplos: francês objet e castelhano objeto, escrito já sem ‘c’ e antes do AO em PT escrevia-se com ‘c’ | francês projet e castelhano proyecto | italiano oggetto e progetto, escrito já sem ‘c’ e antes do AO em PT escrevia-se com ‘c’ | português vitória, que antes do AO já se escrevia sem 'c', e francês victoire, castelhano victoria, e italiano vittoria
  • diz-se que o ‘c’ e o ‘p’ antes da consoante abre as vogais como em “acto”; contraexemplos: vogal aberta: corar, padeiro, oblação, pregar; abrimos a vogal e não existe nenhum ‘c’ nem nenhum ‘p’ | actual, actualidade, exactidão, tactear; antes do AO, colocávamos o ‘c’ e nunca abríamos a vogal.
  • diz-se que no AO vão haver incongruências entre palavras da mesma família como Egito e Egípcio, Apocalipse e Apocalítico; contraexemplos: antes do AO já se escrevia: assunção e assumptivo, cativo e captor e captura, dicionário e dicção, noturno e noctívago
De referir ainda que as diferenças que hoje assistimos na grafia das duas variantes da língua portuguesa, se devem a uma reforma unilateral que Portugal fez em 1911 sem consultar o Brasil, após a implantação da República. Os republicanos quiseram, tornando a ortografia mais fonética, eliminar o elevado nível de analfabetismo que existia em Portugal na altura. As alterações da grafia na variante europeia da língua portuguesa, à luz do AO1990, representam 1,6% do vocabulário. Estou em crer também, que com a era digital e ganhar cada vez mais adeptos, o AO1990 tornará as duas variantes da ortografia dos dois lados do Atlântico, muito mais legíveis para todos os falantes da língua de Camões. Vede por exemplo o caso da versão lusófona da Wikipédia, onde por questões de diferendos ortográficos, se chegou a ponderar ter duas versões na Wikipédia, uma Brasileira e outra Portuguesa!

O AO1990 já foi adotado por diversos jornais, canais de televisão e pela administração pública portuguesa.

2 comentários:

  1. "oggetto e progetto" não são bons contraexemplos, porque os italianos, para substituir a consoante muda que tiraram, passaram a dobrar a que se lhe segue. Escreve-se oggetto, com dois g e dois t, precisamente porque antes havia um b onde está o primeiro g e um c onde está o primeiro t.
    Escrever que "no AO vão haver incongruências" não tem nada a ver com o AO, é próprio de um analfabeto, que se devia abster de dar palpites sobre a língua portuguesa, matéria que não domina minimamente.

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    1. Tirando a parte da ofensa pessoal, não foram os italianos que passaram a escrever uomo para Homem e avere para haver? Não deve haver língua neo-latina onde a fonética mais se aproxima com a ortografia, do que no Italiano.

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