O cancro para a economia das grandes superfícies!



Não me apraz de todo o ideário mercantilista do Eng. Belmiro de Azevedo, nem pactuo com a publicidade com a qual não me identifico. A Sonae, através do Continente e das grandes superfícies comerciais como os centros comerciais Colombo ou Vasco da Gama, foram dos principais responsáveis da tragédia económica e de mobilidade a que chegou Portugal.

Quando o Colombo foi inaugurado, diziam as tias de Cascais e as pitas frívolas em idade de ir ao castigo: “Uau, já temos o maior centro comercial da Europa e talvez até do mundo! Portugal floresce!”. Eu como jovem ignorante e melancólico pensava que se o Dr. Jorge Sampaio, advogado, mação, homem nobre e autarca de Lisboa, considerava um bom investimento para a cidade, eu, mero incauto adolescente só podia concordar. Pois hoje, o Colombo e o Vasco da Gama (não os navegadores) representam a tragédia da economia portuguesa.

Os salários pagos aos funcionários nesse tipo de espaços comerciais são sempre a tanger o mínimo. Não há direito a domingos nem feriados e trabalha-se por turnos, saindo-se na maior parte dos casos depois da uma da manhã. Estes funcionários são deveras explorados, mal pagos, normalmente imigrantes que trabalham na restauração e que se sujeitam a tudo. Parte da faturação das lojas é para a Sonae. As lojas, normalmente são grandes cadeias internacionais franchisadas, que bombardeiam o telespetador e o transeunte com publicidade agressiva que custa milhões, a qual o comerciante de rua nunca consegue alcançar. Em termos de eficiência energética estes grandes centros comerciais são uns abortos energéticos consumindo energia elétrica para iluminação, máquinas e climatização de forma brutalmente irracional. Depois, estes centros nevrálgicos do consumo onde se reúnem os pagãos nos domingos de chuva, definham completamente o comércio local que os envolve. O comerciante local, que gere a sua economia local, perde completamente a capacidade de concorrer contra estes gigantes, que com stocks enormes e com compras de unidades aos milhares, conseguem ter preços apenas ligeiramente mais competitivos.

Colombo, centro nevrálgico na cidade!
Do ponto de vista da mobilidade são outros cancros. Quantos que conheço que vão ao Vasco da Gama comprar pão! No bairro onde moro, feito em 2007 ainda antes da crise, praticamente não há comércio local. Quase todas as lojas estão vazias, por alugar ou por ocupar. No bairro enorme onde moro, onde devem morar cerca de 1000 pessoas, há apenas dois cafés e um cabeleireiro porque a 5 km está o centro comercial Vasco da Gama, e como quase toda a gente tem carro, é mais “in” e é mais “cool” ir abanar o cu para o Vasco da Gama, como se alguém que lá vagueia soubesse em que ano descobriu Vasco da Gama a Índia, ou em que cantos Camões eleva o navegador, ou mesmo em que terra do Alentejo o Vasco nasceu. “É fixe ir ao Vasco” dizem as pitas frívolas depois de verem os morangos com açúcar!
 
Estes grandes centros comerciais, que normalmente estão dotados de parques de estacionamento gigantescos, representam a tragédia da mobilidade. As pessoas em vez de andarem cinco minutos a pé para ir ao pão no vizinho da frente, metem-se no carro e vão numa micro viagem de carro até um centro comercial, onde se pode estacionar, e onde podem comprar pão por menos um cêntimo no Continente, do que comprariam no comerciante local. Por seu lado, o Continente e as grandes superfícies, assentam numa lógica mercantilista de quase imposição de preços aos produtores, com prazos de pagamento abismais, onde o Eng. Belmiro “Mete-medo” é quem dita quanto vai pagar e quando vai pagar!

Antigamente, as pessoas reuniam-se nas praças, nos mercados, onde os produtores locais tinham as suas bancas, os transeuntes andavam a pé pelas urbes de forma tranquila. Hoje, a rua é um local inóspito e inseguro, e não é por causa dos gangues de luso-africanos bem dotados entre as pernas, que violam as meninas do Estoril, é sim por causa dos atropelamentos e do desrespeito que há pelo peão, pois só em 2011 morreram 118 pessoas atropeladas.
 
E o que é mais estranho, é que Portugal tem condições climatéricas amenas, para se fazer negócio local e ao ar livre. Para quê estruturas como o Colombo em dias amenos e agradáveis na Primavera ou no Outono? Na Holanda, com clima muito mais inóspito os centros comerciais foram proibidos nos arredores das cidades, já desde há mais de 20 anos. Só na zona metropolitana de Lisboa, já conto o Vasco da Gama, o Colombo, o Dolce Vita, o Loures Shopping, o Olivais Shopping, o Odivelas Parque, o Almada Fórum, o Cascais Shopping, o Fórum Montijo, entre outros que agora não me lembro. Devemos ser dos países do mundo com mais centros comerciais, esses centros nevrálgicos, quais buracos negros que em vez de sugarem massa através da gravidade, sugam capital de forma avassaladora num raio de 10km, destruindo e arrasando toda uma economia local de proximidade.
 
Se eu perguntar a alguém, como é que se vai para o Colombo, a primeira resposta é: “segunda circular!”. Se perguntar a alguém como vou para o Almada Fórum? “Ponte 25 de abril! E para o Loures Shopping? “Túnel do Grilo”! E para o Dolce Vita? Vais pela CRIL! E para o Freeport? Vais pela ponte Vasco da Gama! Ou seja, toda esta sede irracional pelos centros comerciais, num país com clima ameno e onde morrem pessoas com fartura por AVC por não andarem a pé, e onde ¼ das importações são carros e combustíveis, está inteiramente ligada à questão também irracional da mobilidade automóvel e à nossa elevadíssima taxa de motorização. As praças da idade Média, centros nevrálgicos onde as pessoas conviviam e coabitavam, transformaram-se nos covis do Eng. Belmiro Mete-medo.

Faça este exercício que tentei fazer um dia: Entre no Colombo sem carteira nem dinheiro no bolso, e verá que uma frustração e uma infelicidade irracional atraverssar-lhe-á a espinha, pois nesse preciso momento, transformou-se num indigente!

PS: Apesar de usar o Continente online e considerar ser um bom serviço no paradigma da mobilidade, sempre que posso faço compras no Minipreço, pois aposta numa lógica de proximidade.

2 comentários:

  1. Li com atenção todo este Artigo de dominante crítica economicista. São verdadeiras algumas constatações nele registadas todavia considero pertinente uma reflexão de dominante positiva, isto é, registando igualmente os aspectos valorizantes que estas «cidadelas» poderão conter: apresentação de produtos no imediato e mais "acessíveis" do que nos locais tradicionais: ganha-se muito tempo e, quiçá, dinheiro gerindo bem a procura; oportunidades benéficas de encontros humanos inter-sociais e inter-culturais, além de artísticos e de lazer;
    ocupação esporádica, em locais agradáveis, com possibilidade de produção mais qualificada, etc.
    Com isto, quero dizer que para além do "vício excessivo" sempre à porta, como em qualquer lugar humano cosmopolita, há que retirar ilações racionais e criativas tendentes à conquista de uma qualidade de vida superior. Caro João, um abraço do poetAmigo Frassino Machado

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  2. Caro amigo

    Podem fomentar-se muitos eventos culturais e artísticos ao ar livre, em praças ou jardins, e Portugal tem clima propício para o fazermos. E engana-se, por norma, estas "cidadelas" não têm variedade na oferta que nos providenciam. Dou-lhe um exemplo: no Vasco da Gama NÃO HÁ uma drogaria, NÃO HÁ uma loja de bricolage, NÃO HÁ uma loja de tapeçaria, NÃO HÁ uma loja de ferragens, NÃO HÁ uma pastelaria fabrico próprio, porque o que é tradicional e autóctone está a diluir-se em grandes cadeias internacionais, normalmente no campo da moda ou do fast-food!

    A Baixa de Lisboa, essa sim, é um local de eleição para ir às compras, pois não é necessário suster proxenetas, não assenta no paradigma do carro, pode encontrar-se com quem quiser e fazer das suas ruas locais de encontro, é ao ar livre podendo apreciar a natureza nos dias amenos e beneficia a economia local e de proximidade.

    Por isso afirmo-o, o paradigma das "cidadelas" do Azevedo são a tragédia económica para Portugal
    Abraços

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